KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Como um convite às inquietações do ser, o Balé da Cidade de São Paulo inicia hoje a temporada anual que comemora seus 35 anos de existência. Parte do "alongamento" dessa trajetória é a estréia de duas novas coreografias: "Zona Mina-da", do italiano Mauro Bigonzetti, e "Desatino do Norte Desatino do Sul", do coreógrafo e bailarino do grupo José Garcia.
"Zona Mina-da" é resultado do trabalho de "um mês brasileiro" de Bigonzetti, diretor do Aterballetto, uma das maiores companhias da Itália. Em entrevista à Folha, iluminado pelas luzinhas do camarim, Bigonzetti, 44, diz não ter pensado em fazer um balé psicológico. "Queria algo bem alegre, sem muitos dramas", diz. A obra homenageia a cantora italiana Mina, que já teve sucesso equiparado ao de Roberto Carlos. É dela a canção "Tintarella di Luna" que, no Brasil, ficou imortalizada na voz de Celly Campello (1942-2003) em "Banho de Lua".
"Zona Mina-da" mostra como as pessoas se divertiam na Itália após o final da Segunda Guerra [1939-1945", quando qualquer rádio ligado na esquina poderia dar início a uma "balada". "Nas décadas de 50 e 60, as pessoas se alegravam com pouco", diz.
A bailarina Paula Zonzini, 26, faz um solo nostálgico. "É uma mulher forte, que olha para o passado com melancolia serena. É como uma busca em seu próprio íntimo." Paula se emociona com trecho da música em que Mina canta: "Eu te devolvo pra ninguém". E é nessa linha de contradições amorosas que se baseia a obra de Jorge Garcia, que andava ansioso pelo palco do Municipal. "Não sei ainda como vão ficar as imagens projetadas". "Desatino do Norte Desatino do Sul" é feita em parceria com os videoartistas da Fábrica da Bijari e traz o DJ Dolores e a Orquestra Santa Massa.