São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA/"PAISAGEM MÍNIMA"

Lescher busca fluidez em esculturas

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Logo na entrada da galeria vê-se uma pequena engrenagem composta por dois objetos em formato quadrangular de madeira: um está colado à parede, outro, suspenso no ar por um eixo que sai do primeiro quadrado. Aquele que está livre possui uma manivela que pode ser manipulada pelo espectador.
Quem o faz ou se imagina fazendo -afinal, apenas a operação mental já é suficiente- irá criar, a partir das pontas do quadrado, uma imagem arredondada, justamente a forma que irá se repetir na maioria das obras que o artista Artur Lescher apresenta em "Paisagem Mínima" (hoje é o último dia, na galeria Nara Roesler).
Com isso, Lescher revela, logo no início da exposição, não só o formato padrão que será visto a partir de então -o curvilíneo-, mas sua característica relação com o espaço, pois a manivela só pode ser movida, já que seu eixo está preso ao quadrado na parede.
As esculturas de Lescher, e isso não é novidade, não são apenas esculturas. Elas sempre possuem um caráter de instalação, já que interagem com o local onde são exibidas, redesenhando esses espaços. Elas estão sempre em diálogo com o entorno, como o que ocorria, por exemplo, na 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, em que obras horizontais -uma de madeira e outra recheada com água- estavam em sintonia com o espaço, também horizontal, do próprio Pavilhão da Bienal.
Agora, em "Paisagem Mínima", Lescher radicaliza essa operação, a ponto de criar a impressão de que agora elas, as esculturas, realizaram um movimento e foram como que congeladas, antes que terminassem seu destino. Não por acaso, agora elas passaram a ter título e, em geral, nomes que sugerem movimento: rio, chuva, cachoeira, cometa. Se antes suas obras sugeriam harmonia, como na Bienal, agora elas insinuam fluidez, deslocamento.
É assim em "Raio", o trabalho na mostra que melhor transparece essa postura: dois imensos cones partem da parede em forma perpendicular e suas pontas chegam próximas do chão, ameaçando rompê-las. Parecem interrompidas antes do momento fatal. "Chuva" apresenta esse mesmo princípio, pois apresenta um agrupamento de objetos com formas cônicas suspensos no ar.

Improvisação
Mas "Paisagem Mínima" traz ainda algo distinto nas obras até então produzidas por Lescher: um grau de improvisação, de caos. É assim em "Rio Prata", "Rio" e "Praia", obras que apresentam matérias moles em formatos orgânicos, algumas compostas por fios que se espalham no chão. Nessas obras, a costumeira precisão formal do artista dá espaço à improvisação, e sua costumeira formalidade no uso de materiais, como a madeira e o metal, passa a abarcar também elementos mais maleáveis e instáveis, como folhas de alumínio.
Essa fluidez, que já se prenunciava por meio da manivela na primeira obra da mostra, dá nova amplitude às relações espaciais que as obras de Lescher ativam. Se antes havia um estado de repouso em suas obras, agora uma nova tensão sugere novos caminhos para suas esculturas.


Artur Lescher - Paisagem Mínima
   
Quando: hoje, das 11h às 17h (último dia)
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, Jardim Europa, tel. 3063-2344)
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Artes plásticas: Exposição de Volpi tem entrada livre amanhã
Próximo Texto: Cinema/Crítica: Processo de revelação guia "A Grande Viagem"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.