São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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CINEMA

O argentino Pablo César fala sobre o seu filme autobiográfico, apresentado hoje na 28º Mostra Internacional de SP

Diretor revê a morte do pai em "Sangre"

Divulgação
Cena do longa "Sangre", dirigido pelo argentino Pablo César


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma mãe e seus dois filhos, um pai morto, cicatrizes, culpas, medos, buscas. Em cima desse argumento se constrói "Sangre", sexto filme do cineasta argentino Pablo César, 42 anos. Quase um veterano da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo-é a quarta vez que um filme seu é apresentado no evento-, o cineasta diz ter feito desta vez um trabalho mais narrativo que seus anteriores, além de ser autobiográfico.
A mãe não aceita conversar sobre a misteriosa morte do pai, atropelado por um trem 25 anos antes. O filho mais velho tenta entender o acontecido rodando um filme que trata exatamente da história de um pai morto há anos e de um filho que tenta compreender o que aconteceu. O filme, que será exibido hoje às 14h50, no Cineclube DirecTV, traz na bagagem o prêmio de melhor atriz no Festival de Amiens (França).
Leia abaixo trechos da entrevista que César, que se diz "apaixonado por Glauber Rocha", concedeu à Folha, de Buenos Aires.
 

Folha - Você disse, quando "Sangre" estreou na Argentina, em dezembro, que é um filme distinto de seus trabalhos anteriores, mais linear, com uma história mais clara.
Pablo César -
Meus filmes anteriores eram mais obscuros. Dessa vez, trabalhei com uma história que começa, se desenvolve e termina. Quando realizei "Sangre", o trabalho se constituiu primeiro em transformar em roteiro situações que vivi durante minha infância e adolescência.

Folha - Então há algo de autobiográfico nessa história?
César -
É autobiográfico. Fazê-lo foi uma decisão que tomei junto a meu irmão Mike César [produtor do filme]. Pensamos que poderia interessar a muita gente, especialmente por tratar de coisas que se ocultam nas famílias e como se vive com esse algo escondido e o sofrimento que isso pode originar.

Folha - "Sangre" é um filme de muitas pausas, que explora muito o plano-seqüência...
César -
O filme se desenvolve por meio de planos-seqüências, com exceção de três momentos específicos. Gosto do recurso e considerei ideal para o filme. A dor e a alegria aparecem em "Sangre" principalmente por meio do olhar.

Folha - E isso foi explorado em ensaios ou você deu apenas o tom do que desejava aos atores?
César -
Os ensaios feitos com os atores duraram três meses. Trabalhei a emoção das situações especialmente no olhar e deixei quase estática a parte da boca dos atores, como uma expressão de uma parte da sociedade que emudeceu na época da ditadura e tudo falava por meio do olhar.

Folha - Já esteve algumas vezes no Brasil e essa é a quarta vez que um filme seu está na Mostra. Isso o aproximou do cinema brasileiro?
César -
Não conheço o cinema brasileiro o suficiente para emitir opiniões. Mas não posso deixar de dizer que sou apaixonado por Glauber Rocha [1939-1981]. É um dos diretores mais importantes da história do cinema mundial, indiscutivelmente brilhante.

Folha - E seu trabalho como professor na Universidade de Cinema de Buenos Aires?
César -
Além de meu trabalho na universidade, comecei, há cerca de um mês, a dar aulas de cinema e vídeo para jovens carentes.

Folha - Também começou cedo?
César -
Sempre fui amante da imagem. Fiz meu primeiro curta aos 13 anos. Aos 20, realizei o primeiro longa, em super-8, com temas parecidos com os de "Sangre", os conflitos familiares, o pai ausente, a solidão na família.


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