São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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EXPOSIÇÃO

"Salva Vidas", da artista Edilaine Cunha, leva barco ao teto da sala

Obra propõe mergulho ao público

DA REPORTAGEM LOCAL

A instalação "Salva Vidas", de Edilaine Cunha, 31, em exibição no projeto Sítio da produtora cultural Base7, propõe ao observador um mergulho.
No teto da pequena sala pintada de branco, o casco de um barco (também branco) flutua sobre as cabeças, "submergindo" o público dentro do espaço.
"A continuidade entre intervenção e espaço expositivo, e o fato de só nos ser dado a ver o fundo do barco, solicita que realizemos um exercício de reconstrução do vazio, das referências excluídas, através do qual é possível imaginar o cubo branco como se estivéssemos submersos", escreve na apresentação a crítica de artes Luisa Duarte.
"A obra lida com a idéia do transporte, no sentido poético e metafísico. É também uma analogia com a arte, que tem o poder de levar as pessoas para outros lugares", diz a artista.
Para isso, Edilaine escolheu um modelo que sintetiza esse símbolo. "Procurei o barco mais simples que pode ser usado num resgate. Reduzi os elementos até o que pode ser entendido por todo mundo", explica.
A idéia de "barco básico" de Edilaine abre espaço para que o público faça sua própria leitura. "Algumas pessoas me dizem que se sentiram afogadas, outras como um peixe ou outra forma de vida. Imagino também que pessoas altas tenham uma sensação de claustrofobia."
A presença do espectador e a intervenção arquitetônica são duas variáveis recorrentes na obra de Edilaine.
No ano passado, a artista exibiu, na galeria Vermelho, "Vox". Composta de um vidro sobreposto a foto de um microfone, a obra se completava com o reflexo do espectador, que se encaixava na imagem.
Em exposição realizada recentemente na mesma galeria, Edilaine pedia aos visitantes que colocassem para tocar em uma vitrola um disco de vinil branco.
Silêncio era o que se ouvia em todas as faixas do álbum.
Em 1999, ela montou a instalação "Túnel", no Paço das Artes, na qual uma parede perfurada criava a ilusão de profundidade. Em 97, a escultura "Corredor", na qual seis placas de vidro criavam a sensação de profundidade, dava indícios dessa pesquisa.
"Quando eu penso o espaço arquitetônico como matéria-prima, imagino as paredes e o vazio como o contrário de uma escultura, na qual você dá a forma a argila ou um pedaço de madeira, por exemplo. Arranco de um vazio uma forma, que brota da arquitetura, da casca das paredes", afirma Edilaine.
"Salva Vidas" encerra a série deste ano do projeto, que recebeu, na sala de entrada da produtora Base7, intervenções criadas especificamente para o espaço, comentadas por jovens críticos.
Lia Chaia, Fabiano Marques e Cris Bierrenbach foram os outros participantes.
(TEREZA NOVAES)


SALVA VIDAS, De Edilaine Cunha. Onde: Base7 (r. Cônego Eugênio Leite, 639, tel. 3088-4530). Seg. a sex.: das 10h às 18h. Até 15/12. Grátis.

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