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TEATRO
Espetáculo no CCBB apresenta o repertório de 45 anos do ator e explora flexibilidade do roteiro e improvisação
Renato Borghi sintetiza produção brasileira
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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O ator Renato Borghi em cena de "Borghi em Revista", com direção de Élcio Nogueira Seixas, que fica em cartaz no CCBB até junho |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
A autobiografia é um gênero perigoso de encenar: irresistivelmente, o ator tende a se
tornar promotor de si mesmo para uma platéia de fãs. Entre o distanciamento crítico, que sempre
pode soar como falsa modéstia, e
o despudor de se limitar a responder perguntas do público, em geral peças assim têm mais valor pelo evento do que pelo espetáculo.
Não é o caso de "Borghi em Revista". Cercado por cúmplices
competentes -como o roteirista
e diretor Élcio Nogueira Seixas e
seu filho Ariel Borghi, com quem
contracena-, Renato Borghi
desfia sua "renatopéia" antes de
tudo com um imenso humor.
Logo de saída escracha com o
que poderia haver de autocelebrativo na proposta: entra em cena
apresentado entusiasticamente
como um grande cantor, que é o
que seria se não tivesse sido seduzido quase por acaso ao teatro.
Além de desautorizar o que poderia ser um museu de cera de
seus grandes momentos, essa auto-ironia é particularmente útil
como contraponto de evocações
ainda dolorosas, como a ditadura
e o confisco de Collor. Por outro
lado, não se limita a narrar o que
protagonizou no teatro, apesar de
seu repertório de 45 anos de aventuras glórias e inglórias.
Com a mesma generosidade,
Borghi descreve o teatro que via
antes de subir no palco: o teatro
de revista, que remete à sua musa
Dalva de Oliveira, Oscarito e
Grande Otelo, além do fascínio
pelos carismáticos atores da velha
guarda, como Dulcina de Morais
e Procópio Ferreira. Na última
parte, não menospreza o teatro
atual, evocando com o mesmo
entusiasmo o recente ressurgimento do teatro de grupo, do que
ele foi um fomentador importante no centro de seu Teatro Promíscuo e sua Mostra de Dramaturgia Contemporânea.
O espetáculo é, portanto, uma
aula de um professor incomparável, que não só sintetiza períodos
inteiros em fórmulas irresistíveis
(o primeiro Arena era um teatro
de "James Dean da Mooca") como imita com desenvoltura uma
mágica galeria de atores: vemos
em cena Procópio, Cacilda, Sérgio
Cardoso, Fauzi Arap. Na platéia,
segurando o fio dessa meada,
Ariel Borghi vai soprando tópicos
para seu pai improvisar, até ser
convocado ("nessa época você
nasceu, pode subir ao palco").
Dependendo do dia, personagens da trama surgem ao vivo na
platéia, enquanto público, e travam o diálogo, o que permite o
habilmente flexível roteiro.
Mas o improviso não gera desleixo: a seqüência prevista de fatos
está ancorada na luxuosa e sóbria
direção de arte de Márcia Moon,
sugestão cubista de coxias, cortinas e escadas, enriquecida pela
projeção de fotos e filmes que
concretizam os fatos evocados.
No momento de maior emoção,
quando às imagens do jovem
Abelardo do "Rei da Vela", em
1968, se sucede uma performance
ao vivo, com o mesmo figurino e
juventude, é impossível não pensar na fórmula de Patrice Pavis: a
memória do teatro só se conserva
por inteiro no corpo dos atores.
Assim, todo ator é um arquivo
vivo do teatro, apesar de só os
maiores atores conhecerem a glória de batizar teatros, se tornarem
um nome comum. Mas há os que
vão ainda além: por sua generosidade e entusiasmo constantes,
tornam-se pontos de encontro.
Todo o teatro brasileiro se encontra em Renato Borghi.
Borghi em Revista
Roteiro e direção: Élcio Nogueira Seixas
Onde: CCBB - teatro (r. Álvares
Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quando: de qui. a sáb., às 20h; dom., às
19h; até 6/6
Quanto: R$ 15
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