São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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O CINEMA DE CASSAVETES
"Glória" já foi independente

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

O cinema independente virou um rótulo. O que antes era irreverência, improviso, inventividade e descompromisso com as regras da produção cinematográfica, hoje é a obediência a regras.
O cinema concebido por John Cassavetes não teria vez nos anos 90. O bom e velho John costumava trabalhar como ator -em filmes tão diversos como "O Bebê de Rosemary" e "Os Assassinos", com Lee Marvin. Eram papéis inexpressivos que garantiam dinheiro para viabilizar a produção de seus longas. Como faria isso hoje, em que a estampa e a propaganda ditam quem chega ao estrelato ou não?
Por isso, "Gloria", de 1980, é tão bom. Ali está Gena Rowlands, com sua beleza já anunciando as rugas e um certo cansaço nas aventuras que o "movie action" obriga ao ator/personagem. A câmera não treme, mas os cortes demonstram um "descuido" imperdoável nesse cinema que obriga as pernas de Sharon Stone a chegarem à retina do público. As de Gena, ao contrário, se escondem no pesado tecido das saias escuras.
Daí os créditos finais esconderem os protagonistas, sepultando-os para uma era que não mostraria a reflexão, mas a velocidade. Cassavetes prenunciou o fim de seu cinema tão idealista e independente.


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