São Paulo, Quarta-feira, 07 de Abril de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Dez curadores selecionam obras de dez artistas que dialogam com o artista francês pioneiro do dadaísmo
Brasileiros procuram por Duchamp

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Nenhum artista marcou e marca tanto a arte contemporânea como o francês Marcel Duchamp (1887-1968). Pode não ser tão lembrado pelo grande público como o espanhol Pablo Picasso (1881-1973), mas sua influência é maior.
As conquistas de Picasso, como o cubismo, que liberou a arte de seu papel de imitador da natureza, foram assimiladas e não promovem mais discussões, mas as de Duchamp, como a incorporação de objetos do cotidiano e a sua transformação em obra de arte (ready-made), continuam a suscitar indagações, como as colocadas pelos dez curadores selecionados pelo Paço das Artes para a mostra "Por Que Duchamp?", que abre hoje.
Coube a cada um deles selecionar obras de um artista brasileiro que trabalhasse com questões levantadas pelo artista dadaísta.
Vale lembrar que o próprio conceito de "curadoria" se intensificou com Duchamp, que questionou o que seria obra de arte.
"O projeto duchampiano ainda não foi digerido pelo grande público e está longe de ser ultrapassado pela contemporaneidade", disse Vitória Daniela Bousso, diretora do Paço e uma das curadoras. Ela selecionou Félix Bressan.
O artista gaúcho é quem traz mais em evidência (talvez ao lado de Nelson Leirner, também na mostra) as influências de Duchamp, como na absorção de objetos do cotidiano e na resolução formal de suas esculturas.
A mostra avançará nas questões de Duchamp principalmente com a inclusão de Nuno Ramos e Arthur Bispo do Rosário, selecionados por Stella Teixeira de Barros e Lisette Lagnado, respectivamente.
Nuno comparece com um remake de "Manorá", obra em mármore e vaselina já realizada em Assunção (Paraguai).
A curadora afirma em texto (que fará parte de um livro sobre a mostra) que as aproximações entre os dois, como o erotismo, são sutis. Mais adiante, avisa que pouco importa tentar fazer comparações entre os dois.
A discussão se intensifica com Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), um artista esquizofrênico que passou a maior parte da vida internado em Jacarepaguá.
Ao selecioná-lo, Lagnado aborda a questão da necessária neutralidade do objeto para converter-se em ready-made e em obra de arte. E nada mais neutro ao espectador que uma obra criada como representação de um mundo que não é este. Rosário não deve ter conhecido Duchamp, mas foi acertadamente incorporado pela arte assim como o objeto o foi por Duchamp.

Mostra: Por Que Duchamp? (coletiva com trabalhos de dez artistas selecionados por dez curadores) Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, tel. 813-3627, Cidade Universitária) Vernissage: hoje, às 19h Quando: de segunda a sábado, das 10h às 18h; domingo, das 14h às 18h Quanto: entrada franca Patrocinadores: Itaú Cultural e Secretaria de Estado da Cultura


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