São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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CRÍTICA/"ACORDO QUEBRADO"

Belvaux faz melodrama sobre descompasso em relação amorosa

CRÍTICO DA FOLHA

História é uma palavra que não deveria existir no singular. Pode até ser a mesma, mas vai variar se for contada por um ou por outro, por alguém que conta a sua própria ou por alguém que conte a do outro. Por isso é que os dicionários deveriam substituir o verbete por "histórias".
Pelo menos é assim que entende o diretor belga Lucas Belvaux, que transformou a idéia em cinema na trilogia composta por "Em Fuga" e "Um Casal Admirável", já em cartaz, e por "Acordo Quebrado", que estreou na sexta.
A partir de um conjunto de seis personagens, os filmes puxam fios que se tornam cada um outra história ou a mesma já vista só que mostrada de outra forma, numa interpretação caleidoscópica dos encontros afetivos e sociais.
Em cada filme domina um gênero. O thriller para "Em Fuga", a comédia em "Um Casal Admirável" e o melodrama em "Acordo Quebrado". Sob os três, o diretor contrapõe os efeitos da perspectiva única, aquele defeito nefasto que tem cada indivíduo de só perceber o resto do mundo através de um ponto de vista: o seu.
"Acordo Quebrado" mergulha nas conseqüências desse desacordo dentro da relação amorosa, com o descompasso entre um policial e sua mulher viciada em morfina, duas realidades tão distintas quanto opostas. O diretor parte desse pressuposto para narrar de um modo que explora as possibilidades embutidas na linguagem do cinema.
Um dos recursos mais tradicionais na construção de cenas em filmes (e também na TV) é o chamado campo-contracampo. Trata-se daquele tipo de imagem em que se vê, num diálogo, por exemplo, um personagem durante uma fala e, depois, outro personagem enquanto ouve ou enquanto chega sua vez de falar.
"Acordo Quebrado" é construído quase inteiramente sobre essa contraposição. Cenas que nos filmes da trilogia são mostradas do ponto de vista contrário. Assim, num diálogo, invertem-se posições, e uma ação antes vista de fora é mostrada de dentro. Trata-se de mero virtuosismo formal? Depende de quem vê. (CSC)


Acordo Quebrado
Après la Vie
   
Direção:
Lucas Belvaux
Produção: França/Bélgica, 2002
Com: Dominique Blanc, Ornella Muti



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