São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Exposição de gravuras, desenhos e bicos de pena está na Thomas Cohn e tem 34 obras à venda
Solidão escavada por Goeldi é exposta

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


A solidão era seu tema por excelência. Nas pessoas vagando por ruas desertas e escuras, nos animais abandonados ao destino, em ambientes pouco acolhedores, se percebe esse universo sombrio de Oswaldo Goeldi (1895-1961). Universo que pode ser conferido, a partir de hoje, na galeria Thomas Cohn.
Entre as 34 obras há até uma aquarela, rara incursão do artista carioca na pintura, mas predominam as xilogravuras (gravuras em base de madeira). Trata-se da coleção pessoal de Oscar Cruz, um dos sócios da galeria. "Essas obras eu comprei ao longo de 15 anos. No começo de forma aleatória e, depois, substituindo obras menos importantes, de modo a reunir todas as técnicas e temas com que ele trabalhou."
A última exposição individual de Goeldi vista na cidade aconteceu em 1996, na galeria do Sesi. A mostra "Oswaldo Goeldi, Mestre Visionário", que trazia 153 gravuras, 54 desenhos e 26 matrizes do artista, acentuava sua inovação temática e formal face aos modernistas de exaltado nacionalismo da primeira metade do século.
Na ocasião, o crítico Marcelo Coelho escreveu que Goeldi "seria a exceção à regra; indiferente à cor local, dava ao drama dos excluídos e dos deserdados uma aura expressionista, dramática, dostoievskiana", mas ressaltou que ele não dizia tudo sobre o Brasil.
Na opinião de Oscar Cruz, Goeldi é ainda um artista subvalorizado. Entre os atuais gravuristas brasileiros, o artista é unanimidade. O paulistano Francisco José Maringelli, especialista em xilogravura, o considera, junto de Lívio Abramo e Marcelo Grassmann, como referência essencial.
"Ele aclimatou o simbolismo de Kubin e o expressionismo alemão à realidade brasileira", afirma Maringelli. O austríaco Alfred Kubin foi um dos mestres de Goeldi, que chegou a editar um livro de gravuras com o propósito exclusivo de angariar fundos para ir à Suíça conhecê-lo.
Na exposição da Thomas Cohn há três gravuras deste livro. Em uma delas, "Solitário", vê-se um homem, mãos nos bolsos, síntese de suas representações do Rio de Janeiro: casarios, árvores sinuosas e postes de luz envoltos em clima melancólico e asfixiante. "Parece que ele carrega o peso do mundo nas costas", afirma Cruz.
Logo à entrada da galeria estão gravuras e desenhos em que Goeldi representou animais, de preferência gatos e tubarões: solitários por natureza. Em seguida, dois auto-retratos. Na sala seguinte, obras relacionadas ao tema da morte e, no grande salão da Thomas Cohn, cenas urbanas.
O uso de cores pelo artista é peculiar: nunca são cores vibrantes. "Os tons são rebaixados, ressaltam o ambiente sombrio", explica Cruz. Para Maringelli, Goeldi era um pesquisador de harmonias nas cores. "Ele escavava pouco a madeira, mas extraía uma plasticidade exuberante", diz.


Exposição: Oswaldo Goeldi Quando: abertura hoje, das 11h às 14h. Seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 14h. Até 9/10 Onde: galeria Thomas Cohn (av. Europa, 641, tel. 883-3355) Preço das obras: R$ 1.000 e R$ 15 mil Técnicas utilizadas: xilogravuras em preto e branco, xilogravuras coloridas, matriz, aquarela, monotipia, desenhos, crayons e bicos de pena


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