São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Mosteiro de São Bento vive frenesi de restauros

Reformas, que incluem limpeza de murais, são motivadas pela visita do papa

Pontífice verá pinturas que estavam cobertas havia 60 anos; restauradora estima que haja policromias ocultas em 50% da área do mosteiro

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A restauradora Nilva Calixto limpa um crucifixo da capela do abade do mosteiro, onde o papa fará suas orações, em maio


ALVARO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As iniciativas são isoladas, mas as coincidências estão proporcionando ao centro de São Paulo, neste ano, uma fase generosa em termos de recuperação de obras de arte sacra.
Na praça do Patriarca, a Igreja Santo Antônio terminou há pouco o restauro do teto sobre seu altar-mor, com uma das primeiras pinturas coloniais da cidade. Na igreja do convento do largo de São Francisco, estão em andamento trabalhos sobre as pinturas do teto.
Mas é o mosteiro de São Bento que, na expectativa de hospedar o papa Bento 16, vive um verdadeiro frenesi de reformas estruturais e restaurações artísticas. O mais extenso restauro, iniciado há seis meses, acontece nos 300 m2 da capela do colégio, há 20 anos fechada por causa de infiltrações.
A umidade fez desabar grande parte das pinturas murais do monge Thomaz Scheuchl, no estilo de Beuron -a escola alemã de arte sacra que, entre 1870 e 1940, mesclou elementos do cristianismo primitivo, ornamentos bizantinos e cânones geométricos.
Nessa capela, inaugurada em 1937, com teto projetado em madeira entalhada com estrelas, estão sendo limpos e em parte refeitos os rostos e silhuetas de personagens bíblicos. Quatro murais narrando a parábola do filho pródigo, florões com anjos musicistas e 14 pinturas de altar com patriarcas e reis magos sobre folhas de ouro são trabalhados pela restauradora Nilva Calixto.
O espaço é enriquecido por vitrais executados pela extinta Casa Conrado. Nove janelões com figuras diversas agregam milhares de peças em vidro colorido, todas em processo de mapeamento e retirada. As novas peças estão sendo feitas por manufaturas alemãs e a primeira janela remontada ficou em perfeito estado.
Em maio, o papa Bento 16 poderá apreciar apenas os 10% já restaurados da capela do colégio, já que o término da obra está previsto para daqui a três anos. Para tanto, é preciso que continuem sendo destinadas ao mosteiro verbas solicitadas a empresas privadas.
Em todo caso, o papa desfrutará de um luxo cultural inesperado, digno da vocação beneditina de conservação de bens artísticos e culturais. Se as reformas de seus aposentos (no primeiro andar da clausura) não incluem comodidades fora do normal, o pontífice estará cercado de pinturas desconhecidas por qualquer ocupante do mosteiro nos últimos 60 anos.
Desenhados pelos mesmos monges de Beuron que decoraram os atuais prédios do mosteiro (erguidos entre 1910 e 1914), os motivos florais em cobre sobre azul desses quartos estavam cobertos por três camadas de repintura. Nilva Calixto comanda agora uma reestamparia que restituirá o ambiente original. Bem em frente, uma descoberta mais notável deu-se com a reforma do salão de recepções a ser usado pelo papa.
Lembrando cores e motivos pompeanos, belas pinturas beuronianas estavam ocultas por massa branca. A restauradora calcula que cerca de 50% da área do mosteiro guarde, sob caiações, policromias dos anos 1910. Há 17 anos, no restauro da capela particular do abade, Nilva já tinha revelado decorações originais sob camadas grosseiras de tinta.

Para todos
Na grande Basílica, dessa vez não só para o desfrute papal, o tesouro de arte sacra de São Bento, que vem sendo lentamente redivivo, também aproveitou as "obras emergenciais". Com a ajuda de bombeiros, foram descidas de uma trave acima do altar quatro estátuas monumentais em madeira, calvário de autoria do monge Anton Lang, datado de 1921. Antes inteiramente enegrecidas de poluição, suas esculturas de Adão e Eva em atitude de súplica lembram curiosamente o estilo contemporâneo do norte-americano Jeff Koons ou do brasileiro Florian Raiss.
Já restauradas, estão expostas na portaria do mosteiro, ao lado de uma Nossa Senhora e de um São João Evangelista, os próximos na fila da limpeza. No mesmo recinto, podem ser vistos escultura em gesso de São Bento no estilo Beuron, uma Madona alemã em madeira do séc. 19, dois anjos tocheiros paulistas do séc. 18 e um par de florões em madeira do tempo em que a igreja ainda tinha as paredes de barro erguidas em 1650 por índios, sob o comando do bandeirante Fernão Dias.

MOSTEIRO DE SÃO BENTO
Onde:
largo de São Bento, s/n.
Quando: de segunda a sexta, das 8h às 17h; dom., das 10h às 12h.
Quanto: entrada franca (acesso à portaria pela Basílica)


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