São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

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"ARSÊNICO E ALFAZEMA"

Peça dirigida por Alexandre Reinecke tem Ana Lúcia Torres, Ary França e Barbara Paz no elenco

Fragilidade do elenco compromete montagem

Lenise Pinheiro - 9.ago.04/Folha Imagem
Cena do espetáculo "Arsênico e Alfazema", texto de Joseph Kesselring, com direção de Alexandre Reinecke, em cartaz no CCBB


SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"A rsênico e Alfazema" é a avó do besteirol: estreando no fim dos anos 30 na Broadway, onde ficou décadas, é garantia de sucesso, inclusive ao passar para o cinema, no clássico filme de Frank Capra com Cary Grant.
A fórmula mistura fina ironia com uma trama inverossímil, um qüiproquó envolvendo um duplo ocultamento de cadáveres, e reunindo os mais abjetos vilões: um cientista louco, um sósia de Frankenstein, duas velhinhas assassinas e um crítico de teatro.
Cenas de impacto de melodrama se acumulam a clichês românticos, piadas metalingüísticas vão pontuando a trama que segue à risca as unidades realistas, o que, sem exigir muito da platéia, é diversão na certa. Uma peça comercial por excelência, o que não quer dizer que não exija apuro técnico. Pelo contrário: sem uma inovação de linguagem que puxe o foco, a responsabilidade fica toda por conta da cancha dos atores.
Ary França garante o espetáculo. Tirando piada até de sons guturais, fazendo seu cientista louco ser abjeto até o enternecimento da platéia, mantém o ritmo nos eixos. Henrique Stroeter, após algumas pontas, cava um momento impagável, quando seu policial narra a peça que está escrevendo, e as velhinhas hitchckockianas.
O diretor Alexandre Reinecke deixa transparecer no entanto sua falta de pulso ao deixar sem muitos recursos os atores menos auto-suficientes, a não ser por uma trilha sonora muitas vezes excessiva, e um capricho de detalhes de marcas que pesam em cenas que deveriam fluir.
Flávio Faustinoni, no papel do sobrinho que se crê Roosevelt, faz com simpatia seu bordão, ao dar ordem de ataque de cavalaria a cada vez que sobe a escada, mas Bárbara Paz tem pouco mais que um andar com trejeitos para se apoiar, em uma performance inexpressiva, no papel da noiva do sobrinho crítico que acaba de se casar e se vê abandonada nessa incrível noite de núpcias.
Paulo Coronato, seu noivo, erra o tempo em piadas importantes, e Renato Caldas, embora caracterizado como Frankenstein, chega a perder o foco para sua mão direita crispada, o que tira muito da tensão que deveria ser criada por seu personagem homicida.
Apesar da elegância dos figurinos e cenário, a peça poderia render mais. Em cartaz no Cultura Artística, provavelmente será um sucesso de público. O que não dispensa a cobrança de um maior apuro técnico na interpretação.


Arsênico e Alfazema
  
Direção: Alexandre Reinecke
Com: Ana Lúcia Torres, Denise Weinberg, Ary França e outros
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quando: hoje, às 20h, e amanhã, às 19h
Quanto: R$ 15



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