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TEATRO
Com texto de Luís Alberto de Abreu, trupe homenageia a arte popular na ocupação do Flávio Império, na zona leste
Cia. Estável resgata famílias do circo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A memória estética e social do
circo e suas famílias que imigraram da Europa para o Brasil, a
partir da década de 1830, ganha
um retrato pertinente ao projeto
de ocupação do teatro Flávio Império, em Cangaíba (zona leste da
cidade), pela companhia Estável
de Teatro.
"A capacidade do circense de
olhar em torno, de ser contemporâneo, de se adaptar às diversas situações e de transmitir seus saberes muito nos interessou e vinha
ao encontro do que queríamos dizer e do que estávamos vivendo
dentro da nossa comunidade,
aqui em Cangaíba", diz o texto
que a Estável assina no programa
do espetáculo "O Auto do Circo",
que estréia hoje.
Nos três anos de ocupação do
teatro Flávio Império (homenagem ao cenógrafo e artista plástico, morto em 1985), a companhia
desenvolveu o projeto Amigos da
Multidão. No início, havia dois,
quatro espectadores por sessão.
Na última quarta-feira, na pré-estréia, a casa lotou todos os 212 lugares.
O morador da região "redescobriu" o espaço inaugurado em
1992 e, desde então, carente de um
trabalho efetivo de proximidade,
de uma programação que formasse e conquistasse o público
desabituado a ir ao teatro. Isso se
deve ao Programa Municipal de
Fomento ao Teatro para a Cidade
de São Paulo (que destina verba a
projetos que desenvolvam trabalhos continuados de pesquisa cênica e dramatúrgica).
Quando foi ao Flávio Império
pela primeira vez, o adolescente
Anderson Tavares integrava o
"coro" de estudantes da platéia
que fazia algazarra e infernizava a
apresentação. Hoje, visão transformada sobre o fazer (e receber)
artístico, ele responde pela sonoplastia de "O Auto do Circo".
Segundo a diretora Renata Zhaneta (a Desdêmona de "Otelo",
com o Folias d'Arte), esse resgate
da "auto-estima" não perdeu o
horizonte artístico.
É isso que a vincula à Estável
(também assinou o musical "Flávio Império - Uma Celebração da
Vida" e o infantil "Incrível Viagem").
Saga
O novo espetáculo agrega ainda
outros artistas. Por exemplo, o
dramaturgo Luís Alberto de
Abreu, conhecido pelo trabalho
contínuo com a Fraternal Cia. de
Artes e Malas-Artes ("Borandá").
Ele escreveu "O Auto do Circo" a
partir, também, do subsídio que
recolheu dos atores da Estável em
alguns encontros.
A saga do circo no Brasil é recortada pela história de um velho
palhaço, Coscorão (por Nei Gomes). De sua cadeira de rodas, ele
rememora vivências dentro e fora
do picadeiro: os números acrobáticos de seu circo, os problemas
familiares, as dificuldades da condição nômade de sua família e de
seus antepassados etc.
Como o cérebro de Coscorão
tem "problemas no arranque", ele
é, digamos, estimulado pelo palhaço mais jovem, Ximbeba (por
Jhaíra), formando a dupla.
"A companhia tem um forte poder de mobilização", diz o diretor
circense Marcelo Milan, 39, convidado a fazer parte da equipe de
criação e surpreendido pela conjugação comunitária e artística da
cia. Estável, além da generosidade
dos atores para aprender suas habilidades.
A pesquisadora e historiadora
do circo Ermínia Silva, da Unicamp, também foi importante
aliada no processo das artes e dos
saberes sob lona.
O AUTO DO CIRCO. De: Luís Alberto de
Abreu. Direção: Renata Zhaneta. Direção
circense: Marcelo Milan. Direção musical:
Reinaldo Sanches. Cenografia: Luís Rossi.
Figurinos: Rita Benitez. Iluminação: Erike
Busoni. Com: cia. Estável de Teatro
(Andressa Ferrarezi, Daniela Giampietro,
Jhaíra, Marcelo Meniquelli, Maria
Dressler, Nei Gomes e Osvaldo Costa Jr. e
outros). Onde: teatro Flávio Império (r.
Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba, tel.
6623-2930). Quando: estréia hoje; sáb. e
dom., às 20h; até 17/ 10. Quanto: entrada
franca. Na internet: www.ciaestavel.com.br.
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