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CONCERTO
A orquestra e a pianista se apresentam só hoje, na Sala São Paulo, antes de seguirem para o Chile
Toshiko Akiyoshi rege sua "big band"
Reprodução
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A pianista e arranjadora Toshiko Akiyoshi durante apresentação da orquestra que leva seu nome |
CARLOS CALADO
especial para a Folha
A pianista e compositora Toshiko Akiyoshi já tocou duas vezes
em São Paulo, na década passada.
Mesmo assim, para ela, o concerto desta noite, na sala São Paulo,
terá um sabor de estréia.
"Vai ser a primeira apresentação de minha orquestra no Brasil.
Espero por isso há muito tempo",
disse a "band leader" à Folha, por
telefone, de Nova York. Nas ocasiões anteriores, quando tocou no
extinto 150 Night Club, ela veio
com um quarteto ou um trio.
A vinda da Toshiko Akiyoshi
Jazz Orchestra -uma das mais
originais "big bands" do jazz moderno- só pôde acontecer por
uma casualidade: concertos agendados no Chile permitiram que o
produtor César Castanho a trouxesse ao Brasil.
O alto custo desestimula a vinda
de orquestras ao Brasil, e a situação não tem sido muito diferente
no circuito norte-americano de
clubes de jazz.
"Os clubes já não podem pagar
uma orquestra por mais de uma
ou duas noites. Nos anos 50, as
bandas de Duke Ellington e
Count Basie tocavam duas semanas num mesmo clube. Isso é impossível hoje", lamenta Toshiko.
De origem japonesa, Toshiko
Akiyoshi nasceu na China, em
1929. Tinha 17 anos quando se
mudou para o Japão, onde descobriu o jazz. Estimulada por músicos estrangeiros, como o pianista
canadense Oscar Peterson, radicou-se nos EUA em 1956.
Quando se casou com o saxofonista Charlie Mariano, em 1959, já
cursava o Berklee College. Pianista talentosa, influenciada por Bud
Powell, Toshiko tocou em vários
grupos ao longo dos anos 60, frequentemente ao lado de Mariano
e do baixista Charles Mingus.
"Adoro tocar piano, mas a orquestra permite que eu me expresse de uma maneira mais
completa. Com ela posso utilizar
mais cores em minha música",
diz a compositora, que começou a
ensaiar a "big band" em 1973, em
Los Angeles.
Ao final daquela década, a orquestra já tinha se consagrado,
somando considerável popularidade a muitos elogios da crítica.
Além do alto nível de coesão dos
músicos, chamava a atenção a originalidade das composições, que
misturam elementos da música
japonesa à linguagem do jazz.
"Costumo comparar minhas
composições à música para balé:
sempre partem de uma história",
diz, explicando porque chama
sua música de "programática".
Como exemplo, ela cita a extensa "Minamata", gravada pela orquestra em 1976. É uma suíte inspirada num grave caso de poluição do mar por indústrias químicas japonesas, no final dos anos
60, que causou a morte de milhares de pessoas que comeram peixe contaminado por mercúrio.
"Esse modo de compor não é
muito comum no jazz. Geralmente se escreve um pequeno tema
melódico e se sai improvisando",
compara a arranjadora.
Lew Tabackin
Desde a primeira formação da
"big band" de Toshiko Akiyoshi,
o principal solista é o saxofonista
e flautista norte-americano Lew
Tabackin, 59, segundo marido da
"band leader". O solista também
estará presente no concerto desta
noite.
Como instrumentista, Tabackin
cultiva estilos bem diversos. Seus
solos de flauta combinam influências eruditas e orientais. Já
ao sax tenor segue a linha estilística de Sonny Rollins, improvisando com energia.
Diferentemente da orquestra,
que não tem CDs lançados no
Brasil há 5 anos, Tabackin pode
ser ouvido no ótimo "Live at Vartan Jazz", que acaba de ser distribuído nas lojas da rede Planet
Music pelo selo Vartan Jazz. Nessa gravação, ele interpreta composições de Thelonious Monk e
Duke Ellington.
Quanto ao repertório de hoje,
"miss" Akiyoshi diz que boa parte
do concerto será dedicado a peças
que integram a música oriental ao
jazz. "Essa é a minha marca registrada", justifica, mencionando
"Kogun", composição de 1974
que deu título ao primeiro disco
da orquestra.
Outra composição quase certa
no programa é "Desert Lady Fantasy", gravada em um homônimo
CD de 1994. Inspirada em tema de
Tabackin, trata de mulheres que
vivem em desertos da África.
"O problema é que tenho muitas composições e apenas duas
horas para tocar. Terei que ser
muito equilibrada nessa seleção",
diz a "band leader".
Concerto: Toshiko Akiyoshi Jazz
Orchestra
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
s/nº, Luz, tel. 223.5199, r. 225)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 20 a R$ 60 e de R$ 10 a R$
30 (estudantes)
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