São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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"COLE PORTER - ELE NUNCA DISSE..."

Espetáculo de Charles Möeller traz boa música e pouco teatro

KIL ABREU
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Cole Porter - Ele Nunca Disse Que me Amava" pretende tratar não apenas de um tema americano, a vida e obra do notável compositor. Pretende também trazer ao palco certa idéia sobre o musical. Mas cumpre apenas em parte a característica -marcante na cultura americana de espetacularização da vida e estetização da imagem, aqui facilitada pelo caráter biográfico do espetáculo.
Em cena, a vida de Porter (1898-1964) é contada sob o ponto de vista de cinco das mulheres que o acompanharam e uma personagem simbólica, a morte. O formato do espetáculo, despretensioso, não se compromete propriamente com uma dramaturgia e intercala trechos narrativos com números musicais, ao tempo em que desenha, em traços rápidos, a imagem do biografado.
Em um primeiro momento, Porter é o compositor de talento incomum, compulsivo na criação, alegre e fútil nas relações. Em seguida, depois da amputação de uma das pernas devido a um acidente, vem o Cole Porter amargo e solitário.
A direção de Charles Möeller acomoda-se ao esquematismo da narrativa e ao convencionalismo das soluções cênicas. A cenografia, inspirada em Mondrian, tenta uma ambientação "clean", em contraste ao mundo de informações dos detalhados figurinos. O diálogo anuncia-se promissor, mas, no decorrer das cenas, torna-se enfadonho.
Em compensação, "Cole Porter" sustenta-se muito bem naquilo que é essencial ao gênero. A direção musical proporciona ao público o que de melhor o espetáculo oferece. Com um elenco de excelentes intérpretes, Claudio Botelho explora sem receios os diferentes registros vocais, criando uma dinâmica que, tanto nos standards quanto nas canções menos conhecidas, consegue a adesão do público.
Entre as atrizes/intérpretes, não há como não se surpreender com Gottsha (Ethel Merman, a atriz/ cantora favorita) e, sobretudo, com Ivana Domenico (Elsa Maxwell, a melhor amiga), esta revelando extraordinária voz e irresistível talento cômico.
Ignez Vianna é a que consegue firmar melhor o personagem, talvez por desconfiar da sofisticação coquete da mãe do compositor e fazer dela uma figura cativante, apesar da frivolidade.
Por fim, "Cole Porter - Ele Nunca Disse Que me Amava", ao duplicar o já conhecido simulacro do compositor, resulta ótima diversão musical, mas não se preocupa em ser um grande espetáculo de teatro.



Cole Porter - Ele Nunca Disse que me Amava
  
Texto e direção: Charles Möeller
Com: Ada Chaseliov, Alessandra Verney, Gottsha, Ignez Vianna, Ivana Domenico e Stella Maria Rodrigues
Quando: sex. a dom., às 21h. Até 25/3
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quanto: R$ 15 a R$ 40




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