|
Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Exposição de gravuras, desenhos e bicos de pena está na Thomas Cohn e tem 34 obras à venda
Solidão escavada por Goeldi é exposta
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
A solidão era seu tema por excelência. Nas pessoas vagando por
ruas desertas e escuras, nos animais abandonados ao destino, em
ambientes pouco acolhedores, se
percebe esse universo sombrio de
Oswaldo Goeldi (1895-1961). Universo que
pode ser conferido, a partir de hoje, na galeria Thomas Cohn.
Entre as 34 obras há até uma
aquarela, rara incursão do artista
carioca na pintura, mas predominam as xilogravuras (gravuras em
base de madeira). Trata-se da coleção pessoal de Oscar Cruz, um
dos sócios da galeria. "Essas obras
eu comprei ao longo de 15 anos.
No começo de forma aleatória e,
depois, substituindo obras menos
importantes, de modo a reunir todas as técnicas e temas com que
ele trabalhou."
A última exposição individual
de Goeldi vista na cidade aconteceu em 1996, na galeria do Sesi. A
mostra "Oswaldo Goeldi, Mestre
Visionário", que trazia 153 gravuras, 54 desenhos e 26 matrizes do
artista, acentuava sua inovação
temática e formal face aos modernistas de exaltado nacionalismo
da primeira metade do século.
Na ocasião, o crítico Marcelo
Coelho escreveu que Goeldi "seria
a exceção à regra; indiferente à cor
local, dava ao drama dos excluídos e dos deserdados uma aura
expressionista, dramática, dostoievskiana", mas ressaltou que
ele não dizia tudo sobre o Brasil.
Na opinião de Oscar Cruz, Goeldi é ainda um artista subvalorizado. Entre os atuais gravuristas
brasileiros, o artista é unanimidade. O paulistano Francisco José
Maringelli, especialista em xilogravura, o considera, junto de Lívio Abramo e Marcelo Grassmann, como referência essencial.
"Ele aclimatou o simbolismo de
Kubin e o expressionismo alemão
à realidade brasileira", afirma
Maringelli. O austríaco Alfred
Kubin foi um dos mestres de
Goeldi, que chegou a editar um livro de gravuras com o propósito
exclusivo de angariar fundos para
ir à Suíça conhecê-lo.
Na exposição da Thomas Cohn
há três gravuras deste livro. Em
uma delas, "Solitário", vê-se um
homem, mãos nos bolsos, síntese
de suas representações do Rio de
Janeiro: casarios, árvores sinuosas
e postes de luz envoltos em clima
melancólico e asfixiante. "Parece
que ele carrega o peso do mundo
nas costas", afirma Cruz.
Logo à entrada da galeria estão
gravuras e desenhos em que Goeldi representou animais, de preferência gatos e tubarões: solitários
por natureza. Em seguida, dois
auto-retratos. Na sala seguinte,
obras relacionadas ao tema da
morte e, no grande salão da Thomas Cohn, cenas urbanas.
O uso de cores pelo artista é peculiar: nunca são cores vibrantes.
"Os tons são rebaixados, ressaltam o ambiente sombrio", explica
Cruz. Para Maringelli, Goeldi era
um pesquisador de harmonias
nas cores. "Ele escavava pouco a
madeira, mas extraía uma plasticidade exuberante", diz.
Exposição: Oswaldo Goeldi
Quando: abertura hoje, das 11h às 14h.
Seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h
às 14h. Até 9/10
Onde: galeria Thomas Cohn (av. Europa,
641, tel. 883-3355)
Preço das obras: R$ 1.000 e R$ 15 mil
Técnicas utilizadas: xilogravuras em
preto e branco, xilogravuras coloridas,
matriz, aquarela, monotipia, desenhos,
crayons e bicos de pena
Próximo Texto: Show: SP tem embalos de sábado hardcore Índice
|