São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007

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Orquestra celebra Camargo Guarnieri

Com a Experimental de Repertório, pianista Marcelo Brakte é solista de peça do compositor, no auditório Ibirapuera

Programa de amanhã, regido por Paulo Nogueira, traz "Choro para Piano e Orquestra", "Suite Vila Rica" e a "Abertura Festiva"


Luiz Prado - 6.jan.1987/Folha Imagem
O compositor Mozart Camargo Guarnieri, cujo centenário de nascimento é comemorado este ano


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pianista Marcelo Brakte, 46, será amanhã o solista do "Choro para Piano e Orquestra", de Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993), compositor de quem se comemora o centenário de nascimento.
Ele estará acompanhado pela Orquestra Experimental de Repertório, que, com o fechamento para reformas do Teatro Municipal, exibe-se às 11h no auditório Ibirapuera. O programa, regido por Paulo Nogueira, trará também de Guarnieri a "Suite Vila Rica" e a "Abertura Festiva".
Guarnieri volta à programação de outro corpo estável do Municipal, o Coral Paulistano, do qual foi o primeiro regente.
No dia 24 o conjunto se apresenta no auditório do Masp. Em entrevista à Folha, O pianista discorre sobre as dificuldades e particularidades da peça que interpretará.
 

FOLHA - Qual é o diferencial de Guarnieri se comparado aos outros compositores brasileiros?
MARCELO BRAKTE -
Ele tem uma construção de timbres muito interessante. Ele consegue tirar do piano e da orquestra sons que eu nunca havia antes ouvido. São imitações de sons mecânicos ou da natureza.

FOLHA - É algo que ocorre mais nas sonoridades agudas?
BRAKTE -
Não. É a linguagem como um todo que é interessante. Ele contorna os clichês próprios aos instrumentos.

FOLHA - O Guarnieri também é conhecido por um uso muito particular dos ritmos.
BRAKTE -
É algo extremamente difícil. Ele constrói "pegadinhas" para os intérpretes. Ele escreve ritmos deslocados para a orquestra e para o piano. É como se fosse uma perna mais curta que a outra. Mas quando nos acostumamos, é uma delícia interpretá-lo.

FOLHA - O Guarnieri escreve muito no contratempo, como o Stravinsky ou o Prokofiev.
BRAKTE -
Ele faz mais que o Prokofiev. As obras dele são muito "anti-pianísticas". Quando um compositor constrói algo de um jeito que nunca foi escrito para o instrumento, ele está em plena reinvenção. O Stravinsky fez muito disso.

FOLHA - Mas o produto acaba sendo bonito.
BRAKTE -
O produto é maravilhoso. Mas não é de uma dificuldade como a de Rachmaninof, que foi um grande pianista e cuja escrita "cabe dentro da mão". O Guarnieri desenvolvia técnicas que eram alheias ao que se concebia para o piano. Para interpretá-lo, é preciso mergulhar na sua linguagem.

FOLHA - Mas as sinfonias dele também reinventam a orquestra.
BRAKTE -
É o que o compositor tem de qualidade, ao dar um passo a mais.

FOLHA - Você não acha que há um novo consenso de que o Guarnieri não é um "sub" do Villa-Lobos?
BRAKTE -
Ele não deve filiação ao Villa-Lobos. Ele tem uma personalidade própria. Quando tudo se encaixa, sua música tem uma energia explosiva.

FOLHA - Não há também o fato de a Experimental de Repertório, com seus músicos jovens, se prestar a esse experimentalismo?
BRAKTE -
Ela é uma orquestra que se diverte. Os músicos estão abertos. Outras orquestras seriam mais atravancadas nas tradições. Guarnieri é um compositor a ser redescoberto.

FOLHA - A Osesp gravou as seis sinfonias dele.
BRAKTE -
Toda divulgação, por mais intensa, ainda é pouca. Os outros países divulgam bem mais as obras de seus compositores. Fazemos pouco até pelo Villa-Lobos.

FOLHA - Mas os brasileiros conhecem peças para piano e orquestra. Há o Heckel Tavares, por exemplo.
BRAKTE -
Com certeza. Mas o Heckel Tavares não é conhecido fora do Brasil. Os britânicos, franceses ou alemães o desconhecem.

FOLHA - O que há de gravação sua já no forno?
BRAKTE -
Gravei para um CD que está para sair com tangos e valsas mais conhecidos do Ernesto Nazareth. Gravei em novembro. Deve sair no Reino Unido em dois meses.


ORQUESTRA EXPERIMENTAL DE REPERTÓRIO
Onde:
auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, tel. 5908-4290)
Quando: amanhã, às 11h
Quanto: R$ 15


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