São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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"GLORIA"
Refilmagem existe em função de Sharon Stone

da Redação

Diante da hipótese de refilmar "Glória" com Sharon Stone, Sidney Lumet optou por uma saída inesperadamente modesta: fazer um veículo para Sharon Stone. Vêm daí as virtudes e as limitações deste seu novo trabalho.
Fazer um veículo para Stone significa, em primeiro lugar, não mudar sua natureza. Antes de ser uma boa atriz, Stone é uma mulher cuja beleza coloca em risco sua carreira. É talentosa demais para ser relegada a um papel meramente decorativo. E é bonita demais para fazer o papel de uma "mulher normal" (o que era o caso de Gena Rowlands, a primeira e memorável Glória).
Daí Lumet ter trabalhado por um "remake" de fidelidade quase canina ao filme feito por John Cassavetes em 1980. Pouca coisa se altera, essencialmente, na história. Glória é a ex-namorada de um gângster, constrangida pelas circunstâncias a "adotar" um menino de sete anos, filho de um contador que roubou um disquete com dados comprometedores.
O contador e a família são mortos. Meio a contragosto, Glória torna-se a protetora do garoto, remanescente do massacre, e fica marcada pelos gângsteres.
As mudanças mais sensíveis em relação ao original dizem respeito à cenografia e ao vestuário, ambos adaptados agora à exuberância de Sharon Stone. Mas, onde John Cassavetes fizera um filme de atriz, Lumet faz um filme de estrela. Ou seja, a beleza do primeiro "Glória" vinha da perfeita integração de Gena Rowlands ao mundo que a cercava. Nesta nova versão o mundo gira em torno de Sharon Stone e tem de se adaptar ao que ela é.
Com isso, Lumet descarta de cara a possibilidade e a pretensão de rivalizar com o filme de Cassavetes. Busca, em troca, oferecer um entretenimento agradável, honesto e plausível. Nesse sentido, não há o que reclamar: comparado com a maior parte da ficção que chega de Hollywood atualmente, "Glória" é um filme mais sólido, que honra a matriz de onde se originou. As mudanças feitas são pertinentes e o novo roteiro adapta-se bem à imagem de Stone (agora, Gloria é um protótipo de loira-burra saída dos filmes dos anos 30, com a diferença de que não é burra).
Ao mesmo tempo, é por aí que o filme se esgota. Não é preciso nem mesmo mencionar a falta de jeito de Jean-Luke Figueroa, que faz o menino.
O fato é que o primeiro "Glória" prendia nossa atenção pela maneira como Cassavetes construía uma história que parecia nascer diante de nossos olhos. Era seu interesse e sua originalidade: as peças se encaixavam com delicadeza, nenhuma chamava demasiadamente a atenção.
Aqui, ao contrário, tudo se move em função de Stone. Por isso, o filme chega à tela pré-organizado. Não cria a idéia de uma coisa real que se torna espetáculo, como no filme de Cassavetes, mas de um espetáculo concebido e desenvolvido como tal. O novo "Glória" é um espetáculo digno, que se deixa agradavelmente. Não mais do que isso, mas também não menos. Um entretenimento, como se diz. Não é tão pouco assim. (IA)


Avaliação:



Filme: Gloria Produção: EUA, 1999 Direção: Sidney Lumet Com: Sharon Stone Quando: a partir de hoje, nas salas Astor, Ipiranga 1 e circuito


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