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ARTES PLÁSTICAS
Na exposição "Morte das Casas", artista constrói quatro instalações no prédio do centro da cidade
Nuno Ramos ocupa o CCBB com imponência
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Morte das Casas" é mostra de peso. Nuno Ramos
constrói quatro instalações no
CCBB, experimentando possibilidades inusitadas do antigo edifício no centro velho.
A entrada é grandiloqüente. A
clarabóia de vitrô chove dilúvio
tropical pelos quatro andares do
vão livre. Vários tubos presos no
teto choram continuamente sobre uma piscina instalada entre os
degraus do saguão de mosaico.
Apesar das várias caixas acústicas
acopladas à peça, apenas no último andar se ouvia ruído indistinto na tarde de 28 de abril passado.
Na galeria circular do subsolo,
lambris de dois metros de altura
criam um corredor estreito. Os
muros de areia e pó xadrez guardam as marcas das formas dentro
das quais foram socados.
Contudo a imponência do material é suavizada pela expressão
impressa por extenso: "Alvorada
lá no morro que". As letras recortam-se em positivo numa parede
e em negativo na oposta. No cofre
do meio, vídeo de pessoas levando um tiro na nuca, após gritarem
por megafone: "Alvorada!".
No segundo andar, as janelas foram abertas pela primeira vez.
Entra a claridade, iluminando os
três barcos emborcados que formam a obra "Casco". O amálgama de areia e pigmento escuro é
moldado como fundo de embarcações apoiadas diversamente sobre base em paralelepípedo.
Sala anexa mostra vídeo complementar, também chamado
"Casco". O trabalho de destroçar
barcos, remontá-los e ver os destroços serem engolidos pela areia
é acompanhado por declamações
poéticas de homens com a cara
coberta de parafina.
No último andar, o único conjunto sem narrativa letrada.
"Choro Negro" são três peças de
mármore, cada qual com duto no
topo. Neles há pedra de breu que,
ao ser derretida lentamente pelo
suave aquecimento das esculturas, se derrama pelas laterais.
Poesia e vídeo são técnicas menos amadurecidas na obra do artista que o tridimensional. Assim,
as partes narrativas ganham interesse devido à conexão com o trabalho plástico. A proporção das
duas grandes instalações com os
cômodos ocupados evidencia domínio sobre o prédio. Por outro
lado, os dois trípticos retomam
soluções anteriores de Nuno Ramos, atestando rigor no desenvolvimento das próprias formas.
Nuno Ramos
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 21h;
até 20/6
Quanto: entrada franca
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