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ARTES PLÁSTICAS
Precursor da "body art" no Brasil, o artista já inscreveu o próprio corpo em um salão em 1970
Antonio Manuel promove quebradeira
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
O autor de um dos trabalhos
mais marcantes da última Bienal
-aquela instalação com pedaços
de carvão pendurados em fios de
náilon formando uma constelação- inaugura hoje nova mostra
em São Paulo. Desta vez o artista
carioca Antonio Manuel, 52, vai
derrubar paredes.
Trata-se do prolongamento de
um trabalho que ele expôs no
MAC-Niterói ano passado, em
que construiu no museu paredes
semelhantes às projetadas pelo
arquiteto Oscar Niemeyer para o
edifício e abriu buracos nelas. A
exposição era um passeio por esse
espaço reinventado.
Na galeria Raquel Arnaud, a
idéia inicial era fazer uma interferência parecida, mas, por falta de
tempo, o artista optou por mostrar duas versões em menor escala de suas paredes quebradas.
"São protótipos de uma possibilidade de construção mais ampla",
diz, prevendo novas montagens.
Cor e forma têm nos protótipos
a mesma importância que tinham
no MAC. As pessoas que percorressem o museu no sentido anti-horário viam paredes coloridas, e
quem fizesse o percurso contrário
deparava-se com tijolos aparentes. "Havia o lado estético e o lado
favela", brinca o artista.
As pinturas que Antonio Manuel apresenta na exposição trazem muito dessa lógica. O crítico
Ronaldo Brito sugere uma analogia entre sua arte construtiva e o
equilibrismo arquitetônico das
favelas. As telas têm algo de fachadas urbanas porque são uma busca de ordem e construção.
A trajetória de Antonio Manuel
inclui desde uma parceria em um
parangolé com Hélio Oiticica até
episódios como ter inscrito o próprio corpo em um salão em 1970,
defendendo a "body art" (e ter
desfilado nu na abertura porque
sua "obra" não fora aceita). Tempos depois, expôs no MAM um
bode dentro de um cercadinho,
obra que denominou "bode arte".
Atualmente o artista participa
de uma exposição coletiva no
Queens Museum, em Nova York,
chamada "Global Conceptualism" com uma obra que pode ser
vista como antecessora das atuais
"Ocupações-Descobrimentos".
Trata-se de uma "Urna Quente", caixa que só revela seu interior quando quebrada, apresentada em 68 na famosa manifestação
coletiva no Aterro do Flamengo.
Em 75, criou uma nova, com registro em cartório, prevendo que
seria aberta apenas 30 anos depois. A urna que está em NY, e ele
pretende adiar a abertura.
Exposição: Antonio Manuel
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud
(r. Arthur de Azevedo, 401, tel. 883-6322)
Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex., das
10h às 19h; sáb., das 11h às 14h. Até 4/12
Preço das obras: de US$ 12 mil a US$ 20
mil (telas e esculturas)
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