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"CAÇA AOS RATOS"
Peter Turrini desnuda a decadência
da Reportagem Local
Não é difícil entender por que,
dentre as peças do austríaco Peter
Turrini, "Caça aos Ratos" era a
preferida de Heiner Mueller. Exala um decadentismo, um fim dos
tempos modernos com o qual deve ter se identificado o autor alemão, de cenários próximos -e
igual sarcasmo sobre eles.
O cenário de "Caça aos Ratos" é
um depósito de lixo no qual circulam os ratos que um jovem, às vezes, aparece para matar a tiros. Na
peça, ele leva para lá uma jovem,
para o que mais parece um ritual
de iniciação, em tom de comédia,
ao seu ódio ao consumo.
Os dois se deixam desnudar de
dinheiro, objetos, peruca, dente
postiço, roupas: tudo vira mais lixo, no depósito do consumo. No
final, no ato sexual, eles terminam
caçados como ratos.
Muito curta, parecendo nem alcançar uma hora de apresentação, tal história soa quase como
chiste. Mas tem o seu impacto,
funciona como teatro e como crítica, na tradução carregada de ironias feita por Marcos Renaux.
Funcionaria mais se fossem
mais experientes os atores. Roberto Weigert e Nancy Macedo,
que interpretam o jovem casal,
conhecem bem os seus personagens e parecem dominar o significado da peça, sua alegoria. Mas
suas atuações são inconstantes,
de bons e maus momentos.
Por vezes, a menos de um metro
do público, no desenho dado à sala do Instituto Goethe, a inconstância, até mesmo a insegurança
dos intérpretes se torna gritante.
Por outro lado, tornam-se mais
apreciáveis as passagens em que
eles são tomados pelos personagens, em atuações realistas.
Mas a encenação carrega nas
marcações óbvias, na iluminação
que desperdiça o gelo seco. A cenografia podia tirar bem mais que
papel picado e sacos plásticos, da
sugestão do texto. E o figurino da
jovem ainda é melhor, mas os demais causam estranheza.
(NS)
Avaliação:
Peça: Caça aos Ratos
Texto: Peter Turrini
Tradução: Marcos Renaux
Direção: Julio Góes e Nivio Diegues
Elenco: Nancy Macedo, Roberto
Weigert, Edson Rocha e William Gibson
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Onde: Instituto Goethe (r. Lisboa, 974,
tel. 280-4288)
Quanto: R$ 12
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