São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

Próximo Texto | Índice

DANÇA

Mesmo com cortes de 60% no orçamento total do Centro Cultural SP, programação se mantém como reduto contemporâneo

Mostra olha para nova produção mineira

Divulgação
Cena da coreografia "Hipocampelefantocamelo e Brasilianas", da cia. Cos'é?, estudo a partir da obra do cineasta Humberto Mauro


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Pode-se dizer que o Centro Cultural São Paulo é um reduto da dança contemporânea paulista, ainda que a situação não seja ideal. Na gestão corrente, de Carlos Augusto Calil, os novos projetos -Braços e Pernas pela Cidade: Prêmio Estímulo em Dança, em segunda edição, e o Concurso Novos e Novíssimos Coreógrafos e Intérpretes- trazem ares distintos e mais democráticos.
E a programação já tradicional, com temporadas como as "Semanas de Dança" -que começam hoje- e o "Feminino na Dança" -em sua última semana-, se mantém, confirmando o papel de fórum privilegiado para a produção coreográfica contemporânea.
Apesar dos cortes de 60% do orçamento total da casa, anunciados na semana passada, Calil afirmou, em entrevista por telefone à Folha, que irá honrar os compromissos assumidos.
"Quando cheguei aqui, uma das poucas coisas estruturadas era a programação de dança, elaborada por Marcos Bragato", diz o diretor. O que havia, então, seguiu sendo mantido e foi feito um investimento na área, no sentido de "que a dança podia ser uma política estratégica da instituição. Percebi que no ambiente cultural paulistano, há um ano e meio, não havia uma instituição preocupada especificamente com dança. E havia, sim, uma enorme carência e demanda".
O CCSP criou, então, o Prêmio Estímulo: para a segunda edição, que estará em cena entre os dias 23 e 27 e de 30 de junho a 4 de julho, foram contemplados cinco projetos, com R$ 20 mil cada um; e também o Prêmio Novíssimos, com inscrições abertas até 1º/7: serão contemplados seis projetos, com prêmio de R$ 6.000 para cada um dos selecionados por uma comissão julgadora (diferentemente da programação anterior, com curadoria individual de Bragato, que também participa das comissões atuais).
O orçamento total do CCSP é de R$ 2 milhões. "Nós trabalhamos com nada. A dança tem um orçamento de R$ 223 mil [para o ano inteiro]. Na semana passada recebemos a notícia de corte de 60% do orçamento, mas o que já estava publicamente anunciado será cumprido. Os cortes não serão lineares, e sim proporcionais aos compromissos já assumidos."
Calil ressalta que não tem autonomia para resolver os eventuais atrasos nos pagamentos dos prêmios. "Atraso no pagamento não depende de nós. Se o CCSP fosse uma autarquia ou fundação, teria dinheiro próprio e pagaria diretamente. Como somos um órgão municipal, nos submetemos às dificuldades de caixa da prefeitura. Porém todos os compromissos nesta gestão têm de ser honrados, pela lei de responsabilidade pública. Essa é uma garantia legal", afirma ele.

Primeira semana
Para dar continuidade às "Semanas de Dança", o CCSP convidou três grupos mineiros a se apresentarem, oferecendo o espaço e a bilheteria. Mesmo com os parcos recursos, isso significa uma boa oportunidade de expor os trabalhos, na visão das diretoras Marjorie Quast, do Camaleão de Dança, e Marisa Monadjemi, do Meia Ponta.
A estréia, hoje, cabe a "Olhe Bem", do Camaleão, que esteve aqui pela última vez em 1987. O espetáculo aborda o cotidiano pelo olhar de dois criadores distintos. Na primeira parte, "Interferências nas Paisagens", do coreógrafo Tindaro Silvano, o gesto é solto e ritmado; enquanto na segunda, "Um Perdido, 4 Espécies" de Mário Nascimento, o movimento é articulado e pesado.
Na sexta-feira estréia "Hipocampelefantocamelo e Brasilianas", um estudo a partir da obra do cineasta Humberto Mauro, da cia. Cos'é? Teatro-Dança. Com concepção de Daniela Guimarães, o grupo trabalha na interface da dança com as artes plásticas. Juliana Samel interfere com grafismos projetados: "São palavras, ondas de rádio amador, legendas, enfim, histórias que permeiam essas imagens".
Para terminar a primeira semana, "Entre o Silêncio e a Palavra", da Meia Ponta Cia. de Dança, em sua primeira apresentação em São Paulo. Aborda o universo feminino, num contraponto entre cenas de vídeo e dança. O trabalho tem concepção e coreografia de Tuca Pinheiro e direção de Juliana Grillo e Marisa Monadjemi.
Mais adiante, vai se apresentar o Balé da Cidade de São Paulo, com "Liqueurs de Chair" (Licores de Carne), de Angelin Preljocaj. Em "Licores", sensualidade e automatismo são explorados com ironia, seja no corpo de cada um, seja na cena coletiva.
E a Cia. Nova Dança 4 trará "Palavra, a Poética do Movimento", com direção de Cristiane Paoli Quito e dramaturgia de Rubens Rewald. Aqui as linguagens da dança, da música e do texto se entrelaçam, num jogo arriscado de formas e conteúdos. Na mesma semana, a Cia. 2 do Balé da Cidade mostra o espetáculo "Lei de Nada", dirigido por Gabriel Castillo, que tematiza crises cotidianas.
Só o fato de o CCSP manter uma programação dessa natureza já é louvável. Não basta, como política cultural para a dança da cidade, mas movimenta positivamente o cenário.

SEMANAS DA DANÇA. Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611). Quando: de qua. a sáb., às 21h; e dom., às 20h. Quanto: R$ 4 e R$ 8 (grupos mineiros: de 2 a 6/6); grátis (BCSP: de 9 a 13/6); R$ 4 e R$ 8 (Nova Dança: de 16 a 20/6); grátis (BCSP Cia. 2: de 17 a 20/6). Programação completa em www.centrocultural.sp.gov.br.


Próximo Texto: Cinema: Festival gratuito no MIS revela influência turca na Alemanha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.