São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

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CINEMA

Cinemateca traz oito longas

Ciclo revê polêmicas de filmes de Louis Malle

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Louis Malle (1932-1995) parece sempre ter sabido que o cinema se alimenta de escândalo. Ao longo de sua carreira, soube como poucos explorar essa dimensão, o que se poderá verificar a partir de hoje na mostra da Sala Cinemateca.
Ou antes: será mesmo que se poderá verificar? Será que algo resta do escândalo de "Os Amantes" (1958), em que aborda de frente o espinhoso tema do adultério? Talvez visto hoje o filme pareça um tanto tímido. Mas é quase certo que o espectador poderá reter a inflexão que faz sua força: a necessidade de viver colocado à frente das convenções.
Talvez o melhor trabalho de Malle nessa primeira fase seja "Trinta Anos Esta Noite" (1963), adaptação do romance de Drieu La Rochelle sobre o sujeito que, ao completar 30 anos, decide se matar e passa em revista sua vida, ao revisitar os amigos. Drieu fora ele próprio um suicida e, antes disso, fechou com os nazistas durante a Segunda Guerra. Talvez fosse um homem perdido num mundo que não se deixa compreender -como seu personagem e, de certa forma, como nós.
Dos oito filmes a serem apresentados nesta seleção, ao menos dois outros exploram o escândalo. Ele é de ordem sexual em "Sopro no Coração" (1971), em que as ansiedades de um adolescente desembocam em uma cena sugerida de incesto. Ele é de ordem política e mais inesperado em "Lacombe Lucien" (1974). O personagem é um jovem que adere aos alemães, durante a ocupação da França. O escândalo consistiu em Malle recusar-se a condenar o colaboracionista e preocupar-se mais em compreender suas razões. A França, que até hoje convive mal com esse período, e o mundo intelectualizado (e de esquerda) dos anos 70 não gostaram.
Malle não se apertou e foi para os EUA, onde fez sucesso com "Pretty Baby - Menina Bonita" (1978, fora da mostra). Embora seja lícito sustentar que o melhor de seus filmes seja "Atlantic City" (1981, outro ausente), a verdade é que a passagem de Malle pelos EUA caracterizou-se pela discrição de filmes que ele gostava, mas que não fizeram sucesso, como "Lua Negra" (1975) e "Meu Jantar com André" (1981).
Após reconciliar-se com a França em "Adeus Meninos" (1987, fora da mostra), em que escancara o anti-semitismo francês (mas também o seu contrário), Malle lança-se novamente à provocação com "Loucuras de uma Primavera" (1989, fora da mostra), comédia em que debocha de outra instituição francesa, o Maio de 1968.


Louis Malle: Clássicos da Nouvelle Vague - Parte 1
Quando:
de hoje a dom., na Sala Cinemateca (lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, tel. 5084-2177 r. 210); veja programação em www.cinemateca.gov.br
Quanto: R$ 8


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