São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000


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CONCERTO
O brasileiro Antonio Meneses, radicado na Suíça, apresenta-se hoje e sábado com a Orquestra Sinfônica do Estado
Violoncelista toca "Fantasia" de Villa-Lobos

Divulgação
Antonio Meneses, que se apresenta com a Osesp, amanhã e sábado


IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Villa-Lobos é o compositor que marca o primeiro encontro do ano entre o público paulistano e o maior violoncelista brasileiro da atualidade, Antonio Meneses.
Radicado na Suíça, o pernambucano de 43 anos interpreta "Fantasia para Violoncelo e Orquestra", de Villa-Lobos, com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Com regência de Uri Mayer, o programa é complementado pela "Abertura Festival Acadêmico", de Brahms, e pela "Sinfonia nº 6", de Dvorák.
Villa-Lobos foi uma escolha lógica: no ano passado, Meneses lançou, pelo selo Auvidis, a gravação da obra integral do compositor para violoncelo e orquestra (que inclui, além de "Fantasia", dedicada em 1945 a Serge Kousseviztky, dois concertos), com a Orquestra Sinfônica da Galícia, regida por Víctor Pablo Pérez.
A carreira do violoncelista ganhou um novo impulso a partir de 98, quando, a convite do pianista Menahem Pressler, ele passou a integrar o mais prestigioso grupo de câmera da atualidade, o Beaux Arts Trio.
Além disso, formou um duo com Pressler: a partir do ano que vem, a dupla faz uma série de turnês e deve gravar dois discos, um de peças curtas e outro com as sonatas de Beethoven. De Nova York, onde se apresentou com o Beaux Arts Trio, Meneses falou com exclusividade à Folha.

Folha - A idéia de tocar "Fantasia" com a Osesp foi sua?
Antonio Meneses -
Não, em princípio deveríamos tocar o concerto de Chostakovitch. Mas, depois, recebi um aviso pedindo música brasileira. Ofereci "Fantasia" de Villa-Lobos, porque é uma obra raramente tocada.

Folha - Por que "Fantasia" e não o "Concerto Nº 2", de Villa-Lobos?
Meneses -
Eu gosto mais de "Fantasia". Em geral, é uma obra mais concebida, com a qual tenho mais afinidade pessoal.

Folha - Por que você escolheu gravar a integral para violoncelo e orquestra de Villa-Lobos?
Meneses -
Porque eu achava um absurdo essas obras não terem sido gravadas ... Elas já tinham até sido gravadas, mas não com a qualidade que mereciam.

Folha - Mas, quando decidiu fazer o disco, você tinha tocado essas obras ao vivo poucas vezes, não?
Meneses -
É verdade. O "Concerto nº 1", nunca; as outras, eu toquei no Brasil quando participei do concurso Villa-Lobos, com 18 anos. E, ao longo desse tempo, apareceu a chance de tocá-las, mas muito raramente.

Folha - A qualidade do material impresso das obras de Villa-Lobos não costuma ser muito boa. Você teve problemas com a edição?
Meneses -
Sim. Em São Paulo, inclusive, vou ter de dar uma olhada na partitura e nas partes da orquestra, porque eu sei que faltam várias coisas. De repente, flautas e clarinetes passam dez compassos sem tocar e eu sei, pela redução para violoncelo e piano, que existe música para ser tocada nesses compassos. Dependendo do material, talvez seja necessário adicionar esses compassos.

Folha - Tirando o "Concerto nº 1", obra de juventude, você acha que as outras obras têm condições de entrar no repertório de violoncelo e orquestra?
Meneses -
Eu acho que sim, deveriam ser mais tocadas. Eu prefiro "Fantasia" e tenho procurado oferecê-la nos lugares em que vou tocar. Mas as pessoas parecem querer ouvir sempre as obras famosas do repertório, como os concertos de Dvorák e Elgar.

Folha - Como é a escrita de Villa-Lobos para o violoncelo, instrumento que ele chegou a tocar como músico de orquestra?
Meneses -
Vê-se que ele conhecia o instrumento. Porque ele escreve em um grau de dificuldade relativamente alto e utiliza bem as qualidades líricas do instrumento, sem deixar de lado a capacidade técnica e de virtuosismo.

Folha - Quando você registrou essas obras, chegou a se inspirar nas gravações já existentes, de Janos Starker e Aldo Parisot?
Meneses -
A gravação de Parisot eu conheço há muito tempo, cheguei a ouvir quando era garoto. E a do Starker, eu ouvi uma ou duas vezes, na casa de amigos. Mas eu já sabia o que eu queria fazer com essas obras, não foi necessário voltar a essas gravações.

Folha - A impressão que a gente tem quando ouve o disco é de que houve uma preocupação muito grande de respeito ao texto.
Meneses -
Sem dúvida, mesmo que Villa-Lobos fosse um compositor que não marcava muitas coisas na partitura. Às vezes ele escreve "forte" e, nos 40 compassos seguintes, não escreve mais nada. Como não dá para tocar o tempo todo "forte", você tem de tentar imaginar o que estava passando pela cabeça dele. E vendo o texto musical, você pode entender o que é necessário, as frases, pode descobrir que não é "forte" o tempo todo, existem ondulações e dinâmicas que são necessárias.

Folha - Você tem interesse em fazer os trios de Villa-Lobos ou as obras para violoncelo e piano?
Meneses -
Tenho muito interesse em tocar as obras para violoncelo e piano, elas são ótimas. Existem não apenas peças curtas, mas também transcrições e a "Sonata nº 2". Eu preciso encontrar um pianista que tenha capacidade técnica para tocar a sonata e queira fazer as peças curtas.


Concerto: Antonio Meneses (violoncelo) e Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Uri Mayer, regente)
Quando: hoje, às 21h; sábado, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/n., tel. 3337-5414)
Quanto: R$ 10 a R$ 30 (pessoas acima de 60 anos e estudantes com carteirinha da UNE e Ubes pagam meia)


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