LENISE PINHEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entender e transformar contradições em conceitos pode ter mutilado talentos, mas não foi o caso de Gerald Thomas.
Atormentado pelos estilhaços recentes lançados pelo terrorismo, diz não saber o que diferencia um ótimo ator de um ator genial, e isso não faz diferença. O fato é que a Cia. Pragma, nome provisório, levanta, sacode a fumaça e dá a volta por cima, na nova montagem em cartaz no Sesc Pompéia.
"Deus Ex-Machina" autoriza o espectador a sentir-se confortável diante dos fracassos da atualidade. Considera ser factível a impotência dos super-heróis, derrubando limites entre palco e coxia, abrindo-se para a platéia com o mesmo rigor técnico, só que muito à vontade.
Fragmentos de cenas de montagens passadas reaparecem, brindando aos que já percorreram as trilhas geraldianas e também aos que vão chegar, divertindo através do tom autobiográfico.
A nova cia. mudou a cara do teatro de Gerald, que parecia imutável, inatingível. Hoje tudo ficou simples, mais rico pela fraqueza. Franco? Aí já é pedir demais. Farsesco, eu diria.
Encenou com Fabiana Guglielmetti um rascunho de acertos, seja no tom, nos tempos e no poder da presença da atriz, que se dá ao luxo de economizar em trejeitos e expressões faciais, flechando o público deliciosamente.
Com entusiasmo, vigor e humor, inauguram uma nova sala de espetáculos, que possivelmente venha abrigar essa constelação nômade.
Como num jogo ardiloso, é possível lançar mão de truques. Thomas estimula a imaginação com seus recursos cênicos. A luz dá ritmo, impressiona. O som vibra e pontua, traz dinamismo. O talento para as artes plásticas fica evidente, e os afrescos de Gerald Thomas tomaram proporções maiores. Agora estão praticamente tatuados nos corpos dos atores.
Quem já se queixou da verborragia desmedida pode mudar de idéia e dar muita risada.