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"ARSÊNICO E ALFAZEMA"
Peça dirigida por Alexandre Reinecke tem Ana Lúcia Torres, Ary França e Barbara Paz no elenco
Fragilidade do elenco compromete montagem
Lenise Pinheiro - 9.ago.04/Folha Imagem
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Cena do espetáculo "Arsênico e Alfazema", texto de Joseph Kesselring, com direção de Alexandre Reinecke, em cartaz no CCBB |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"A rsênico e Alfazema" é a
avó do besteirol: estreando no fim dos anos 30 na Broadway, onde ficou décadas, é garantia de sucesso, inclusive ao passar
para o cinema, no clássico filme
de Frank Capra com Cary Grant.
A fórmula mistura fina ironia
com uma trama inverossímil, um
qüiproquó envolvendo um duplo
ocultamento de cadáveres, e reunindo os mais abjetos vilões: um
cientista louco, um sósia de Frankenstein, duas velhinhas assassinas e um crítico de teatro.
Cenas de impacto de melodrama se acumulam a clichês românticos, piadas metalingüísticas vão
pontuando a trama que segue à
risca as unidades realistas, o que,
sem exigir muito da platéia, é diversão na certa. Uma peça comercial por excelência, o que não quer
dizer que não exija apuro técnico.
Pelo contrário: sem uma inovação
de linguagem que puxe o foco, a
responsabilidade fica toda por
conta da cancha dos atores.
Ary França garante o espetáculo. Tirando piada até de sons guturais, fazendo seu cientista louco
ser abjeto até o enternecimento
da platéia, mantém o ritmo nos
eixos. Henrique Stroeter, após algumas pontas, cava um momento
impagável, quando seu policial
narra a peça que está escrevendo,
e as velhinhas hitchckockianas.
O diretor Alexandre Reinecke
deixa transparecer no entanto sua
falta de pulso ao deixar sem muitos recursos os atores menos auto-suficientes, a não ser por uma
trilha sonora muitas vezes excessiva, e um capricho de detalhes de
marcas que pesam em cenas que
deveriam fluir.
Flávio Faustinoni, no papel do
sobrinho que se crê Roosevelt, faz
com simpatia seu bordão, ao dar
ordem de ataque de cavalaria a cada vez que sobe a escada, mas
Bárbara Paz tem pouco mais que
um andar com trejeitos para se
apoiar, em uma performance
inexpressiva, no papel da noiva
do sobrinho crítico que acaba de
se casar e se vê abandonada nessa
incrível noite de núpcias.
Paulo Coronato, seu noivo, erra
o tempo em piadas importantes, e
Renato Caldas, embora caracterizado como Frankenstein, chega a
perder o foco para sua mão direita
crispada, o que tira muito da tensão que deveria ser criada por seu
personagem homicida.
Apesar da elegância dos figurinos e cenário, a peça poderia render mais. Em cartaz no Cultura
Artística, provavelmente será um
sucesso de público. O que não dispensa a cobrança de um maior
apuro técnico na interpretação.
Arsênico e Alfazema
Direção: Alexandre Reinecke
Com: Ana Lúcia Torres, Denise
Weinberg, Ary França e outros
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112,
tel. 3113-3651)
Quando: hoje, às 20h, e amanhã, às 19h
Quanto: R$ 15
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