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O CINEMA DE CASSAVETES
"Glória" já foi independente
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
O cinema independente virou
um rótulo. O que antes era irreverência, improviso, inventividade e
descompromisso com as regras da
produção cinematográfica, hoje é a
obediência a regras.
O cinema concebido por John
Cassavetes não teria vez nos anos
90. O bom e velho John costumava
trabalhar como ator -em filmes
tão diversos como "O Bebê de Rosemary" e "Os Assassinos", com
Lee Marvin. Eram papéis inexpressivos que garantiam dinheiro para
viabilizar a produção de seus longas. Como faria isso hoje, em que a
estampa e a propaganda ditam
quem chega ao estrelato ou não?
Por isso, "Gloria", de 1980, é tão
bom. Ali está Gena Rowlands, com
sua beleza já anunciando as rugas e
um certo cansaço nas aventuras
que o "movie action" obriga ao
ator/personagem. A câmera não
treme, mas os cortes demonstram
um "descuido" imperdoável nesse
cinema que obriga as pernas de
Sharon Stone a chegarem à retina
do público. As de Gena, ao contrário, se escondem no pesado tecido
das saias escuras.
Daí os créditos finais esconderem os protagonistas, sepultando-os para uma era que não mostraria
a reflexão, mas a velocidade. Cassavetes prenunciou o fim de seu cinema tão idealista e independente.
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