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CONCERTO
O brasileiro Antonio Meneses, radicado na Suíça, apresenta-se hoje e sábado com a Orquestra Sinfônica do Estado
Violoncelista toca "Fantasia" de Villa-Lobos
Divulgação
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Antonio Meneses, que se apresenta com a Osesp, amanhã e sábado |
IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Villa-Lobos é o compositor que
marca o primeiro encontro do
ano entre o público paulistano e o
maior violoncelista brasileiro da
atualidade, Antonio Meneses.
Radicado na Suíça, o pernambucano de 43 anos interpreta
"Fantasia para Violoncelo e Orquestra", de Villa-Lobos, com a
Osesp (Orquestra Sinfônica do
Estado de São Paulo). Com regência de Uri Mayer, o programa é
complementado pela "Abertura
Festival Acadêmico", de Brahms,
e pela "Sinfonia nº 6", de Dvorák.
Villa-Lobos foi uma escolha lógica: no ano passado, Meneses
lançou, pelo selo Auvidis, a gravação da obra integral do compositor para violoncelo e orquestra
(que inclui, além de "Fantasia",
dedicada em 1945 a Serge Kousseviztky, dois concertos), com a Orquestra Sinfônica da Galícia, regida por Víctor Pablo Pérez.
A carreira do violoncelista ganhou um novo impulso a partir
de 98, quando, a convite do pianista Menahem Pressler, ele passou a integrar o mais prestigioso
grupo de câmera da atualidade, o
Beaux Arts Trio.
Além disso, formou um duo
com Pressler: a partir do ano que
vem, a dupla faz uma série de turnês e deve gravar dois discos, um
de peças curtas e outro com as sonatas de Beethoven. De Nova
York, onde se apresentou com o
Beaux Arts Trio, Meneses falou
com exclusividade à Folha.
Folha - A idéia de tocar "Fantasia" com a Osesp foi sua?
Antonio Meneses - Não, em princípio deveríamos tocar o concerto
de Chostakovitch. Mas, depois,
recebi um aviso pedindo música
brasileira. Ofereci "Fantasia" de
Villa-Lobos, porque é uma obra
raramente tocada.
Folha - Por que "Fantasia" e não o
"Concerto Nº 2", de Villa-Lobos?
Meneses - Eu gosto mais de
"Fantasia". Em geral, é uma obra
mais concebida, com a qual tenho
mais afinidade pessoal.
Folha - Por que você escolheu
gravar a integral para violoncelo e
orquestra de Villa-Lobos?
Meneses - Porque eu achava um
absurdo essas obras não terem sido gravadas ... Elas já tinham até
sido gravadas, mas não com a
qualidade que mereciam.
Folha - Mas, quando decidiu fazer
o disco, você tinha tocado essas
obras ao vivo poucas vezes, não?
Meneses - É verdade. O "Concerto nº 1", nunca; as outras, eu
toquei no Brasil quando participei do concurso Villa-Lobos, com
18 anos. E, ao longo desse tempo,
apareceu a chance de tocá-las,
mas muito raramente.
Folha - A qualidade do material
impresso das obras de Villa-Lobos
não costuma ser muito boa. Você
teve problemas com a edição?
Meneses - Sim. Em São Paulo,
inclusive, vou ter de dar uma
olhada na partitura e nas partes
da orquestra, porque eu sei que
faltam várias coisas. De repente,
flautas e clarinetes passam dez
compassos sem tocar e eu sei, pela
redução para violoncelo e piano,
que existe música para ser tocada
nesses compassos. Dependendo
do material, talvez seja necessário
adicionar esses compassos.
Folha - Tirando o "Concerto nº 1",
obra de juventude, você acha que
as outras obras têm condições de
entrar no repertório de violoncelo
e orquestra?
Meneses - Eu acho que sim, deveriam ser mais tocadas. Eu prefiro "Fantasia" e tenho procurado
oferecê-la nos lugares em que vou
tocar. Mas as pessoas parecem
querer ouvir sempre as obras famosas do repertório, como os
concertos de Dvorák e Elgar.
Folha - Como é a escrita de Villa-Lobos para o violoncelo, instrumento que ele chegou a tocar como
músico de orquestra?
Meneses - Vê-se que ele conhecia o instrumento. Porque ele escreve em um grau de dificuldade
relativamente alto e utiliza bem as
qualidades líricas do instrumento, sem deixar de lado a capacidade técnica e de virtuosismo.
Folha - Quando você registrou essas obras, chegou a se inspirar nas
gravações já existentes, de Janos
Starker e Aldo Parisot?
Meneses - A gravação de Parisot
eu conheço há muito tempo, cheguei a ouvir quando era garoto. E
a do Starker, eu ouvi uma ou duas
vezes, na casa de amigos. Mas eu
já sabia o que eu queria fazer com
essas obras, não foi necessário
voltar a essas gravações.
Folha - A impressão que a gente
tem quando ouve o disco é de que
houve uma preocupação muito
grande de respeito ao texto.
Meneses - Sem dúvida, mesmo
que Villa-Lobos fosse um compositor que não marcava muitas coisas na partitura. Às vezes ele escreve "forte" e, nos 40 compassos
seguintes, não escreve mais nada.
Como não dá para tocar o tempo
todo "forte", você tem de tentar
imaginar o que estava passando
pela cabeça dele. E vendo o texto
musical, você pode entender o
que é necessário, as frases, pode
descobrir que não é "forte" o tempo todo, existem ondulações e dinâmicas que são necessárias.
Folha - Você tem interesse em fazer os trios de Villa-Lobos ou as
obras para violoncelo e piano?
Meneses - Tenho muito interesse em tocar as obras para violoncelo e piano, elas são ótimas. Existem não apenas peças curtas, mas
também transcrições e a "Sonata
nº 2". Eu preciso encontrar um
pianista que tenha capacidade
técnica para tocar a sonata e queira fazer as peças curtas.
Concerto: Antonio Meneses (violoncelo) e Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo (Uri Mayer, regente)
Quando: hoje, às 21h; sábado, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/n., tel. 3337-5414)
Quanto: R$ 10 a R$ 30 (pessoas acima de 60 anos e estudantes com carteirinha da UNE e Ubes pagam meia)
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