São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2002

Próximo Texto | Índice

TEATRO

ESTRÉIA

Montagem de Henrique Rodovalho, baseada no conto "A Terceira Margem do Rio", será encenada no Sesc Belenzinho

Guimarães Rosa recebe nova adaptação

Guga Melgar/Folha Imagem
O ator Guido Campos Correa em cena "A Terceira do Rio", que terá oito apresentações


VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O diretor Antunes Filho ("A Hora e a Vez de Augusto Matraga", 1987) e o grupo paraibano Piollin ("Vau da Sarapalha", 1992) constituem exemplos da transposição de textos de João Guimarães Rosa para o palco.
"A Terceira Margem do Rio", monólogo interpretado por Guido Campos Correa e dirigido por Henrique Rodovalho, o coreógrafo da Cia. de Dança Quasar, é mais uma adaptação cênica da literatura de Rosa (1908-1967).
O espetáculo, que faz oito apresentações no Sesc Belenzinho a partir de hoje, é baseado no conto homônimo do escritor mineiro.
Narra a história de um sertanejo, "homem de tristes palavras", na voz do próprio, que passa a vida à espera do pai. Na infância, ele o viu partir numa canoa, em direção às águas.
Um trecho: "O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele aguentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos -sem fazer conta do se-ir do viver".
Correa convidou o amigo de adolescência Henrique Rodovalho para assinar sua primeira -e até agora única- montagem teatral, que estreou em 95. Os dois, como toda a equipe do espetáculo, são de Goiás.
Em mais de seis anos, "A Terceira Margem do Rio" colheu prêmios em festivais do Brasil e do exterior (fez apenas duas sessões em São Paulo, em 2000).
Segundo Correa, a junção do movimento (premissa da dança) e da palavra (do teatro) ajudam a perscrutar a obra. "Contudo, não é dança-teatro ou teatro físico, é teatro", tenta desmistificar o ator, que foi preparado corporalmente por Hamilton José Amorim.
"Na pesquisa, passamos até por Shakespeare para percorrer os descaminhos existenciais de Guimarães Rosa, mas depois retornamos ao conto, à zona pela qual o espetáculo envereda", diz Correa.
Suas falas, afirma o ator, algumas "em off", mantêm "as palavras sábias" do escritor.
Na concepção de Rodovalho, 37, o pai do conto encontra-se na platéia, para a qual o sertanejo mira seu horizonte.
O palco inclinado (cenografia de Shell Júnior) remete aos limites e "deslimites" da história.
A trilha original é de Gennyson Ponce, que procura casar a música incidental com a construção (e descontração) do verbo.


A TERCEIRA MARGEM DO RIO - De: João Guimarães Rosa. Direção: Henrique Rodovalho. Onde: Sesc Belenzinho -°galpão do meio (av. Álvaro Ramos, 991, tel. 6605.8143). Quando: estréia hoje, às 20h; sáb. e dom., às 20h. R$ 15. Até 24/2.


Próximo Texto: "Medéia": Carnavalização de Antunes deu lugar à aridez da tragédia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.