São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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MÚSICA

Mercado de Peixe, de Bauru, que mescla som tradicional paulista com ritmos atuais, faz show do disco "Roça Elétrica"

Grupo tenta afirmação do "pós-caipira"

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Após ter despertado curiosidade no ano passado pela proposta de unir sons regionais do interior paulista com ritmos atuais, o pós-caipira chega ao seu momento de afirmação dentro do cenário musical brasileiro.
O bauruense Mercado de Peixe, um dos grupos artíficies do movimento, lança "Roça Elétrica", seu primeiro CD por uma gravadora -a independente Atração-, que também serve de mote para um show hoje no Sesc Pompéia.
Batizados pelo antropólogo Hermano Vianna (autor do texto "Caipira Hoje", defendido pelas bandas), os pós-caipiras aspiram ao mesmo nível de consistência e alcance logrado pelo mangue beat em meados da década passada.
No entanto, os grupos paulistas hoje se deparam com um mercado fonográfico nada amistoso, se comparado com o que fora ofertado aos seus pares pernambucanos -à época, Chico Science e Nação Zumbi foram contratados pela gigante Sony e mundo livre, pelo Banguela, extinto selo que era afiliado à Warner. Ou seja, será preciso criatividade para divulgar a lavra dos pós-caipiras.
"Espaço tem, muita gente do mangue beat ainda continua por aí e, de certa forma, estabelecida. E estamos recebendo uma boa resposta do público, que elogia essa recuperação da cultura caipira. Era algo, como o próprio Hermano escreve no texto, que já estava no ar, alguém acabaria levando adiante essa proposta. Que também se estende a outros campos. O [estilista] Alexandre Herchcovitch, por exemplo, chegou a fazer um desfile que remetia ao caipira", diz Ricardo Fela, percussionista do Mercado de Peixe.
"Também é preciso haver mais organização no movimento, mais pesquisa sobre a história do interior de São Paulo. Mas a idéia principal é falar do nosso tempo de uma forma que remeta ao passado. Não tem essa de resgate. É ir para frente, usando o que o passado já deixou", complementa.
Enquanto os pós-caipiras se organizam, o Mercado de Peixe trata de deixar seus próprios sulcos no cenário. "Roça Elétrica" não apenas avizinha violas e batidas eletrônicas, mas a temática de suas letras, como em "Brasil Novo", transmite o ambiente de uma cidade interiorana e seus personagens. Vinhetas citam o sociólogo Cornélio Pires (1884-1958), batalhador da causa caipira no país e já eleito patrono do movimento.
A tradição, aliás, se divide em relação aos conceitos dos pós-caipiras. Para Rosa Nepomuceno, autora do livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio", "o importante é que eles [os pós-caipiras] trabalhem essa herança. E cada tempo trabalha suas heranças com sua própria linguagem. O fundamental é não ficar esquecido".
Inezita Barroso, apresentadora do programa "Viola, Minha Viola" -há quase 25 anos no ar- diz ser necessário "ouvir a coisa pura. A parte velha merece respeito. Não queira modernizar o que já é bonito assim". Mesmo com a reprovação musical, Fela diz que é desejo da banda participar de uma edição do "Viola". E Inezita não descarta de início, mas avisa que não quer saber de modernidade: "Tem que ser só com a viola".


MERCADO DE PEIXE. Show com a banda de Bauru. Quando: hoje, às 20h30. Onde: choperia do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700). Quanto: de R$ 5 a R$ 10.

ROÇA ELÉTRICA. Lançamento: Atração. Quanto: R$ 25, em média.



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