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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra é concebida em homenagem aos 90 anos da artista plástica

Coletiva exuberante contrasta com discrição de Tomie Ohtake

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira" é mostra romântica. Homenageia os 90 anos da artista ocupando as sete salas e os corredores do instituto cultural que leva seu nome. Apresenta painel de afinidades poéticas entre o íntimo da criadora e referências consagradas da história da arte nacional.
A curadoria partiu da coleção particular de Tomie Ohtake para determinar os núcleos temáticos. Assim, objetos do gosto pessoal tornaram-se critério de interpretação de uma obra majoritariamente abstrata.
Resultaram conjuntos sobre o barroco, arte metafísica, cultura material indígena, construtivismo, simbologia afro-brasileira, zen-budismo, imaginário popular e o indizível. Em cada um, obras da pintora e gravurista são entremescladas com quadros, fotos, cestas trançadas e Aleijadinho. Itens da coleção pessoal da artista também estão expostos, como uma máscara cerimonial de madeira.
As relações mais visíveis entre Tomie Othake e seus pares nesta coletiva estão no núcleo dedicado aos nipo-brasileiros. "Do Jabaquara ao Brooklin" tematiza a aliança entre as práticas picto-caligráficas do zen-budismo e a abstração hegemônica no pós-guerra, como na "Condensação" (1963), de Tomoshige Kusuno, e no "Sayonara" (1958), de Manabu Mabe. A vizinhança entre o sumi-ê sobre papel dito "Cerejeiras" de Okinada e o sem título (1959) da pintora põe em evidência a tênue fronteira entre a paisagem ideogramática e a abstração.
Entretanto a prática do não-figurativismo lírico é um convite às livre-associações. Assim, de forma coerente com a trajetória contemplada, a curadoria cria salas cromaticamente harmonizadas, seja nas partes, como entre os "Anjos" (1924), de Tarsila do Amaral, e o sem título azul (1983), de Tomie Othake, seja no todo, qual o predomínio do branco na seção "Asè".
A coletiva desdobra sentidos variados a partir da produção sintética de Tomie Ohtake. Ela participou diretamente do processo conceptivo da exposição, concedendo por autoridade o aval às afinidades propostas.
Contudo a discrição marcante da artista torna suas obras quase escondidas em meio à exuberância geral. Algo de misterioso permanece após a visita.


Tomie Ohtake na Trama Espiritual Brasileira
    
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés, tel. 6844-1900)
Quando: de ter. a dom., das 11h às 20h; até 11/1
Quanto: entrada franca



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