|
Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Mostra é concebida em homenagem aos 90 anos da artista plástica
Coletiva exuberante contrasta com discrição de Tomie Ohtake
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Tomie Ohtake na Trama
Espiritual da Arte Brasileira" é mostra romântica. Homenageia os 90 anos da artista
ocupando as sete salas e os corredores do instituto cultural que
leva seu nome. Apresenta painel
de afinidades poéticas entre o
íntimo da criadora e referências
consagradas da história da arte
nacional.
A curadoria partiu da coleção
particular de Tomie Ohtake para determinar os núcleos temáticos. Assim, objetos do gosto
pessoal tornaram-se critério de
interpretação de uma obra majoritariamente abstrata.
Resultaram conjuntos sobre o
barroco, arte metafísica, cultura
material indígena, construtivismo, simbologia afro-brasileira,
zen-budismo, imaginário popular e o indizível. Em cada um,
obras da pintora e gravurista são
entremescladas com quadros,
fotos, cestas trançadas e Aleijadinho. Itens da coleção pessoal
da artista também estão expostos, como uma máscara cerimonial de madeira.
As relações mais visíveis entre
Tomie Othake e seus pares nesta
coletiva estão no núcleo dedicado aos nipo-brasileiros. "Do Jabaquara ao Brooklin" tematiza a
aliança entre as práticas picto-caligráficas do zen-budismo e a
abstração hegemônica no pós-guerra, como na "Condensação" (1963), de Tomoshige Kusuno, e no "Sayonara" (1958), de
Manabu Mabe. A vizinhança
entre o sumi-ê sobre papel dito
"Cerejeiras" de Okinada e o sem
título (1959) da pintora põe em
evidência a tênue fronteira entre
a paisagem ideogramática e a
abstração.
Entretanto a prática do não-figurativismo lírico é um convite
às livre-associações. Assim, de
forma coerente com a trajetória
contemplada, a curadoria cria
salas cromaticamente harmonizadas, seja nas partes, como entre os "Anjos" (1924), de Tarsila
do Amaral, e o sem título azul
(1983), de Tomie Othake, seja no
todo, qual o predomínio do
branco na seção "Asè".
A coletiva desdobra sentidos
variados a partir da produção
sintética de Tomie Ohtake. Ela
participou diretamente do processo conceptivo da exposição,
concedendo por autoridade o
aval às afinidades propostas.
Contudo a discrição marcante
da artista torna suas obras quase
escondidas em meio à exuberância geral. Algo de misterioso
permanece após a visita.
Tomie Ohtake na Trama Espiritual Brasileira
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av.
Faria Lima, 201, entrada pela r.
Coropés, tel. 6844-1900)
Quando: de ter. a dom., das 11h às
20h; até 11/1
Quanto: entrada franca
Próximo Texto: Mercado cultural: Fnac tenta implantar "conexão França" Índice
|