São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2007

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Cia. relê Rubem Fonseca e Lima Barreto

"Com Paixão" e "O Cobrador", peças inspiradas em obras da literatura nacional, estréiam na nova sede do grupo Teatro X

DA REPORTAGEM LOCAL

Medo e esperança, lados da moeda no Brasil de hoje, segundo a Companhia Teatro X, motivam seus dois novos espetáculos em São Paulo. Há um pé na literatura do final do século 20, com o conto "O Cobrador", de Rubem Fonseca, e outro na do início do mesmo período, com "Triste Fim de Policarpo Quaresma", romance de Lima Barreto.
A obra de Barreto serve de base para "Com Paixão", peça que Rubens Rewald escreveu nos anos 80. Segundo o diretor Paulo Fabiano, 46, a dramaturgia foi retrabalhada pelos atores sob a perspectiva de Lima Barreto. "Com Paixão" entra em cartaz hoje na nova sede da companhia, um galpão da rua Rui Barbosa, na Bela Vista -- onde antes funcionava uma funilaria, entre os teatros Ágora e o Sérgio Cardoso.
As convicções nacionalistas de Quaresma são como que fundidas às de Augusto da Paz, nessa peça, que trata da noção de pertencimento em uma época em que a melhor saída para as classes mais abastadas era o aeroporto.

Injustiça social
Já "O Cobrador", que estréia na sexta, é conto levado à cena quase integralmente. A concepção realista de Fabiano para o sujeito que, subitamente e de arma em punho, passa a cobrar de tudo e de todos que lhe cruzam o caminho, por sentir-se injustiçado na sociedade, deve contrastar com a montagem da mesma história por Beth Lopes e sua Companhia de Teatro em Quadrinhos, em 1990.
Ao humor e à força imagética do texto, Fabiano e atores entrevêem, também, "uma possível gênese do crime e de uma sociedade do terror". "Em comum, os protagonistas das duas peças enfrentam esquemas opressores a seu redor. Mas, enquanto o Cobrador age sem valores morais, parte para a violência e é uma figura sem esperança, o Policarpo/ Augusto reage com utopia, batalha pela transformação", diz Paulo Fabiano, um dos fundadores do Teatro X, em 1998.
Nos últimos anos, a companhia busca estruturas narrativas que tenham a urbanidade como pano de fundo.
Outras formas de desigualdade são questionadas em "Delicadeza", a partir de hoje no Espaço dos Satyros Dois. O diretor Marcos Loureiro encena o texto de João Fábio Cabral, projeto do grupo Kuringa.
Seis jovens de várias classes sociais fazem da cidade um território de intolerâncias. Conforme o autor, a peça propõe o caminho inverso da delicadeza, em que falta de respeito e de educação são ainda mais latentes diante de diferenças de raça, religião, sexualidade ou classe. (VS)

COM PAIXÃO
Onde: Teatro X (r. Rui Barbosa, 399, tel. 3283-2780)
Quando: estréia hoje, às 21h; qua. e qui., às 21h. Até 26/7
Quanto: R$ 15

O COBRADOR
Onde:
Teatro X
Quando: estréia sex., às 21h; sáb. e dom., às 21h; dom., às 20h. Até 1º/7
Quanto: R$ 20

DELICADEZA
Onde:
Espaço dos Satyros Dois (pça. Franklin Roosevelt, 124, tel. 3258-6345)
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. e sex., às 21h. Até 29/6
Quanto: R$ 10


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