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"GLORIA"
Refilmagem existe em função de Sharon Stone
da Redação
Diante da hipótese de refilmar
"Glória" com Sharon Stone, Sidney Lumet optou por uma saída
inesperadamente modesta: fazer
um veículo para Sharon Stone.
Vêm daí as virtudes e as limitações
deste seu novo trabalho.
Fazer um veículo para Stone significa, em primeiro lugar, não mudar sua natureza. Antes de ser uma
boa atriz, Stone é uma mulher cuja
beleza coloca em risco sua carreira.
É talentosa demais para ser relegada a um papel meramente decorativo. E é bonita demais para fazer o
papel de uma "mulher normal" (o
que era o caso de Gena Rowlands, a
primeira e memorável Glória).
Daí Lumet ter trabalhado por um
"remake" de fidelidade quase canina ao filme feito por John Cassavetes em 1980. Pouca coisa se altera, essencialmente, na história.
Glória é a ex-namorada de um
gângster, constrangida pelas circunstâncias a "adotar" um menino
de sete anos, filho de um contador
que roubou um disquete com dados comprometedores.
O contador e a família são mortos. Meio a contragosto, Glória torna-se a protetora do garoto, remanescente do massacre, e fica marcada pelos gângsteres.
As mudanças mais sensíveis em
relação ao original dizem respeito
à cenografia e ao vestuário, ambos
adaptados agora à exuberância de
Sharon Stone. Mas, onde John
Cassavetes fizera um filme de atriz,
Lumet faz um filme de estrela. Ou
seja, a beleza do primeiro "Glória"
vinha da perfeita integração de Gena Rowlands ao mundo que a cercava. Nesta nova versão o mundo
gira em torno de Sharon Stone e
tem de se adaptar ao que ela é.
Com isso, Lumet descarta de cara
a possibilidade e a pretensão de rivalizar com o filme de Cassavetes.
Busca, em troca, oferecer um entretenimento agradável, honesto e
plausível. Nesse sentido, não há o
que reclamar: comparado com a
maior parte da ficção que chega de
Hollywood atualmente, "Glória" é
um filme mais sólido, que honra a
matriz de onde se originou. As mudanças feitas são pertinentes e o
novo roteiro
adapta-se bem
à imagem de
Stone (agora,
Gloria é um
protótipo de
loira-burra saída dos filmes
dos anos 30,
com a diferença de que não é
burra).
Ao mesmo
tempo, é por aí
que o filme se
esgota. Não é
preciso nem
mesmo mencionar a falta
de jeito de
Jean-Luke Figueroa, que faz
o menino.
O fato é que o
primeiro "Glória" prendia
nossa atenção
pela maneira
como Cassavetes construía
uma história
que parecia
nascer diante
de nossos
olhos. Era seu interesse e sua originalidade: as peças se encaixavam
com delicadeza, nenhuma chamava demasiadamente a atenção.
Aqui, ao contrário, tudo se move
em função de Stone. Por isso, o filme chega à tela pré-organizado.
Não cria a idéia de uma coisa real
que se torna espetáculo, como no
filme de Cassavetes, mas de um espetáculo concebido e desenvolvido como tal. O novo "Glória" é um
espetáculo digno, que se deixa
agradavelmente. Não mais do que
isso, mas também não menos. Um
entretenimento, como se diz. Não
é tão pouco assim.
(IA)
Avaliação:
Filme: Gloria
Produção: EUA, 1999
Direção: Sidney Lumet
Com: Sharon Stone
Quando: a partir de hoje, nas salas Astor,
Ipiranga 1 e circuito
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