|
Texto Anterior | Índice
JAZZ
Americano toca na edição paulistana do Jambalaya!
Corey Harris exercita raízes e promove miscigenação de estilos
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Musicalmente, o Rio de Janeiro
está de dar inveja. Neste mês,
além do Tim Jazz, estréia no Estado o Jambalaya!, festival que começou anteontem e que, até domingo, reúne atrações nacionais e
internacionais do blues e do jazz.
Para evitar congestionamentos
na via Dutra, os paulistanos terão
a chance de ver, no palco do Bourbon Street, três dos artistas que
vão se apresentar em terras cariocas, todos vindos dos EUA.
São eles o grupo de metais de
Nova Orleans New Birth Brass
Band (hoje), o blueseiro Corey
Harris (quinta) e a banda The
Wild Magnolias (dia 14), que funde jazz, blues e cantos indígenas.
Momentos antes de arrumar as
malas, o guitarrista, cantor, compositor e antropólogo Corey Harris, 34, falou à Folha, por telefone,
de sua primeira visita ao Brasil.
"Não vejo a hora de conhecer o lugar onde surgiram a capoeira, o
berimbau, o samba, Pelé, Rivaldo
e Roberto Carlos."
Ainda obscuro fora das searas
blueseiras, neste ano o músico
participou de um evento que pode tornar seu rosto mais conhecido para ouvintes de outros gêneros. Trata-se de "The Blues", série
de sete episódios produzidos pela
rede norte-americana de TV PBS
e dirigidos por gente como Martin Scorsese, Wim Wenders e
Clint Eastwood.
Harris aparece no primeiro programa, "Feel Like Going Home",
que a Fnac Pinheiros exibe hoje, a
partir das 19h (reservas pelo tel.
3097-0022). "Ajudei Scorsese a
mostrar as conexões entre os primórdios do blues rural e a música
que era feita na África."
Dificilmente a escolha do diretor poderia ser mais acertada.
Apesar de fugir do rótulo de preservacionista, Harris conhece e
exercita como poucos as raízes
mais profundas do blues. Além
disso, acaba de lançar nos EUA o
CD "Mississippi to Mali", em que,
ao lado de músicos como o africano Ali Farka Toure, investiga a
pré-história do estilo.
Mas o guitarrista mantém sua
música aberta a outras sonoridades. Desde 1995, ano em que gravou "Between Midnight and
Day", ele vem fundindo o seu
blues com ritmos caribenhos,
funk, reggae e por aí vai.
Como sempre, ao mesmo tempo que angaria novos fãs para o
estilo, a estratégia desperta a ira
dos puristas. "Não tenho problema nenhum com eles. Talvez eles
tenham comigo."
Apesar de liberal quando o assunto são outras musicalidades,
Harris dá a entender que o blues
de verdade só é executado por negros. "É a única coisa que não podem roubar de nós", diz. Na hora
de listar os guitarristas brancos
que respeita, nomeia Pete Anderson, Danny Gatton (ambos associados à country music) e o roqueiro Jeff Beck.
"Gosto de um músico pela sua
sonoridade, não importando
muito qual é o gênero que ele pratica ou a habilidade que tem com
o instrumento. É por isso que reconheço que Eric Clapton é um
bom guitarrista, mas não consigo
virar fã e ver nele um legítimo
blueseiro."
Mesmo reconhecendo que gente como Clapton fez muitos jovens incorporarem o blues em seu
cardápio auditivo, Harris diz que
a melhor maneira de manter o estilo vivo é dar suporte e exposição
aos músicos negros e pobres do
sul dos EUA. Nos shows brasileiros, ele sobe ao palco apenas com
seu violão e sua voz, indício de
que irá explorar um repertório
próximo do executado por seus
pares da frase anterior.
JAMBALAYA! - série de shows com New
Birth Brass Band (hoje), Corey Harris
(qui.) e The Wild Magnolias (dia 14), às
21h. Onde: Bourbon Street Music Club (r.
dos Chanés, 127, Indianópolis, tel. 5095-6100). Quanto: R$ 35.
Texto Anterior: Teatro: Peça vê o masculino através de Desdêmona Índice
|