São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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ARTES VISUAIS

Entre Realidade e Ficção reúne obras de 20 jovens artistas na Estação Pinacoteca e discute política cultural

Franceses exploram universo pop e mídia

Divulgação
Instalação "Walt Disney Production 1947-1984", feita em 1984 pelo artista francês Bertrand Lavier


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Christian Boltanski, Sophie Calle e Annette Messager são, atualmente, os nomes franceses mais conhecidos na arte contemporânea. Nenhum deles, entretanto, participa da exposição "Entre Realidade e Ficção", que vai ser aberta amanhã, na Estação Pinacoteca, na região da Luz.
"Nossa idéia foi justamente não mostrar esses artistas que já são conhecidos, mas apresentar outros, até da mesma geração, que não são tão vistos por aqui", conta Ivo Mesquita, curador da mostra, junto a Jean-Marc Prévost, diretor de criação artística do Ministério da Cultura da França.
"Entre Realidade e Ficção" é composta por obras de 20 artistas pertencentes a um só acervo, o Fundo Nacional de Arte Contemporânea (Fnac), que tem origens na tradição republicana iniciada com a Revolução Francesa, em 1789, e criado, em sua primeira configuração, já em 1781.
"Foi nos últimos 25 anos que passamos a ter uma política mais clara de aquisição e de apoio à arte contemporânea", conta Claude Allemand-Cosneau, diretora do Fnac. Segundo Allemand-Cosneau, a instituição tem um orçamento anual de R$ 7,8 milhões (40% das aquisições são dedicadas a artistas não-franceses) e seu acervo possui 70 mil obras.
"É interessante ver como países como a França têm políticas culturais agressivas e competitivas e fortalecem um circuito que busca visibilidade, enquanto no Brasil não há um projeto para essa área", afirma Mesquita.
Entre as missões do Fnac, está o suporte financeiro de artistas em bienais de artes plásticas, o que faz com que esses trabalhos entrem para o acervo público, enquanto no Brasil, mesmo quando trabalhos de artistas são pagos pela Fundação Bienal, com verba pública, eles vão ser vendidos em galerias privadas, em outra distorção do sistema nacional.
"Nós não temos um local para expor essas obras, mas posso dizer que temos obras expostas em todos os museus franceses, algumas emprestadas por longo tempo", diz Allemand-Cosneau.

Política cultural
Com tudo isso, mais do que uma exposição de arte contemporânea, "Entre Realidade e Ficção" se constitui também como a apresentação de uma política cultural, o que se reflete na própria curadoria da mostra. "A idéia é apresentar alguns artistas que estão bem representados na coleção, pois uma de nossas políticas é acompanhar a carreira dos artistas", afirma Prévost.
"Buscamos apresentar três questões bastante recorrentes na arte contemporânea e seus desdobramentos na França", conta Mesquita.
O primeiro tema é a relação com um universo pop marcado pela mídia e o cinema. Nessa seção, estão obras como o conjunto de fotografias realizadas por Bertrand Lavier, que reproduz esquetes de uma revista em quadrinhos de Mickey Mouse, quando ele visita um museu de arte moderna, e o vídeo "Blanche Neige Lucie" (Lucie Branca de Neve), de Pierre Huyghe, o artista francês mais badalado atualmente, com uma entrevista com a locutora do desenho animado de Walt Disney.
O segundo tema é a relação com a cidade, e Huyghe está presente também nesse módulo, com a fotografia de uma ação realizada em Paris, em 1994, quando ele dispôs a imagem dos homens que trabalhavam num canteiro de obras em um outdoor, já que eles não eram vistos por causa de tapumes.
Finalmente, a terceira seção trata dos desdobramentos da pintura na arte contemporânea. "Com a mostra tentamos dizer que não há um olhar francês na arte contemporânea, mas um forte diálogo com a produção atual", diz ainda Mesquita.


Entre Realidade e Ficção
Quando:
abertura amanhã (para convidados), das 19h30 às 22h; de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 28/5
Onde: Estação Pinacoteca (largo General Osório, 66, centro, tel. 3337-0185)
Quanto: R$ 4; grátis aos sábados



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