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ARTES PLÁSTICAS
Reunião de obras de qualidade mediana e ausência de painéis políticos descaracterizam pintor mexicano
Muralista Orozco perde força em São Paulo
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Poemário" é desilusório.
Mostra obras do muralista
mexicano José Clemente Orozco
(1883-1949), mas somente em formato e gênero menor.
Ele ficou célebre por criar painéis históricos de amplas dimensões, junto aos compatriotas Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros. Desde 1922, tinham o apoio
do sindicato dos pintores, garantia de distinção no país recém-pacificado sob a presidência de
Obregón.
O forte engajamento político no
regime revolucionário trouxe a
encomenda de grandes formatos
de pinturas para prédios públicos
durante as duas décadas seguintes, o que contribuiu para fortalecer as novas tendências do debate
internacional entre realismo e
abstração.
Contudo não estão expostos em
"Poemário" exemplares desses
painéis. São originalmente fixos
para impedir a circulação da obra
como mercadoria. Assim, apenas
índices da produção principal são
aqui visíveis.
Na juventude, Orozco fora caricaturista. Em "Poemário", o meretrício é tema dos desenhos "La
Chloe", "A Carta" e "Moça"
(1915). Por outro lado, sua pintura
é neoacadêmica desde "As Três
Cabeças" (1914).
Em 1925, o artista expôs na poderosa galeria Bernheim Jeune de
Paris, centro da vanguarda do entre-guerras. O domínio da situação cubista transparece nas telas
fantasmagóricas "Casa Branca"
(1927). A palheta da seca é contrastante no "Menino Morto"
(1928). A geometrização da luta
de classes está na lito "Duas Cabeças" (1934).
Mas, na mostra, as posições políticas não ficam marcadas. Algo
do revisionismo após a segunda
guerra aparece tanto na cena de
estupro "Nação Pequena" (1946),
quanto no "Tirano" (1947) desnudo. Mas "Pele em Azul" (1947)
ressurge deslocada: um monstro
degolado e sem sexo contrasta
com fundo branco de pintura automotiva.
A curadoria acaba se diluindo
em um panorama inespecífico.
Guardamos a impressão de um
Orozco conservador e de talento
mediano, sintetizado no auto-retrato da entrada.
Poemário
Artista: José Clemente Orozco
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h;
sáb. e dom., das 10h às 21h. Até 2/5
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, Bom Retiro, tel. 229-9844)
Quanto: R$ 4
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