São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

Com texto de Luís Alberto de Abreu, trupe homenageia a arte popular na ocupação do Flávio Império, na zona leste

Cia. Estável resgata famílias do circo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A memória estética e social do circo e suas famílias que imigraram da Europa para o Brasil, a partir da década de 1830, ganha um retrato pertinente ao projeto de ocupação do teatro Flávio Império, em Cangaíba (zona leste da cidade), pela companhia Estável de Teatro.
"A capacidade do circense de olhar em torno, de ser contemporâneo, de se adaptar às diversas situações e de transmitir seus saberes muito nos interessou e vinha ao encontro do que queríamos dizer e do que estávamos vivendo dentro da nossa comunidade, aqui em Cangaíba", diz o texto que a Estável assina no programa do espetáculo "O Auto do Circo", que estréia hoje.
Nos três anos de ocupação do teatro Flávio Império (homenagem ao cenógrafo e artista plástico, morto em 1985), a companhia desenvolveu o projeto Amigos da Multidão. No início, havia dois, quatro espectadores por sessão. Na última quarta-feira, na pré-estréia, a casa lotou todos os 212 lugares.
O morador da região "redescobriu" o espaço inaugurado em 1992 e, desde então, carente de um trabalho efetivo de proximidade, de uma programação que formasse e conquistasse o público desabituado a ir ao teatro. Isso se deve ao Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo (que destina verba a projetos que desenvolvam trabalhos continuados de pesquisa cênica e dramatúrgica).
Quando foi ao Flávio Império pela primeira vez, o adolescente Anderson Tavares integrava o "coro" de estudantes da platéia que fazia algazarra e infernizava a apresentação. Hoje, visão transformada sobre o fazer (e receber) artístico, ele responde pela sonoplastia de "O Auto do Circo".
Segundo a diretora Renata Zhaneta (a Desdêmona de "Otelo", com o Folias d'Arte), esse resgate da "auto-estima" não perdeu o horizonte artístico.
É isso que a vincula à Estável (também assinou o musical "Flávio Império - Uma Celebração da Vida" e o infantil "Incrível Viagem").

Saga
O novo espetáculo agrega ainda outros artistas. Por exemplo, o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, conhecido pelo trabalho contínuo com a Fraternal Cia. de Artes e Malas-Artes ("Borandá"). Ele escreveu "O Auto do Circo" a partir, também, do subsídio que recolheu dos atores da Estável em alguns encontros.
A saga do circo no Brasil é recortada pela história de um velho palhaço, Coscorão (por Nei Gomes). De sua cadeira de rodas, ele rememora vivências dentro e fora do picadeiro: os números acrobáticos de seu circo, os problemas familiares, as dificuldades da condição nômade de sua família e de seus antepassados etc.
Como o cérebro de Coscorão tem "problemas no arranque", ele é, digamos, estimulado pelo palhaço mais jovem, Ximbeba (por Jhaíra), formando a dupla.
"A companhia tem um forte poder de mobilização", diz o diretor circense Marcelo Milan, 39, convidado a fazer parte da equipe de criação e surpreendido pela conjugação comunitária e artística da cia. Estável, além da generosidade dos atores para aprender suas habilidades.
A pesquisadora e historiadora do circo Ermínia Silva, da Unicamp, também foi importante aliada no processo das artes e dos saberes sob lona.


O AUTO DO CIRCO. De: Luís Alberto de Abreu. Direção: Renata Zhaneta. Direção circense: Marcelo Milan. Direção musical: Reinaldo Sanches. Cenografia: Luís Rossi. Figurinos: Rita Benitez. Iluminação: Erike Busoni. Com: cia. Estável de Teatro (Andressa Ferrarezi, Daniela Giampietro, Jhaíra, Marcelo Meniquelli, Maria Dressler, Nei Gomes e Osvaldo Costa Jr. e outros). Onde: teatro Flávio Império (r. Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba, tel. 6623-2930). Quando: estréia hoje; sáb. e dom., às 20h; até 17/ 10. Quanto: entrada franca. Na internet: www.ciaestavel.com.br.


Texto Anterior: Aldeia global - Literatura musical: Nhambuzim e Joana Garfunkel estão em sarau
Próximo Texto: "Mal Secreto - A Vida Amorosa de Ofélia": Peça arrisca com inventividade, mas peca em atuação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.