PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

Chaplin tinha um rival à altura. Buster Keaton, o "homem que nunca ria", foi a grande concorrência do criador de Carlitos, no cinema dos anos 20. Seus filmes estão sendo vistos numa mostra promovida pelo Centro Cultural São Paulo, que vai até domingo.
"O Mundo Mudo de Buster Keaton" apresenta seis dos principais filmes do comediante. "A Antiga e a Moderna" (1923) é um pequeno achado, ao satirizar outras produções da época, como "Intolerância". O argumento romântico já anunciava o mote de seus filmes.
"Marinheiro por Descuido" (1924) e "Amores de Estudante" (1927), longe de ser obras-primas, garantem o reconhecimento do trabalho de Keaton. O primeiro prende-se em "diálogos" na primeira parte, deixando as gags para o final, quando Buster Keaton se lança ao mar para salvar sua amada. O outro filme é um pretexto para Keaton mostrar seus dotes físicos com correrias e pancadarias.
"O Vaqueiro" (1925) é a exceção, onde um homem tem como companhia apenas uma vaca triste. É o mais "chapliniano" de seus filmes, com um Keaton solitário, como Carlitos. Vale pela cena em que o protagonista detém uma boiada.
Obra-prima de Keaton, "Nossa Hospitalidade" (1923) trata do amor que pode reverter uma situação limite entre duas famílias, numa temática especialmente folhetinesca. O personagem faz do improviso sua chance de sobrevivência. Destaque para a sequência do trem, prenunciando sua obra absoluta, "A General" (1927).
Esse filme mexe com amor, rejeição, perda e êxito, falando de um maquinista, recusado pelo exército sulista, que se torna herói ao salvar sua noiva raptada pela União. O malabarismo que Keaton impõe no vai-e-vem dos trens é único na história do cinema. Não há palavras que tirem de "A General" o melhor exemplo das qualidades do cineasta.
Buster Keaton só teve sua obra reconhecida nos anos 60. Ele mostrou, diferentemente de Chaplin, que a sisudez de um "rosto de pedra" poderia desvendar uma alegria latente.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice