São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Precursor da "body art" no Brasil, o artista já inscreveu o próprio corpo em um salão em 1970
Antonio Manuel promove quebradeira

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha

O autor de um dos trabalhos mais marcantes da última Bienal -aquela instalação com pedaços de carvão pendurados em fios de náilon formando uma constelação- inaugura hoje nova mostra em São Paulo. Desta vez o artista carioca Antonio Manuel, 52, vai derrubar paredes.
Trata-se do prolongamento de um trabalho que ele expôs no MAC-Niterói ano passado, em que construiu no museu paredes semelhantes às projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o edifício e abriu buracos nelas. A exposição era um passeio por esse espaço reinventado.
Na galeria Raquel Arnaud, a idéia inicial era fazer uma interferência parecida, mas, por falta de tempo, o artista optou por mostrar duas versões em menor escala de suas paredes quebradas. "São protótipos de uma possibilidade de construção mais ampla", diz, prevendo novas montagens.
Cor e forma têm nos protótipos a mesma importância que tinham no MAC. As pessoas que percorressem o museu no sentido anti-horário viam paredes coloridas, e quem fizesse o percurso contrário deparava-se com tijolos aparentes. "Havia o lado estético e o lado favela", brinca o artista.
As pinturas que Antonio Manuel apresenta na exposição trazem muito dessa lógica. O crítico Ronaldo Brito sugere uma analogia entre sua arte construtiva e o equilibrismo arquitetônico das favelas. As telas têm algo de fachadas urbanas porque são uma busca de ordem e construção.
A trajetória de Antonio Manuel inclui desde uma parceria em um parangolé com Hélio Oiticica até episódios como ter inscrito o próprio corpo em um salão em 1970, defendendo a "body art" (e ter desfilado nu na abertura porque sua "obra" não fora aceita). Tempos depois, expôs no MAM um bode dentro de um cercadinho, obra que denominou "bode arte".
Atualmente o artista participa de uma exposição coletiva no Queens Museum, em Nova York, chamada "Global Conceptualism" com uma obra que pode ser vista como antecessora das atuais "Ocupações-Descobrimentos".
Trata-se de uma "Urna Quente", caixa que só revela seu interior quando quebrada, apresentada em 68 na famosa manifestação coletiva no Aterro do Flamengo. Em 75, criou uma nova, com registro em cartório, prevendo que seria aberta apenas 30 anos depois. A urna que está em NY, e ele pretende adiar a abertura.


Exposição: Antonio Manuel Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Arthur de Azevedo, 401, tel. 883-6322) Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h. Até 4/12 Preço das obras: de US$ 12 mil a US$ 20 mil (telas e esculturas)



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