São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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LITERATURA

Lygia Fagundes Telles e Carlos Fuentes abrem série temática sobre a poeta a partir de hoje no Sesc Pinheiros

Hilst emerge de encontro de seus pares

Eder Chiodetto - 9.jan.2002/Folha Imagem
A escritora Hilda Hilst na chácara Casa do Sol, perto de Campinas, onde morou até a sua morte


JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

Um ano e um mês após sua morte, a poeta Hilda Hilst recebe um misto de homenagem e de tentativa de resgate de sua obra. Em torno da autora, considerada uma das maiores do século 20 no Brasil, reúnem-se a partir de hoje amigos e pessoas ligadas ao seu trabalho em um ciclo de quatro encontros temáticos no auditório do Sesc Pinheiros, em São Paulo. Todos têm entrada franca.
Ao ver passar "em brancas nuvens" o primeiro ano da morte de Hilst -e movida também pela paixão que nutre por sua obra-, a poeta, cantora e compositora Beatriz Azevedo decidiu organizar um evento, aberto ao público, no qual pudesse trazer à tona o legado da escritora.
"Fiquei morando vários anos fora do Brasil. Quando voltei, logo em seguida ela morreu. Não deu tempo de revê-la. Fiquei superchateada. Foi uma época em que morreram três grandes poetas com que eu tinha muito contato: o Waly Salomão, o Haroldo de Campos e a Hilda Hilst", diz Azevedo, curadora do evento. "Fiquei indignada com essa coisa de tão rapidamente esquecerem. Desde o final do ano passado, só aconteceu uma missa na Casa do Sol [chácara perto de Campinas onde Hilst morou até a sua morte]. Mas foi uma cerimônia íntima."
O formato do projeto "Palavra Viva: Hilda Hilst" prevê depoimentos sobre a poeta, palestras e leituras dramáticas dos textos da autora. Sob o tema "Vida e Morte", a programação será aberta hoje com testemunhos dos escritores e amigos Lygia Fagundes Telles e Carlos Fuentes, ao lado de Antonio Fernando de Franceschi, superintendente-executivo do Instituto Moreira Salles. Azevedo se encarregará da leitura de "Da Morte, Odes Mínimas".
"A gente procurou ser fiel à própria Hilda, trazendo as pessoas que eram amigas e interlocutoras", conta Azevedo.
Com o projeto, a curadora pretende não apenas homenagear a poeta mas também criar uma aproximação entre a obra de Hilst e os leitores. Ousada e original, Hilda Hilst não foi uma autora muito lida. Era considerada "difícil". Publicados por editoras pequenas e com tiragens modestas, seus livros começaram a ganhar em 2001 reimpressões em uma grande editora, a Globo. O mais recente relançamento é "O Caderno Rosa de Lori Lamby".
"Ainda nem todo mundo leu a obra dela. Está num processo de crescimento e tem tudo para chegar às pessoas como é com a Clarice Lispector", aposta a curadora.
Fazendo uma analogia entre a polifonia dos textos de Hilst, no qual uma frase pode ter vários sentidos, e os links da internet, que oferecem ao usuário uma infinidade de possibilidades, Azevedo acredita que o público jovem tem "tudo para consagrá-la como uma escritora popular".
"Minha intuição diz que Hilda vai ser uma das mais lidas deste milênio. Acho que vai acontecer neste século. Ela viu o respeito dos grandes escritores e críticos, mas não teve o retorno do público", diz. "Tenho essa esperança de que da mesma forma que Guimarães Rosa foi reconhecido, ela vai ocupar esse espaço. Vai continuar sendo uma fonte jorrando literatura de altíssima qualidade."


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