São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Galeria Deco mostra hoje 18 gravuras da artista japonesa que integrou as vanguardas dos anos 60

Yayoi Kusama exibe as suas obsessões

Divulgação
Gravura da japonesa Yayoi Kusama, em cartaz na galeria Deco


MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A artista japonesa Yayoi Kusama pertence a um passado recente da arte: uma época na qual a primeira missão do artista, antes de qualquer atitude, era o confronto. Agora, pela primeira vez suas gravuras são apresentadas na cidade -em uma curta temporada, na galeria Deco-, mostrando estar ela ainda pronta para a luta.
São 18 trabalhos produzidos por Kusama durante a década passada. Alguns deles passaram já por Paris, Londres ou Nova York nos últimos cinco anos, quando tanto o mercado quanto uma mais jovem crítica passaram a olhar para ela e sua produção (performances, esculturas, pinturas, instalações e gravuras) com maior benevolência.
Mesmo no Brasil, algumas de suas peças puderam ser vistas recentemente: na 24ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1998; em uma mostra itinerante, no mesmo ano (parte das comemorações dos 90 anos da imigração japonesa), e em 2002, quando o Sesc Belenzinho recebeu sua instalação inflável "Dots Obsession".
Kusama tem hoje 73 anos e, desde 1977, vive em um hospital psiquiátrico, em Tóquio, mantendo um ateliê próximo ao local. Sua internação foi voluntária; ela se sentia desconfortável com o mundo e decidiu por uma radical forma de solução.
Sua obra é resultado da ocidentalização do Japão no pós-guerra, e do diálogo realizado por uma geração de novos artistas japoneses com as vanguardas vindas da Europa e, sobretudo, dos EUA.
Em 1958, ela encontra os minimalistas Donald Judd e Frank Stella em Nova York. Decide ficar e participar das mudanças que a cidade oferecia para a história da arte. Depois, parte para a Europa e participa do grupo Zero, do italiano Piero Manzoni; descobre o francês Yves Klein e termina fazendo a passagem do minimalismo para a arte conceitual.
Em 1960, Kusama lança um manifesto que seria determinante para os trabalhos realizados nos anos seguintes, algo nunca abandonado por ela: "Minha vida é um ponto perdido entre milhões de pontos", escreve. Os pontos passam então a ser um método e uma exigência, se tornando uma alucinação permanente.
Nas gravuras mostradas na galeria Deco essa história continua. São imagens abstratas ou figurativas decompostas em milhares de pontos e teias. Kusama trabalha em um espaço rígido (a herança do minimalismo é nela um fantasma), delimitado por suas obsessões.
Sua trajetória é tão errática que é difícil não olhá-la através do filtro do exotismo, procurando nela da loucura ao feminismo, da falência das vanguardas ao procedimento artístico datado; a relíquia de época.
Talvez essa seja mais uma das razões para que ela prefira o cotidiano do hospício. Yayoi Kusama escolheu não ser explicada e, apesar de ser hoje uma das grandes referências entre os artistas japoneses, não pede para ser aceita. Como ela diz, "a arte é sintoma e a causa da minha obsessão".


YAYOI KUSAMA. Mostra de 18 gravuras (preços entre R$ 1.600 e R$ 3.200). Onde: galeria Deco (r. dos Franceses, 153, Bela Vista, tel. 251-3564). Quando: abertura hoje, às 19h (para convidados); de seg. a dom., das 10h às 20h. Até 15/ 12. Quanto: entrada franca.


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