São Paulo, Segunda-feira, 06 de Dezembro de 1999


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CONCERTO

A orquestra e a pianista se apresentam só hoje, na Sala São Paulo, antes de seguirem para o Chile

Toshiko Akiyoshi rege sua "big band"

Reprodução
A pianista e arranjadora Toshiko Akiyoshi durante apresentação da orquestra que leva seu nome


CARLOS CALADO
especial para a Folha



A pianista e compositora Toshiko Akiyoshi já tocou duas vezes em São Paulo, na década passada. Mesmo assim, para ela, o concerto desta noite, na sala São Paulo, terá um sabor de estréia.
"Vai ser a primeira apresentação de minha orquestra no Brasil. Espero por isso há muito tempo", disse a "band leader" à Folha, por telefone, de Nova York. Nas ocasiões anteriores, quando tocou no extinto 150 Night Club, ela veio com um quarteto ou um trio.
A vinda da Toshiko Akiyoshi Jazz Orchestra -uma das mais originais "big bands" do jazz moderno- só pôde acontecer por uma casualidade: concertos agendados no Chile permitiram que o produtor César Castanho a trouxesse ao Brasil.
O alto custo desestimula a vinda de orquestras ao Brasil, e a situação não tem sido muito diferente no circuito norte-americano de clubes de jazz.
"Os clubes já não podem pagar uma orquestra por mais de uma ou duas noites. Nos anos 50, as bandas de Duke Ellington e Count Basie tocavam duas semanas num mesmo clube. Isso é impossível hoje", lamenta Toshiko.
De origem japonesa, Toshiko Akiyoshi nasceu na China, em 1929. Tinha 17 anos quando se mudou para o Japão, onde descobriu o jazz. Estimulada por músicos estrangeiros, como o pianista canadense Oscar Peterson, radicou-se nos EUA em 1956.
Quando se casou com o saxofonista Charlie Mariano, em 1959, já cursava o Berklee College. Pianista talentosa, influenciada por Bud Powell, Toshiko tocou em vários grupos ao longo dos anos 60, frequentemente ao lado de Mariano e do baixista Charles Mingus.
"Adoro tocar piano, mas a orquestra permite que eu me expresse de uma maneira mais completa. Com ela posso utilizar mais cores em minha música", diz a compositora, que começou a ensaiar a "big band" em 1973, em Los Angeles.
Ao final daquela década, a orquestra já tinha se consagrado, somando considerável popularidade a muitos elogios da crítica. Além do alto nível de coesão dos músicos, chamava a atenção a originalidade das composições, que misturam elementos da música japonesa à linguagem do jazz.
"Costumo comparar minhas composições à música para balé: sempre partem de uma história", diz, explicando porque chama sua música de "programática".
Como exemplo, ela cita a extensa "Minamata", gravada pela orquestra em 1976. É uma suíte inspirada num grave caso de poluição do mar por indústrias químicas japonesas, no final dos anos 60, que causou a morte de milhares de pessoas que comeram peixe contaminado por mercúrio.
"Esse modo de compor não é muito comum no jazz. Geralmente se escreve um pequeno tema melódico e se sai improvisando", compara a arranjadora.

Lew Tabackin
Desde a primeira formação da "big band" de Toshiko Akiyoshi, o principal solista é o saxofonista e flautista norte-americano Lew Tabackin, 59, segundo marido da "band leader". O solista também estará presente no concerto desta noite.
Como instrumentista, Tabackin cultiva estilos bem diversos. Seus solos de flauta combinam influências eruditas e orientais. Já ao sax tenor segue a linha estilística de Sonny Rollins, improvisando com energia.
Diferentemente da orquestra, que não tem CDs lançados no Brasil há 5 anos, Tabackin pode ser ouvido no ótimo "Live at Vartan Jazz", que acaba de ser distribuído nas lojas da rede Planet Music pelo selo Vartan Jazz. Nessa gravação, ele interpreta composições de Thelonious Monk e Duke Ellington.
Quanto ao repertório de hoje, "miss" Akiyoshi diz que boa parte do concerto será dedicado a peças que integram a música oriental ao jazz. "Essa é a minha marca registrada", justifica, mencionando "Kogun", composição de 1974 que deu título ao primeiro disco da orquestra.
Outra composição quase certa no programa é "Desert Lady Fantasy", gravada em um homônimo CD de 1994. Inspirada em tema de Tabackin, trata de mulheres que vivem em desertos da África.
"O problema é que tenho muitas composições e apenas duas horas para tocar. Terei que ser muito equilibrada nessa seleção", diz a "band leader".


Concerto: Toshiko Akiyoshi Jazz Orchestra
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, Luz, tel. 223.5199, r. 225)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 20 a R$ 60 e de R$ 10 a R$ 30 (estudantes)





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