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CINEMA
Programação vai do clássico 'O Descobrimento do Brasil', de Humberto Mauro, ao recente 'Baile Perfumado'
Mostra traz filmes sobre a imigração
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
Estar longe de casa, entre gente
estranha, é a situação dramática
predominante nos filmes da mostra "Imigrações, Migrações e Diversidade no Cinema Brasileiro",
que faz parte do evento Encontro
da Cultura Brasileira.
A mostra começa com um clássico absoluto, "O Descobrimento
do Brasil" (1937), de Humberto
Mauro, que mostra, em imagens
de grande frescor e delicadeza, o
encontro entre os índios e os primeiros portugueses que aportaram na Bahia em 1500. Na visão
idealista de Mauro, não chegou a
ser um choque cultural, mas uma
troca de surpresas e assombros.
Um aspecto nada desprezível do
filme é a música, composta especialmente para a tela por ninguém
menos que Heitor Villa Lobos.
Há filmes na programação que
só tocam tangencialmente no tema
do deslocamento geográfico ou do
estranhamento cultural.
É o caso, por exemplo, do saboroso "Marvada Carne" (1985), de
André Klotzel, cujo protagonista
só sai da roça para a cidade grande
na última parte da história.
Outros destaques da programação, como "A Hora da Estrela"
(1985), de Suzana Amaral, e "A
Grande Cidade" (1965), de Cacá
Diegues, têm em seu cerne o desencontro entre personagens vindos de um Nordeste arcaico e a
crueza "moderna" da metrópole
(São Paulo no primeiro caso, Rio
no segundo).
Retirantes nordestinos povoam
também "Morte e Vida Severina"
(1976), de Zelito Viana, e os excepcionais "Vidas Secas" (1963), de
Nelson Pereira dos Santos, e "Cabra Marcado Para Morrer" (1984),
de Eduardo Coutinho.
Outra vertente significativa -a
dos dramas de estrangeiros que
vêm tentar a sorte no país tropical- tem altos e baixos na mostra.
A imigração japonesa para as fazendas de café do interior de São
Paulo e do Paraná aparece em
"Gaijin" (1979), o primeiro e melhor filmes de Tizuka Yamasaki.
Os "oriundi" da Itália são tema
do pouco visto "Andiamo in 'Merica", de Sergio Muniz, e do frouxo
"O Quatrilho" (1996), de Fábio
Barreto.
Um imigrante ilustre -o escritor austríaco Stefan Zweig, que se
matou em Petrópolis em 1942- é
o assunto de "Zweig - A Morte em
Cena" (1995), documentário surpreendentemente sóbrio do quase
sempre extravagante Sylvio Back.
Uma situação mais contemporânea, o embate entre um rico empresário norte-americano e três
garotos cariocas da favela, é dramatizada no excelente "Como
Nascem os Anjos" (1986), de Murilo Salles, que não teve nos cinemas a atenção que merecia.
Na mostra, ainda é possível conhecer obras interessantes e pouco
vistas, como "O Mágico e o Delegado" (1983), de Fernando Coni
Campos, e "Noites Paraguaias"
(1982), de Aloysio Raulino.
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