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MÚSICA
Mercado de Peixe, de Bauru, que mescla som tradicional paulista com ritmos atuais, faz show do disco "Roça Elétrica"
Grupo tenta afirmação do "pós-caipira"
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Após ter despertado curiosidade
no ano passado pela proposta de
unir sons regionais do interior
paulista com ritmos atuais, o pós-caipira chega ao seu momento de
afirmação dentro do cenário musical brasileiro.
O bauruense Mercado de Peixe,
um dos grupos artíficies do movimento, lança "Roça Elétrica", seu
primeiro CD por uma gravadora
-a independente Atração-, que
também serve de mote para um
show hoje no Sesc Pompéia.
Batizados pelo antropólogo
Hermano Vianna (autor do texto
"Caipira Hoje", defendido pelas
bandas), os pós-caipiras aspiram
ao mesmo nível de consistência e
alcance logrado pelo mangue beat
em meados da década passada.
No entanto, os grupos paulistas
hoje se deparam com um mercado fonográfico nada amistoso, se
comparado com o que fora ofertado aos seus pares pernambucanos
-à época, Chico Science e Nação
Zumbi foram contratados pela gigante Sony e mundo livre, pelo
Banguela, extinto selo que era afiliado à Warner. Ou seja, será preciso criatividade para divulgar a
lavra dos pós-caipiras.
"Espaço tem, muita gente do
mangue beat ainda continua por
aí e, de certa forma, estabelecida. E
estamos recebendo uma boa resposta do público, que elogia essa
recuperação da cultura caipira.
Era algo, como o próprio Hermano escreve no texto, que já estava
no ar, alguém acabaria levando
adiante essa proposta. Que também se estende a outros campos.
O [estilista] Alexandre Herchcovitch, por exemplo, chegou a fazer
um desfile que remetia ao caipira", diz Ricardo Fela, percussionista do Mercado de Peixe.
"Também é preciso haver mais
organização no movimento, mais
pesquisa sobre a história do interior de São Paulo. Mas a idéia
principal é falar do nosso tempo
de uma forma que remeta ao passado. Não tem essa de resgate. É ir
para frente, usando o que o passado já deixou", complementa.
Enquanto os pós-caipiras se organizam, o Mercado de Peixe trata
de deixar seus próprios sulcos no
cenário. "Roça Elétrica" não apenas avizinha violas e batidas eletrônicas, mas a temática de suas
letras, como em "Brasil Novo",
transmite o ambiente de uma cidade interiorana e seus personagens. Vinhetas citam o sociólogo
Cornélio Pires (1884-1958), batalhador da causa caipira no país e já
eleito patrono do movimento.
A tradição, aliás, se divide em relação aos conceitos dos pós-caipiras. Para Rosa Nepomuceno, autora do livro "Música Caipira - Da
Roça ao Rodeio", "o importante é
que eles [os pós-caipiras] trabalhem essa herança. E cada tempo
trabalha suas heranças com sua
própria linguagem. O fundamental é não ficar esquecido".
Inezita Barroso, apresentadora
do programa "Viola, Minha Viola" -há quase 25 anos no ar- diz
ser necessário "ouvir a coisa pura.
A parte velha merece respeito.
Não queira modernizar o que já é
bonito assim". Mesmo com a reprovação musical, Fela diz que é
desejo da banda participar de uma
edição do "Viola". E Inezita não
descarta de início, mas avisa que
não quer saber de modernidade:
"Tem que ser só com a viola".
MERCADO DE PEIXE. Show com a banda
de Bauru. Quando: hoje, às 20h30. Onde:
choperia do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93,
tel. 3871-7700). Quanto: de R$ 5 a R$ 10.
ROÇA ELÉTRICA. Lançamento: Atração.
Quanto: R$ 25, em média.
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