São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Reunião de obras de qualidade mediana e ausência de painéis políticos descaracterizam pintor mexicano

Muralista Orozco perde força em São Paulo

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Poemário" é desilusório. Mostra obras do muralista mexicano José Clemente Orozco (1883-1949), mas somente em formato e gênero menor.
Ele ficou célebre por criar painéis históricos de amplas dimensões, junto aos compatriotas Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros. Desde 1922, tinham o apoio do sindicato dos pintores, garantia de distinção no país recém-pacificado sob a presidência de Obregón.
O forte engajamento político no regime revolucionário trouxe a encomenda de grandes formatos de pinturas para prédios públicos durante as duas décadas seguintes, o que contribuiu para fortalecer as novas tendências do debate internacional entre realismo e abstração.
Contudo não estão expostos em "Poemário" exemplares desses painéis. São originalmente fixos para impedir a circulação da obra como mercadoria. Assim, apenas índices da produção principal são aqui visíveis.
Na juventude, Orozco fora caricaturista. Em "Poemário", o meretrício é tema dos desenhos "La Chloe", "A Carta" e "Moça" (1915). Por outro lado, sua pintura é neoacadêmica desde "As Três Cabeças" (1914).
Em 1925, o artista expôs na poderosa galeria Bernheim Jeune de Paris, centro da vanguarda do entre-guerras. O domínio da situação cubista transparece nas telas fantasmagóricas "Casa Branca" (1927). A palheta da seca é contrastante no "Menino Morto" (1928). A geometrização da luta de classes está na lito "Duas Cabeças" (1934).
Mas, na mostra, as posições políticas não ficam marcadas. Algo do revisionismo após a segunda guerra aparece tanto na cena de estupro "Nação Pequena" (1946), quanto no "Tirano" (1947) desnudo. Mas "Pele em Azul" (1947) ressurge deslocada: um monstro degolado e sem sexo contrasta com fundo branco de pintura automotiva.
A curadoria acaba se diluindo em um panorama inespecífico. Guardamos a impressão de um Orozco conservador e de talento mediano, sintetizado no auto-retrato da entrada.


Poemário
  
Artista: José Clemente Orozco
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h; sáb. e dom., das 10h às 21h. Até 2/5
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 229-9844)
Quanto: R$ 4



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