São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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Participantes criticam debates unilaterais

André Sarmento/Folha Imagem
Índio da tribo kayapó durante apresentação no Fórum Cultural Mundial, no Anhembi, em SP


JANAÍNA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Quando crescer, quero ser Gilberto Gil." Quem fala é A Plenitude Morena, codinome escolhido durante o Fórum Cultural Mundial pelo estudante e ator pernambucano Danillo Moreno, 24, um dos participantes da maratona de debates, encontros e manifestações artísticas que ocorre na cidade desde a semana passada e que termina amanhã, com uma série de eventos na avenida Paulista e nas unidades do Sesc.
"Adoro a negritude e a liberdade dele", explica. "E adoro, sobretudo, os fóruns, os contatos e as trocas." Moreno mora no Rio, onde faz pós-graduação em gestão cultural na Universidade Estácio de Sá, e foi às duas últimas edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre e, desde 2003, nutria expectativas sobre o atual. "Vi encontros incríveis, mas tenho a impressão de que nas discussões tudo é meio unilateral. As pessoas vêm, escutam e vão embora", diz.
Para ele, falta no fórum dar espaço à cultura brasileira de raiz. "Os índios foram um pouco contemplados, mas vi pouco das manifestações afro-brasileiras. O maracatu mostrado na Feira de Idéias, por exemplo, não era o maracatu de nação, como manda sua origem, não tinha ligação com o candomblé." Para ele, isso é reflexo de produtores com pouco contato com as comunidades.
No entanto, o ator é otimista e crê na "possibilidade de um mundo melhor". Pensa em montar sua ONG e defender o maracatu. Sobre o ministro, uma parte do sonho se saciou. Ele fez Gil em 1968 na novela "Senhora do Destino".
Já para a italiana Carla Pollastrelli, 54, fundadora da Associação Grotowski, o fórum funciona nos pequenos detalhes. "As grandes questões da Convenção Global não interagem com o público. As atividades associadas são as surpresas, os lugares onde você vai conhecer uma experiência interessante. As questões e respostas aparecem ainda com uma visão muito europeizada", diz.
Pollastrelli tem residência fixa em Toscana, mas veio ao fórum para "se formar" e cuidar da formação de parte do grupo de teatro que se constitui no seu projeto Casa do Laboratório, no Brasil. "Pedi a eles que montassem sua programação e aproveitassem algumas experiências", conta.
Também com preocupações semelhantes, o estudante de turismo Marcelo Carvalho Saes, 22, veio de Peruíbe para acompanhar os debates. Chegando à atividade coordenada pela União Nacional dos Estudantes, sua primeira participação no fórum, nada encontrou. "Quando entrei no auditório, onde ela ocorreria, havia uma outra, e ainda sem tradução", afirma. "Esse é um pequeno problema, pois há outras coisas mais importantes, mas, se a idéia é fomentar cultura, não posso ficar com sede de informação."
Hoje, às 11h, acontece a última conferência do fórum, que apresentará os resultados das discussões e terá a presença do cineasta argentino Fernando Solanas.


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