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TEATRO
"Aqui Aconteço", espetáculo que reúne 39 poemas e apresenta a vida conturbada da poeta, estréia hoje no CCSP
Orides Fontela sai dos livros para o palco
MARCELLA FRANCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Foi em incursões por prateleiras
de poesia que Orides Fontela
(1940-1998) deu seu primeiro passo em direção aos palcos. Incursões não suas, mas de dois atores
que decidiram, depois de pesquisar sua obra, conduzir seus poemas dos livros ao teatro.
"Aqui Aconteço" é resultado do
trabalho de Suia Legaspe e do diretor Ary França e estréia hoje no
Centro Cultural São Paulo. Sozinha no palco, Suia representa a vida da poeta nascida em São João
da Boa Vista (SP), que foi uma das
mulheres mais polêmicas no
meio acadêmico dos anos 70 e 80.
Orides ganhou fama por seus desafetos, temperamento irascível e
vida conturbada.
"Ela era muito difícil, não tinha
habilidade no trato com os outros. Uma pessoa sem parâmetros
e muitas vezes agressiva", conta
Suia, referindo-se às brigas que a
poeta despertou ao longo da vida
e que lhe renderam o isolamento
social em seus últimos anos.
Cercada de inimizades de um
lado, Orides, no entanto, cobriu
sua obra de admiração vinda de
grandes nomes da literatura, entre eles, Davi Arrigucci Jr., responsável também pelo texto de
abertura de "Aqui Aconteço".
"Quem conhece sua obra se
apaixona", resume Suia. "É de
uma qualidade altíssima, respeitada por pessoas como Antonio
Candido e Augusto Massi."
Sobre a dificuldade de levar
poesia ao teatro, o diretor Ary
França não se intimida: "Não tenho medo. Apesar de saber que
no Brasil lê-se pouca prosa e muito menos poesia, sei que há meios
de tocar o público. Colocamos o
foco no imaginário, para que a
platéia seja estimulada e transforme-se em um "co-autor'".
O espetáculo reúne no palco 39
poemas da autora, desde suas
produções mais longas até os haicais. "Separamos a obra dela por
temas e a encenamos por meio de
um fio condutor. Mas não é nada
declamado, como aqueles espetáculos em que vem uma pessoa,
diz o nome do poema e desata
com os versos", explica Suia.
Passa-se pelas peças sacras
-que lembram o budismo, religião seguida por Orides-, por
aquelas que tratam da palavra, do
cotidiano, pelas memórias e, para
finalizar, faz-se uma volta ao sagrado. "Acredito que cada uma
das fases dela tem seu valor", diz a
atriz. "A que trata do dia-a-dia,
por exemplo, é excepcional, por
mostrar como Orides tinha dificuldade no contato com o real."
A poeta aprovaria a montagem?
O diretor prefere não apostar em
nenhuma reação. "Ela era imprevisível, ciclotímica. Pode ser que
ficasse encantada, mas também
poderia ir ao teatro e começar a
bradar no meio da peça", diz
França. "Melhor não arriscar."
Peça: Aqui Aconteço
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611)
Quando: sex. e sáb., às 21h30; dom., às
20h30. Até 8/4
Quanto: R$ 8
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