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TEATRO
Inês Aranha encena no Ágora tragédia de Ésquilo
Peça "Sete contra Tebas" antecipa cenário de disputas pelo poder
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A sedução pelo poder está na gênese das tragédias. Isso não era
tão elementar há 2.500 anos,
quando a democracia venceu a tirania na Grécia.
Tido como "o pai das tragédias", por introduzir o diálogo e o
coro, o poeta Ésquilo cravou em
"Sete contra Tebas" mais um tento da desesperança característica
de seu teatro. É a história da disputa de governo por dois irmãos.
Eles vão à guerra, matam-se e levam de roldão os seguidores. A cidade é empapuçada de sangue
pois fora conduzida assim por seres gananciosos.
Sintomático que uma nova
montagem de "Sete" vá ao cartaz
hoje, véspera de eleições. "Os candidatos se digladiam, mas os contribuintes, os cidadãos, são sempre os últimos contemplados",
diz a atriz e bailarina Inês Aranha,
38, que assina o novo espetáculo
em temporada no Ágora. Ela diz
que a data da estréia foi escolhida
ao acaso. Com formação na Itália,
ela já foi dirigida por Roberto Bacci, Antunes Filho, Eduardo Tolentino de Araújo e Roberto Lage.
"Sete" resulta de dois anos de
trabalho da diretora com um conjunto de atores-criadores então
integrantes da recém-nascida cia.
Areópago. No palco, seis atrizes e
três atores passam o tempo todo
em cena. Aranha elege o coro como eixo do espetáculo. É a partir
dele que desponta Etéocles, que
governa Tebas e não quer largar o
cargo, rompendo acordo com o
irmão Polinices. Este arregimenta
um exército estrangeiro para tomar as sete portas da cidade, ao
lado de outros seis generais.
Na concepção de Aranha, o
enredo que culmina em terror é
apoiado na "partitura" de ações
físicas, ainda que sob a estrutura
narrativa. Não há, diz ela, cena da
guerra com tratamento cinematográfico. A opção é por uma simbologia "tribal", a condição animal dos protagonistas, com excertos africanos e indígenas presentes na cenografia e nos figurinos criados por Adriana Vaz.
O espetáculo partiu do texto traduzido pelo pesquisador Donaldo
Schüler. A dramaturgia ganhou
tratamento de Maucir Campanholi e de Inês Aranha.
Foi agregada a figura do rei
Creonte, com ênfase na passagem
em que o mensageiro comunica
que o corpo de Etéocles será enterrado como herói, enquanto o
de Polinices será expatriado.
Também foi pinçado trecho euripidiano de "As Fenícias", quando Jocasta discorre sobre a amaldiçoada sina familiar. Chave para
contextualizar o espectador: Etéocles e Polinices são filhos de Édipo, aquele que matou o pai, Laio,
depois que identificou na esposa,
Jocasta, a sua mãe. Tudo por contrariedades aos oráculos. Tudo
por contradições humanas na pólis de ontem e de hoje.
SETE CONTRA TEBAS. De: Ésquilo (525-456 a.C.). Tradução: Donaldo Schüler.
Direção: Inês Aranha. Iluminação:
Carmine D'Amore. Com: cia. Areópago
(Alessandra Esteves, Bia Toledo, Claudia
Campos, Gabriela Lois, Manfrini Fabretti,
Rene Ramos, Sun Ra, Tieza Tissi e
Venâncio Mortez). Quando: estréia hoje,
às 21h; sáb., às 21h; dom., às 20h. Onde:
teatro Ágora (r. Rui Barbosa, 672, tel.
3284-0290). Quanto: R$ 15. Até 12/12.
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