NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

O programa de "Navegadores", novo espetáculo do grupo Pia Fraus, traz uma sinopse que é bom ler antes para não se deixar confundir. Porque embora sejam "navegadores" os protagonistas, o que dá a entender heróicos exploradores, como o programa admite, a peça é sobre os outros: os "homens comuns".
São aqueles que "também construíram a história, mas não constam dela", no registro algo ingênuo e populista do Pia Fraus. No caso, são dois "anti-heróis" que, apesar de covardes como é próprio de uma dupla de "clowns", terminam passando pelas mesmas gloriosas aventuras dos heróis das lendas ou da história.
Perdem batalhas, lutam para sobreviver, são seduzidos por sereias e enfrentam dragões, até "voam" -com pouca convicção, mas não diferentes, na essência, dos seus colegas de maior fama.
Mas o que torna este "Navegadores" um espetáculo tão gratificante é sobretudo o inusitado da imensa piscina em que acontecem as peripécias dos seus dois marinheiros náufragos.
O público se instala nas arquibancadas e tem diante de si cortinas que lembram um teatro tradicional. Mas aos poucos elas se abrem e revelam água, gigantescos bonecos infláveis, peixes, até mesmo um trapézio -onde acontece uma cena circense tão bem executada que faz os espectadores reagirem como crianças.
Não se pode dizer que a atuação seja inteiramente convincente, nos sete ou mais artistas na água. Mas também não é, com certeza, o que concentra o interesse ou o valor da peça. Passar-se numa piscina pode parecer frívolo, mas garante ao espetáculo uma aura de sonho ou de fábula, que casa bem com o ideal dos navegadores.
Não é uma peça de texto nem de interpretação, mas de quadros de encantamento, o que "Navegadores" alcança plenamente com seus artistas, bonecos, sua imaginação aparentemente sem travas.

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