São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Italiano aborda a traição com realismo cru

Em "Que Mais Posso Querer", Silvio Soldini disseca adultério sem pecha de escândalo nem sentimentalismo

Divulgação
O casal de amantes Domenico(Pierfrancesco Favino) e Anna (Alba Rohrwacher) no longa

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

De livros memoráveis ("Madame Bovary", "O Amante de Lady Chatterley") a filmes infames ("Atração Fatal", "Proposta Indecente"), passando por telenovelas, o adultério nunca se livrou da pecha do escândalo.
Um das peças centrais do drama romântico, a traição pede um tratamento fantasioso, grandiloquente, sensacionalista. Seus estágios habituais -desejo, prazer, culpa, penitência- surgem em desmedidos espasmos.
Com "Que Mais Posso Querer", o diretor italiano Silvio Soldini ("Pão e Tulipas") vai contra essa tradição. Ele fala do adultério com um realismo cru.
O cineasta observa os personagens como se estivessem num microscópio: com interesse genuíno, mas distanciado. Revela emoções sem se contaminar por elas.
Os protagonistas são Anna (Alba Rohrwacher), executiva de uma seguradora, adorada pelo marido; e Domenico (Pierfrancesco Favino), empregado de um bufê, com casamento estável e filhos.
A eles é dirigida a irônica pergunta do título. As respostas são conhecidas: paixão, aventura, fuga da rotina.
Soldini não foge das cenas tórridas de sexo. Mais importante, porém, dentro do seu projeto, é filmar o misto de euforia e estranheza do pós-coito e, depois, mostrar o choque entre o universo recém-criado e a realidade.
Sem que os amantes manifestem isso em palavras, eles irão compreender o verdadeiro drama de uma traição: para que a paixão aconteça plenamente, ela troca a velha ordem por uma nova.
Ao dissecar sem sentimentalismo as minúcias de um adultério, Soldini transmite a profundidade das confusas e por vezes antagônicas emoções que tomam conta dos amantes -algo que a maioria das obras sobre o tema não consegue alcançar.

QUE MAIS POSSO QUERER
AVALIAÇÃO bom



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