São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Na exposição "Morte das Casas", artista constrói quatro instalações no prédio do centro da cidade

Nuno Ramos ocupa o CCBB com imponência

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Morte das Casas" é mostra de peso. Nuno Ramos constrói quatro instalações no CCBB, experimentando possibilidades inusitadas do antigo edifício no centro velho.
A entrada é grandiloqüente. A clarabóia de vitrô chove dilúvio tropical pelos quatro andares do vão livre. Vários tubos presos no teto choram continuamente sobre uma piscina instalada entre os degraus do saguão de mosaico. Apesar das várias caixas acústicas acopladas à peça, apenas no último andar se ouvia ruído indistinto na tarde de 28 de abril passado.
Na galeria circular do subsolo, lambris de dois metros de altura criam um corredor estreito. Os muros de areia e pó xadrez guardam as marcas das formas dentro das quais foram socados.
Contudo a imponência do material é suavizada pela expressão impressa por extenso: "Alvorada lá no morro que". As letras recortam-se em positivo numa parede e em negativo na oposta. No cofre do meio, vídeo de pessoas levando um tiro na nuca, após gritarem por megafone: "Alvorada!".
No segundo andar, as janelas foram abertas pela primeira vez. Entra a claridade, iluminando os três barcos emborcados que formam a obra "Casco". O amálgama de areia e pigmento escuro é moldado como fundo de embarcações apoiadas diversamente sobre base em paralelepípedo.
Sala anexa mostra vídeo complementar, também chamado "Casco". O trabalho de destroçar barcos, remontá-los e ver os destroços serem engolidos pela areia é acompanhado por declamações poéticas de homens com a cara coberta de parafina.
No último andar, o único conjunto sem narrativa letrada. "Choro Negro" são três peças de mármore, cada qual com duto no topo. Neles há pedra de breu que, ao ser derretida lentamente pelo suave aquecimento das esculturas, se derrama pelas laterais.
Poesia e vídeo são técnicas menos amadurecidas na obra do artista que o tridimensional. Assim, as partes narrativas ganham interesse devido à conexão com o trabalho plástico. A proporção das duas grandes instalações com os cômodos ocupados evidencia domínio sobre o prédio. Por outro lado, os dois trípticos retomam soluções anteriores de Nuno Ramos, atestando rigor no desenvolvimento das próprias formas.


Nuno Ramos
    
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 21h; até 20/6
Quanto: entrada franca



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