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CINEMA
Cinemateca traz oito longas
Ciclo revê polêmicas de filmes de Louis Malle
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Louis Malle (1932-1995) parece
sempre ter sabido que o cinema se
alimenta de escândalo. Ao longo
de sua carreira, soube como poucos explorar essa dimensão, o que
se poderá verificar a partir de hoje
na mostra da Sala Cinemateca.
Ou antes: será mesmo que se
poderá verificar? Será que algo
resta do escândalo de "Os Amantes" (1958), em que aborda de
frente o espinhoso tema do adultério? Talvez visto hoje o filme pareça um tanto tímido. Mas é quase certo que o espectador poderá
reter a inflexão que faz sua força: a
necessidade de viver colocado à
frente das convenções.
Talvez o melhor trabalho de
Malle nessa primeira fase seja
"Trinta Anos Esta Noite" (1963),
adaptação do romance de Drieu
La Rochelle sobre o sujeito que, ao
completar 30 anos, decide se matar e passa em revista sua vida, ao
revisitar os amigos. Drieu fora ele
próprio um suicida e, antes disso,
fechou com os nazistas durante a
Segunda Guerra. Talvez fosse um
homem perdido num mundo que
não se deixa compreender -como seu personagem e, de certa
forma, como nós.
Dos oito filmes a serem apresentados nesta seleção, ao menos
dois outros exploram o escândalo. Ele é de ordem sexual em "Sopro no Coração" (1971), em que as
ansiedades de um adolescente desembocam em uma cena sugerida
de incesto. Ele é de ordem política
e mais inesperado em "Lacombe
Lucien" (1974). O personagem é
um jovem que adere aos alemães,
durante a ocupação da França. O
escândalo consistiu em Malle recusar-se a condenar o colaboracionista e preocupar-se mais em
compreender suas razões. A
França, que até hoje convive mal
com esse período, e o mundo intelectualizado (e de esquerda) dos
anos 70 não gostaram.
Malle não se apertou e foi para
os EUA, onde fez sucesso com
"Pretty Baby - Menina Bonita"
(1978, fora da mostra). Embora
seja lícito sustentar que o melhor
de seus filmes seja "Atlantic City"
(1981, outro ausente), a verdade é
que a passagem de Malle pelos
EUA caracterizou-se pela discrição de filmes que ele gostava, mas
que não fizeram sucesso, como
"Lua Negra" (1975) e "Meu Jantar
com André" (1981).
Após reconciliar-se com a França em "Adeus Meninos" (1987, fora da mostra), em que escancara o
anti-semitismo francês (mas também o seu contrário), Malle lança-se novamente à provocação com
"Loucuras de uma Primavera"
(1989, fora da mostra), comédia
em que debocha de outra instituição francesa, o Maio de 1968.
Louis Malle: Clássicos da Nouvelle Vague - Parte 1
Quando: de hoje a dom., na Sala
Cinemateca (lgo. Sen. Raul Cardoso, 207,
tel. 5084-2177 r. 210); veja programação
em www.cinemateca.gov.br
Quanto: R$ 8
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