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TEATRO CRÍTICA
"Decadência" expõe burguesia em palavras e ações /B>
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Em muitos momentos, "Decadência" mais parece um balé, talvez algum "happening" de expressão corporal ou coisa assim.
Beth Goulart abre as pernas e as
fecha sobre Guilherme Leme, que
a segue num movimento sensual
semelhante, depois em outros,
numa relação obsessiva entre a
expressão da palavra e aquela da
ação física.
Uma geralmente é complementar à outra, na encenação, mas
também, por vezes, se contrapõe
à outra. O resultado é de grande
beleza e sensualidade -e é absolutamente fiel ao teatro de Steven
Berkoff, o inglês autor da peça,
que preconiza o chamado "teatro
físico", do qual dizem até que foi
um pioneiro.
Berkoff, que estudou com Jacques Lecoq, o mestre francês que
ensinava mais ou menos em tal linha, embora abominasse a mímica, é ator e diretor, além de autor.
Vem de encenar uma versão londrina de "East" -seu primeiro
texto, de duas décadas atrás-
numa direção muito próxima da
mostrada pelos atores brasileiros
e pelo diretor argentino Victor
Garcia Peralta.
Nos dois espetáculos, a aspereza
das palavras e das imagens acompanha uma crítica social e moral,
até mesmo política, violenta. No
caso de "East", o alvo é o próprio
ambiente em que Berkoff nasceu,
a região "classe trabalhadora" de
Londres. Em "Decadência", o retrato que se faz é sobretudo da alta
burguesia, em plena "decadência" de ociosidade, amoralidade,
fastio etc.
"Decadência" não chega a ser
um tratado do gênero, à maneira
de Sade, mas é intenso e grosseiro
como Berkoff sabe ser. Também é
um deleite para os dois atores. A
peça é erguida em pequenos solos, em solilóquios mais do que
em diálogos.
São dois casais que se revezam
no palco, interpretados sempre
por Beth Goulart e Guilherme Leme. Um casal reúne dois amantes
cínicos e algo infantilizados da alta burguesia; o outro, a mulher
endinheirada que foi traída e um
detetive grosseiro que ela se esforça, na cama, para convencer a matar o marido.
O texto retrata muito da estratificação social inglesa, como sempre acontece com Steven Berkoff,
mas é acima de tudo o que o título
aponta: um flagrante da decadência, da corrupção.
Beth Goulart, embora pudesse
definir mais as diferenças entre
uma personagem e outra, é de
uma exatidão formal de tirar o fôlego, precisamente no "teatro físico". É de um virtuosismo que
chega a fazer esquecer o mais que
acontece, em cena.
Guilherme Leme se detém a um
passo de tal virtuosismo físico,
priorizando a caracterização de
seus dois personagens em nuances realistas. Aprofunda e enriquece assim o jogo de antagonismos que percorre a apresentação
de "Decadência".
Avaliação: ![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Peça: Decadência
Autor: Steven Berkoff
Direção: Victor Garcia Peralta
Elenco: Beth Goulart e Guilherme Leme
Quando: seg. e ter., às 21h
Onde: Teatro Cultura Inglesa (r. Dep. Lacerda Franco, 333, tel. 814-0100)
Quanto: R$ 20
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