São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Sem folga, atriz alterna o trono e a nudez no palco

Aos 49 anos, Clarice Niskier está em cartaz todos os dias da semana, com monólogo em SP e clássico no Rio

Na temporada carioca de "Maria Stuart", a atriz vive "a luta de Elizabeth pela coroa", enquanto em "A Alma Imoral", encena "a libertação"


AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Segunda-feira. Uma mulher nua gira no palco, iluminada por dois focos de luz. Senta-se numa cadeira, cobre-se delicadamente com uma fina malha preta e repete seu monólogo filosófico. Na terça-feira, de novo: nua, gira, senta, cobre o corpo e fala sobre a vida.
Quarta-feira. Botas de cano alto, calça e blusa vermelhas, está num trono. Clarice Niskier será, então, a rainha Elizabeth nas noites seguintes, até domingo. Aos 49 anos, a atriz está em cartaz todos os dias da semana. Alterna uma mulher nua em "A Alma Imoral", em São Paulo, e a rainha no clássico de Schiller "Maria Stuart", no Rio.
Ela, no entanto, não recomenda a maratona. "Confesso que estou receosa com a minha saúde. Radicalizei", dizia, com a voz já quase rouca, ao fim de uma sessão em São Paulo.
A princípio, a maratona deveria durar três meses, do início de março ao final de maio.
Mas "Maria Stuart" recebeu convite e deve ganhar montagem também em São Paulo.
"Eu estou cansada, preocupada, porque realmente são três meses nessa batida, mas a Julia [Lemmertz, atriz de "Maria Stuart'] e o Antonio [Gilberto, diretor do espetáculo] estão fechadíssimos comigo, dando todas as condições necessárias para que isso aconteça. Eu estou muito amparada", afirma.
O "amparo" inclui uma hora diária de aula de voz, outra de pilates, análise com a terapeuta (muitas vezes por telefone), a companhia em tempo integral do marido e... uma caixinha recheada de pílulas. "Olha o torpedo que é essa vitamina! [mostra uma grande cápsula preta] Tem esse fitoterápico; essa pretinha, duas vezes ao dia; essa tem vitamina C..."

Rainha, judia e budista
Clarice trabalha em "A Alma Imoral" há cerca de cinco anos, quando ganhou de Nilton Bonder o livro homônimo da peça, após uma entrevista na TV. "Na ocasião, eu disse que era uma judia-budista. Uma telespectadora mandou um fax, dizendo: "Minha filha, não existe judia-budista. Ou você é bem judia ou você é bem budista. Assinado, dona Léa". O rabino me defendeu, disse que tudo bem eu ser judia-budista", diz a atriz ao público da peça. Ela leu e decidiu adaptar o livro de Bonder, sobre traição e tradição, para o teatro. Em 2007, recebeu o prêmio Shell de melhor atriz.
Se "A Alma Imoral" é um projeto pessoal, "Maria Stuart" é, para ela, um investimento como atriz. "São trabalhos opostos. Uma é o poder, o prazer e o trabalho árduo de manutenção do poder político, da coroa. "A Alma" é a liberdade em relação a isso, como se fosse uma terceira via. Ela é a terapia da Elizabeth", avalia, rindo.
Terapia, aliás, é o que levou Clarice ao teatro. Em 1981, abandonou o jornalismo quando teve uma crise de gastrite e ouviu um: "Minha filha, você precisa fazer terapia". Decidiu fazer teatro, entrou para o Tablado e, em 1982, já encenava o "O Círculo de Giz Caucasiano", de Brecht. "Então vieram outros convites e... bem, lá se vão 27 anos de palco."


A ALMA IMORAL
Quando: seg. e ter., às 21h; até 26/5
Onde: teatro Eva Herz (livraria Cultura do Conjunto Nacional - av. Paulista, 2.073, tel. 3170-4059; 18 anos; R$ 50)

MARIA STUART
Quando: qua. a dom., às 19h; até 17/5
Onde: CCBB do Rio (r. 1º de Março, 66, Rio; tel. 0/xx/21/3808-2020; 12 anos; R$ 10)



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