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Sem folga, atriz alterna o trono e a nudez no palco
Aos 49 anos, Clarice Niskier está em cartaz todos os dias da semana, com monólogo em SP e clássico no Rio
Na temporada carioca de "Maria Stuart", a atriz vive "a luta de Elizabeth pela coroa", enquanto em "A Alma Imoral", encena "a libertação"
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Segunda-feira. Uma mulher
nua gira no palco, iluminada
por dois focos de luz. Senta-se
numa cadeira, cobre-se delicadamente com uma fina malha
preta e repete seu monólogo filosófico. Na terça-feira, de novo: nua, gira, senta, cobre o corpo e fala sobre a vida.
Quarta-feira. Botas de cano
alto, calça e blusa vermelhas,
está num trono. Clarice Niskier
será, então, a rainha Elizabeth
nas noites seguintes, até domingo. Aos 49 anos, a atriz está
em cartaz todos os dias da semana. Alterna uma mulher nua
em "A Alma Imoral", em São
Paulo, e a rainha no clássico de
Schiller "Maria Stuart", no Rio.
Ela, no entanto, não recomenda a maratona. "Confesso que
estou receosa com a minha saúde. Radicalizei", dizia, com a
voz já quase rouca, ao fim de
uma sessão em São Paulo.
A princípio, a maratona deveria durar três meses, do início de março ao final de maio.
Mas "Maria Stuart" recebeu
convite e deve ganhar montagem também em São Paulo.
"Eu estou cansada, preocupada, porque realmente são
três meses nessa batida, mas a
Julia [Lemmertz, atriz de "Maria Stuart'] e o Antonio [Gilberto, diretor do espetáculo] estão
fechadíssimos comigo, dando
todas as condições necessárias
para que isso aconteça. Eu estou muito amparada", afirma.
O "amparo" inclui uma hora
diária de aula de voz, outra de
pilates, análise com a terapeuta
(muitas vezes por telefone), a
companhia em tempo integral
do marido e... uma caixinha recheada de pílulas. "Olha o torpedo que é essa vitamina!
[mostra uma grande cápsula
preta] Tem esse fitoterápico;
essa pretinha, duas vezes ao
dia; essa tem vitamina C..."
Rainha, judia e budista
Clarice trabalha em "A Alma
Imoral" há cerca de cinco anos,
quando ganhou de Nilton Bonder o livro homônimo da peça,
após uma entrevista na TV. "Na
ocasião, eu disse que era uma
judia-budista. Uma telespectadora mandou um fax, dizendo:
"Minha filha, não existe judia-budista. Ou você é bem judia ou
você é bem budista. Assinado,
dona Léa". O rabino me defendeu, disse que tudo bem eu ser
judia-budista", diz a atriz ao
público da peça. Ela leu e decidiu adaptar o livro de Bonder,
sobre traição e tradição, para o
teatro. Em 2007, recebeu o prêmio Shell de melhor atriz.
Se "A Alma Imoral" é um
projeto pessoal, "Maria Stuart"
é, para ela, um investimento
como atriz. "São trabalhos
opostos. Uma é o poder, o prazer e o trabalho árduo de manutenção do poder político, da coroa. "A Alma" é a liberdade em
relação a isso, como se fosse
uma terceira via. Ela é a terapia
da Elizabeth", avalia, rindo.
Terapia, aliás, é o que levou
Clarice ao teatro. Em 1981,
abandonou o jornalismo quando teve uma crise de gastrite e
ouviu um: "Minha filha, você
precisa fazer terapia". Decidiu
fazer teatro, entrou para o Tablado e, em 1982, já encenava o
"O Círculo de Giz Caucasiano",
de Brecht. "Então vieram outros convites e... bem, lá se vão
27 anos de palco."
A ALMA IMORAL
Quando: seg. e ter., às 21h; até 26/5
Onde: teatro Eva Herz (livraria Cultura
do Conjunto Nacional - av. Paulista,
2.073, tel. 3170-4059; 18 anos; R$ 50)
MARIA STUART
Quando: qua. a dom., às 19h; até 17/5
Onde: CCBB do Rio (r. 1º de Março, 66,
Rio; tel. 0/xx/21/3808-2020; 12 anos;
R$ 10)
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