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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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JAZZ

Americano toca na edição paulistana do Jambalaya!

Corey Harris exercita raízes e promove miscigenação de estilos

EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Musicalmente, o Rio de Janeiro está de dar inveja. Neste mês, além do Tim Jazz, estréia no Estado o Jambalaya!, festival que começou anteontem e que, até domingo, reúne atrações nacionais e internacionais do blues e do jazz.
Para evitar congestionamentos na via Dutra, os paulistanos terão a chance de ver, no palco do Bourbon Street, três dos artistas que vão se apresentar em terras cariocas, todos vindos dos EUA.
São eles o grupo de metais de Nova Orleans New Birth Brass Band (hoje), o blueseiro Corey Harris (quinta) e a banda The Wild Magnolias (dia 14), que funde jazz, blues e cantos indígenas.
Momentos antes de arrumar as malas, o guitarrista, cantor, compositor e antropólogo Corey Harris, 34, falou à Folha, por telefone, de sua primeira visita ao Brasil. "Não vejo a hora de conhecer o lugar onde surgiram a capoeira, o berimbau, o samba, Pelé, Rivaldo e Roberto Carlos."
Ainda obscuro fora das searas blueseiras, neste ano o músico participou de um evento que pode tornar seu rosto mais conhecido para ouvintes de outros gêneros. Trata-se de "The Blues", série de sete episódios produzidos pela rede norte-americana de TV PBS e dirigidos por gente como Martin Scorsese, Wim Wenders e Clint Eastwood.
Harris aparece no primeiro programa, "Feel Like Going Home", que a Fnac Pinheiros exibe hoje, a partir das 19h (reservas pelo tel. 3097-0022). "Ajudei Scorsese a mostrar as conexões entre os primórdios do blues rural e a música que era feita na África."
Dificilmente a escolha do diretor poderia ser mais acertada. Apesar de fugir do rótulo de preservacionista, Harris conhece e exercita como poucos as raízes mais profundas do blues. Além disso, acaba de lançar nos EUA o CD "Mississippi to Mali", em que, ao lado de músicos como o africano Ali Farka Toure, investiga a pré-história do estilo.
Mas o guitarrista mantém sua música aberta a outras sonoridades. Desde 1995, ano em que gravou "Between Midnight and Day", ele vem fundindo o seu blues com ritmos caribenhos, funk, reggae e por aí vai.
Como sempre, ao mesmo tempo que angaria novos fãs para o estilo, a estratégia desperta a ira dos puristas. "Não tenho problema nenhum com eles. Talvez eles tenham comigo."
Apesar de liberal quando o assunto são outras musicalidades, Harris dá a entender que o blues de verdade só é executado por negros. "É a única coisa que não podem roubar de nós", diz. Na hora de listar os guitarristas brancos que respeita, nomeia Pete Anderson, Danny Gatton (ambos associados à country music) e o roqueiro Jeff Beck.
"Gosto de um músico pela sua sonoridade, não importando muito qual é o gênero que ele pratica ou a habilidade que tem com o instrumento. É por isso que reconheço que Eric Clapton é um bom guitarrista, mas não consigo virar fã e ver nele um legítimo blueseiro."
Mesmo reconhecendo que gente como Clapton fez muitos jovens incorporarem o blues em seu cardápio auditivo, Harris diz que a melhor maneira de manter o estilo vivo é dar suporte e exposição aos músicos negros e pobres do sul dos EUA. Nos shows brasileiros, ele sobe ao palco apenas com seu violão e sua voz, indício de que irá explorar um repertório próximo do executado por seus pares da frase anterior.


JAMBALAYA! - série de shows com New Birth Brass Band (hoje), Corey Harris (qui.) e The Wild Magnolias (dia 14), às 21h. Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Indianópolis, tel. 5095-6100). Quanto: R$ 35.


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