São Paulo, sábado, 09 de junho de 2001

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DISCO/CRÍTICA

Artista opta pelo rock'n'roll cru em novo trabalho

DA REPORTAGEM LOCAL

Da diáspora dos Mutantes, os integrantes originais acabaram assumindo, historicamente, papéis bem diferentes. Arnaldo Baptista se tornou o simpático maluco beleza; Rita Lee virou rainha do pop, enquanto o pop não era bunda; a Sérgio Dias restou o papel ingrato do músico de excelência ímpar, mas impopular pela insistência no mergulho técnico, muitas vezes autocentrado.
Tudo se agravou por ele se anexar a um gênero cultuado em círculos restritos e muito fanáticos, o do rock progressivo. Envelhecido o gênero, o jovem Sérgio Dias envelheceu junto, precocemente.
Em "Estação da Luz" reverbera o grito pró-juventude que domina hoje seu discurso: Sérgio deixou de lado as elucubrações e cria seu disco mais cru, mais rock'n'roll básico. Parece antigão, ainda, mas é um passo adiante na reconquista da comunicação perdida com o público jovem, de quem tanto o progressivo quanto o rock cru de recorte setentista andam há muito divorciados.
Mas os esforços de rejuvenescimento são vários no CD. Ocorrem, até, na versão cálida de "Anjos do Sul", da fase maldita dos Mutantes. A perícia técnica está ali, mas não a ponto de ferir ouvidos de leigos que não vêem no rock virtuose uma profissão de fé. É por isso que cintilam a delicadeza extrema de "Tower of Crystal" e o senso de humor recuperado em "La Femme Lourdina".
No todo, fica a meio caminho, seja pelas letras panfletárias, seja pelo desencontro do grande instrumentista brasileiro com as arestas da música e com a juventude que ele tanto ama. O que não falta é inquietude, e dessa árvore ainda pode vir sombra boa.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Estação da Luz
  
Artista: Sérgio Dias
Lançamento: Ouver
Quanto: R$ 25, em média




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