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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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Pianista mineiro se apresenta ao lado da Orquestra Sinfônica Municipal e sola no "Concerto nº 2", do compositor polonês

Chopin nas mãos de Nelson Freire

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Teatro Municipal recebe, nesta semana, o artista mais requisitado da temporada paulistana de concertos: o pianista mineiro Nelson Freire, 58.
Presente em quatro das seis séries internacionais de São Paulo, Freire sola no "Concerto nº 2", de Chopin, hoje e amanhã, com a Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência de Ira Levin. Para este mês, no Brasil, ele tem ainda um recital em Porto Alegre, dia 16, e a abertura da temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira, dia 19, no Rio de Janeiro, interpretando o concerto de Schumann.
"É uma inflação Nelson Freire", brinca o pianista, cuja agenda internacional também está agitada, incluindo um recital em Paris, em abril, e duas turnês no Japão, além de aparições nos EUA, concertos na França sob a batuta de Kurt Masur e a tarefa de tocar Rachmaninov com a Filarmônica de São Petersburgo.
A demanda pelo pianista parece ter crescido na razão direta do sucesso de seu último álbum solo, dedicado a Chopin. Lançado pela multinacional Decca, o CD recebeu os principais prêmios fonográficos franceses, incluindo o "Grand Prix du Disque". Além disso, no último dia 26, Nelson Freire foi agraciado com o Victoire, mais importante láurea da música erudita na França, equivalente naquele país ao que é o César para o cinema.
Impulsionado pelo êxito, o pianista entrou em estúdio no final do ano passado para registrar, na Suíça, um novo disco solo, desta vez completamente dedicado a Schumann, incluindo o "Carnaval op. 9", as "Kinderszenen", "Papillons" e "Arabeske". Não há ainda previsão para o lançamento comercial deste CD.
E em 1º de maio, no Rio de Janeiro, ele participa do lançamento de "Nelson Freire, o Homem e Sua Música", documentário rodado pelo cineasta João Moreira Salles.
O "Concerto nº 2", de Chopin, que ele apresenta hoje e amanhã em São Paulo, Nelson Freire lembra-se de tê-lo tocado pela primeira vez no Porto (Portugal), em 1967. "Depois do ensaio, fui para o hotel dormir, mas me esqueci de colocar o despertador para tocar", conta. "Fui acordado por um telefonema, avisando que a orquestra estava tocando a abertura. Saí apressadamente e fui vestindo a casaca do concerto no táxi."
"Martha Argerich acha esse o concerto mais difícil do mundo. É quase como se fosse um Mozart romântico, porque cada nota faz sentido, não existe nada óbvio nem supérfluo, e é muito complicado achar a atmosfera certa", explica. "Gosto mais deste concerto de Chopin do que do "nº 1". Guiomar Novaes dizia que ele é uma caixinha de jóias. A sensibilidade fica à flor da pele o tempo todo."

Strauss e Stravinski
Para complementar o programa, o regente norte-americano Ira Levin escolheu peças que, na sua visão, possam mostrar a evolução que a Orquestra Sinfônica Municipal sofreu desde o início de sua gestão à frente dela, no começo do ano passado: o poema sinfônico "Don Juan", de Richard Strauss ("eu queria uma obra bem vibrante para começar a temporada") e "A Sagração da Primavera", de Stravinski ("é uma peça que não era tocada há anos no teatro, e, justamente por sua grande dificuldade, funciona como um bom veículo para mostrar o novo nível da orquestra").
"Quando assumi a Sinfônica Municipal, ela não estava em boa forma", afirma Levin. "Hoje, todo mundo reconhece que a orquestra progrediu imensamente e se encontra em um nível diferente."
O regente diz que não quer competir com ninguém, muito menos com a Osesp, "mesmo porque muitos dos músicos que estão hoje no Municipal já tocaram na Osesp".
"Eu não estou governando um estado policial", diz Levin. "Quero a orquestra funcionando profissionalmente, mas sem terror."
Uma peculiaridade de Levin é reger a maioria de seus concertos de cor, fato muito raro entre seus pares brasileiros. O maestro, contudo, não dá grande importância a isso: "Fui abençoado com uma memória muito boa, mas isso não é necessariamente importante para a orquestra. Grandes maestros do passado regiam com a partitura; e, quando você ouve uma boa gravação, não sabe se o regente estava ou não com a partitura na frente quando a fez".


NELSON FREIRE E ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL. Quando: hoje, às 11h, e amanhã, às 21h. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698). Quanto: de R$ 10 a R$ 35.


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