PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O que Carlos Reichenbach faz mensalmente na Sessão Dupla do Comodoro, no Cinesesc, é resgatar uma cinefilia livre dos limites deste tal "cinema de arte".
Sua prospecção vem trazendo filmes cults -e malditos- sempre vilipendiados pelo circuito de mostras. Os dois títulos deste mês são de cineastas não muito levados a sério, sobretudo pelo conteúdo erótico de suas obras, Joe D'Amato e Paul Verhoeven. Do primeiro, temos "Buio Omega" (79), e de Verhoeven, "Spetters" (80), seu penúltimo filme rodado na Holanda, em versão integral.
Não foram poucos os pornôs que Joe D'Amato, pseudônimo de Aristide Massaccesi, rodou nos anos 90 que tiveram outras alcunhas nos créditos.
Entre os anos 70 e 80, D'Amato assinou seus grandes títulos: "Emanuelle in America", alguns de época, como o pornô "Calígula, a História Jamais Contada" (82), e o seu melhor filme, segundo Reichenbach, "L'Alcova" (85).
Mas é o drama de terror "Buio Omega" o seu trabalho mais elogiado. Um taxidermista resolve embalsamar a namorada recém-morta para assim desfrutar de mais tempo ao lado da amada. Ainda que a governanta, apaixonada por ele, seja como uma mãe protetora (e incestuosa) do filho, acobertando o gesto extremo do rapaz. Uma belíssima história de amor necrófilo, digna do David Lynch de "Twin Peaks". Talvez tenha sido o erotismo, mais que as cenas de empalhamento, o que tanto chocou as audiências.
Paul Verhoeven é, como D'Amato, outro cineasta que transita além dos gêneros ou mandamentos do cinema. Ele saiu da Holanda em 85 e aportou em Hollywood, dirigindo "Conquista Sangrenta". Rodou em solo americano outros longas, elogiados, como "Robocop" e "O Vingador do Futuro". E criticados, como "Showgirls", obviamente pela irreverência com a qual ele falava sobre a pornografia na América.
"Spetters", rodado no subúrbio de Roterdã, mostra a volatilidade de uma mulher que inflama um entrevero entre três pilotos de motocross. O líder, Rien (Hans von Tongeren), é quem mais cai pela moça. Nesta versão sem cortes, há uma seqüência na qual cinco homens estupram um dos motociclistas, com direito a nu frontal masculino. Há quem ache o cinema de Verhoeven pervertido. O fato é que é grande cinema.