São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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O BOM DO DIA
Artista se apresenta hoje em SP
Lisboa volta para tocar pop dos EUA

Lili Martins/Folha Imagem
O músico Nei Lisboa, que se apresenta hoje


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

O "outsider" faz parada em São Paulo. Nei Lisboa, 40, compositor e cantor gaúcho cultuado em círculos restritos, vem mostrar neste fim-de-semana o mais recente produto de uma carreira quase sempre errática.
"Hi-Fi", o disco, foi lançado pela gravadora Paradoxx há cerca de um ano. Gravado ao vivo, em Porto Alegre -onde Nei mora-, só agora chega aos ouvidos de cá, em formato original. Trata-se de trabalho em que Nei, sempre mais notado como autor, abdica da composição e se dedica a interpretar temas do cancioneiro pop norte-americano e inglês.
"São as canções que eu tocava no violão quando terminei o colégio na Califórnia, pensando em voltar ao Brasil e seguir carreira musical." Por isso a capa do disco ostenta a foto do "year book" colegial californiano de Nei, aos 16 anos, em 76. Por isso o repertório, afetivo/ adolescente, inclui releituras suaves de Beatles ("Norwegian Wood"), Rolling Stones ("Ruby Tuesday"), Elton John ("Bennie & The Jets"), Paul Simon ("Fifty Ways to Leave Your Lover"), Bob Marley ("I Shot the Sheriff").
Estaria abdicando da função de compositor? "Comecei a me dedicar à computação gráfica, e a atividade de compositor ficou de lado. Aí veio o "Hi-Fi", nesse modelo diferente. Virei uma Nara Leão de calças."
Ele explica a descrescente exposição, iniciada com um disco independente em 83 e, mais tarde, dois álbuns pela "major" EMI, entre 87 e 88. "Comecei um pouquinho antes do "boom" do rock dos 80. Houve até alguma aproximação estética, mas o rock não é minha formação. Ouvi mais o lado baladeiro americano, e também muito Chico, Gil, Caetano, os nordestinos."
Fala do relativo sumiço após os anos EMI: "Eu tinha um suporte razoável. Poderia ter ganho outra dimensão, não fosse um tropeço individual. Sofri um acidente de automóvel, no qual perdi minha namorada. Gravei o segundo disco na EMI chutando o balde. Tomar as rédeas era a última coisa que me passava pela cabeça". Daí até hoje: "Nem penso mais nisso. É assunto corrente em Porto Alegre, não só comigo. Há uma geração inteira de artistas que por direito poderiam ser nacionalmente conhecidos".
Nei tenta localizar razões não individuais para o fenômeno: "Uma questão de identidade cultural pode fazer parte. Gaúcho é retraído, muito ligado à sua querência, em oposição ao nordestino, que sai muito mais. Aqui ninguém tem tanta disposição assim para dançar, é frio".
Mesmo com todo o isolamento, seu nome ainda circula espontaneamente. Disco novo e show na praça, já prepara CD de volta como compositor, enquanto mira promessas de relançamento de"Carecas da Jamaica" (87) e "Hein?" (88), pela EMI, e de "Amém" (93), pela Paradoxx.


Show: Hi-Fi Artista: Nei Lisboa Onde: Teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 289-0985) Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 20h Quanto: R$ 15

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