|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA/"ACORDO QUEBRADO"
Belvaux faz melodrama sobre descompasso em relação amorosa
CRÍTICO DA FOLHA
História é uma palavra que
não deveria existir no singular. Pode até ser a mesma, mas vai
variar se for contada por um ou
por outro, por alguém que conta a
sua própria ou por alguém que
conte a do outro. Por isso é que os
dicionários deveriam substituir o
verbete por "histórias".
Pelo menos é assim que entende
o diretor belga Lucas Belvaux, que
transformou a idéia em cinema
na trilogia composta por "Em Fuga" e "Um Casal Admirável", já
em cartaz, e por "Acordo Quebrado", que estreou na sexta.
A partir de um conjunto de seis
personagens, os filmes puxam
fios que se tornam cada um outra
história ou a mesma já vista só
que mostrada de outra forma, numa interpretação caleidoscópica
dos encontros afetivos e sociais.
Em cada filme domina um gênero. O thriller para "Em Fuga", a
comédia em "Um Casal Admirável" e o melodrama em "Acordo
Quebrado". Sob os três, o diretor
contrapõe os efeitos da perspectiva única, aquele defeito nefasto
que tem cada indivíduo de só perceber o resto do mundo através de
um ponto de vista: o seu.
"Acordo Quebrado" mergulha
nas conseqüências desse desacordo dentro da relação amorosa,
com o descompasso entre um policial e sua mulher viciada em
morfina, duas realidades tão distintas quanto opostas. O diretor
parte desse pressuposto para narrar de um modo que explora as
possibilidades embutidas na linguagem do cinema.
Um dos recursos mais tradicionais na construção de cenas em
filmes (e também na TV) é o chamado campo-contracampo. Trata-se daquele tipo de imagem em
que se vê, num diálogo, por exemplo, um personagem durante
uma fala e, depois, outro personagem enquanto ouve ou enquanto
chega sua vez de falar.
"Acordo Quebrado" é construído quase inteiramente sobre essa
contraposição. Cenas que nos filmes da trilogia são mostradas do
ponto de vista contrário. Assim,
num diálogo, invertem-se posições, e uma ação antes vista de fora é mostrada de dentro. Trata-se
de mero virtuosismo formal? Depende de quem vê.
(CSC)
Acordo Quebrado
Après la Vie
Direção: Lucas Belvaux
Produção: França/Bélgica, 2002
Com: Dominique Blanc, Ornella Muti
Texto Anterior: Cinema: Ciclo de François Truffaut ensina a entender o que é ser moderno Próximo Texto: Crítica/"Terapia do Amor": Casal de gerações distintas é foco de filme que aborda a psicanálise Índice
|