São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003 |
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FESTIVAL É TUDO VERDADE Sessão do evento de documentários destaca personagens esquecidos da cultura das ruas Populares brilham em tela de festival
DA REPORTAGEM LOCAL Rubens Francisco Lucchetti, 73, publicou 26 livros sob este mesmo nome e 1.514 sob heterônimos como Urbain Laplace, R. Bava, Vera Waleska e Theodore Field. E você sabe quem ele é? Escritor -"Não sou um escritor, sou um ficcionista", diria-, roteirista de cinema e de HQs de terror, desenhista, animador, R. F. Lucchetti é também o centro de "O Papa da Pulp - Faces e Disfarces", documentário realizado pelo cineasta experimental Carlos Adriano, 36, que tem sessão hoje no É Tudo Verdade. "A inquietação ficcional de Lucchetti, com seus heterônimos e múltiplas personalidades, é matéria muito instigante para o tipo de cinema que eu faço", diz o cineasta de "A Voz e o Vazio: A Vez de Vassourinha", "Reminiscências" e "Militância", entre outros cinedocumentos em película. Há muito esquecido no interior de São Paulo, mais especificamente na cidade de Ribeirão Preto, Lucchetti abre as portas de sua imensa biblioteca para Adriano e revela não só uma pilha de livros e quadrinhos empoeirados, mas uma série de "auto-retratos" para os autores e até tradutores que inventa e um arquivo de animações desenhadas em película por ele próprio, que foi também o criador do Núcleo Experimental de Animação de Ribeirão Preto. "A gente percebe um certo dissabor de não ser reconhecido. Ele diz que gostaria de ter publicado mais livros com o próprio nome. No cinema, por exemplo, em que assinava roteiros de filmes do José Mojica [Zé do Caixão", raramente é creditado", comenta Adriano. Segundo o diretor, Lucchetti prometeu estar presente à sessão de domingo de "O Papa da Pulp", que, depois do É Tudo Verdade, embarca para uma exibição no festival Hot Docs, em Toronto. Baú da MPB "Rua da Escadinha, 162" é o título de outro minidocumentário que será exibido com o filme de Adriano na sessão de hoje do festival. Dirigido por Márcio Câmara, técnico de som do longa "Lavoura Arcaica", o filme investiga o valioso arquivo pessoal de Christiano Câmara, pesquisador musical, "ajuntador de discos" cearense e tio do cineasta. Rodada originalmente em negativos vencidos, a produção empresta o brilho indignado do discurso de Câmara, que defende, entre outras posições, que cultura popular é aquela que o povo escolhe, para tecer uma narrativa ao mesmo tempo nostálgica e denunciatória. "A idéia inicial era fazer um filme de denúncia, mas, à medida em que fui descobrindo a força das raízes culturais dele, fui caminhando para um lado mais lírico", diz Márcio Câmara, 40, que também cresceu em meio aos cerca de 40 mil discos, pôsteres e retratos de estrelas do cinema e da música popular brasileira. A casa da rua da Escadinha é visitada diariamente por turistas, elemento bem aproveitado pelo diretor estreante. "Não queria matar a espontaneidade. A casa é assim mesmo, entra e sai gente a toda hora para fazer consultas. É como se ele estivesse conversando com o espectador." (DIEGO ASSIS) É TUDO VERDADE. Exibição dos minidocumentários "Rua da Escadinha, 162", "Visionários", "Boi" e "O Papa da Pulp". Quando: hoje, às 15h. Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 3082-0213. Quanto: entrada franca. Próximo Texto: "O Dia que Não Vou Esquecer": Crianças são norte de cineasta contra as perversões da tradição Índice |
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