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DISCO/CRÍTICA
Artista opta pelo rock'n'roll cru em novo trabalho
DA REPORTAGEM LOCAL
Da diáspora dos Mutantes,
os integrantes originais acabaram assumindo, historicamente, papéis bem diferentes. Arnaldo Baptista se tornou o simpático
maluco beleza; Rita Lee virou rainha do pop, enquanto o pop não
era bunda; a Sérgio Dias restou o
papel ingrato do músico de excelência ímpar, mas impopular pela
insistência no mergulho técnico,
muitas vezes autocentrado.
Tudo se agravou por ele se anexar a um gênero cultuado em círculos restritos e muito fanáticos, o
do rock progressivo. Envelhecido
o gênero, o jovem Sérgio Dias envelheceu junto, precocemente.
Em "Estação da Luz" reverbera
o grito pró-juventude que domina hoje seu discurso: Sérgio deixou de lado as elucubrações e cria
seu disco mais cru, mais
rock'n'roll básico. Parece antigão,
ainda, mas é um passo adiante na
reconquista da comunicação perdida com o público jovem, de
quem tanto o progressivo quanto
o rock cru de recorte setentista
andam há muito divorciados.
Mas os esforços de rejuvenescimento são vários no CD. Ocorrem, até, na versão cálida de "Anjos do Sul", da fase maldita dos
Mutantes. A perícia técnica está
ali, mas não a ponto de ferir ouvidos de leigos que não vêem no
rock virtuose uma profissão de fé.
É por isso que cintilam a delicadeza extrema de "Tower of Crystal"
e o senso de humor recuperado
em "La Femme Lourdina".
No todo, fica a meio caminho,
seja pelas letras panfletárias, seja
pelo desencontro do grande instrumentista brasileiro com as
arestas da música e com a juventude que ele tanto ama. O que não
falta é inquietude, e dessa árvore
ainda pode vir sombra boa.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Estação da Luz
Artista: Sérgio Dias
Lançamento: Ouver
Quanto: R$ 25, em média
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