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Farkas compara suas Brasílias
CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha
O fotógrafo húngaro, radicado
no Brasil, Thomas Farkas, 74, voltou a Brasília no ano passado para
realizar uma série de imagens enfocando especialmente os brasilienses. Era trabalho para um calendário, que foi publicado no final de 1998.
Essas fotografias serão expostas, a partir de hoje, na Associação
Brasileira de Designers Gráficos
(ADG), ao lado de imagens que
lhe garantiram, nos anos 60, lugar
cativo no acervo fotográfico do
MoMA de Nova York: as cenas da
construção de Brasília.
"No primeiro dia de Brasília, o
povo subiu nos edifícios da Câmara e do Senado. Muita alegria.
Nunca mais." Assim Farkas comenta uma imagem do livro
"Thomas Farkas, Fotógrafo", publicado pela DMB Melhoramentos em 1997.
As imagens da Brasília atual
confirmam o depoimento. Farkas, como se disse, foi à procura
do brasiliense, mas o que se vê são
as colossais criações de Oscar Niemeyer emoldurando o ímpeto do
observador, um "entusiasta da
memória humana", como define
sua índole e seu trabalho.
É que Farkas sempre se relacionou intimamente com o documental, deixando um pouco de
lado outras possibilidades da arte
fotográfica, como a arquitetura
ou o retrato. "Estou mais ligado à
condição humana", conta. "E
Brasília é uma cidade fria somente para quem não a conhece."
Parece difícil desvincular Farkas
de Brasília. Ele mesmo não se esforça para isso, mas, sorte nossa,
essa intimidade nos oferece suporte para uma análise criteriosa
do que foi a euforia sessentista no
país, da qual o monumento-mor
é a distante capital federal, evidência da alegria fátua com que os
políticos tratam de acariciar nosso ânimo no decorrer da curta
história do Brasil "em desenvolvimento", de "país do futuro".
"Lá não tem botecos, não tem
esquinas, as cidades satélites são
como qualquer uma do interior, o
nível de vida é o mais alto do
país", diz Farkas, como legítimo
nostálgico do que não ocorreu.
Mostra: Thomas Farkas
Vernissage: hoje, a partir das 20h; de
seg. a sex., das 10h às 18h
Onde: galeria ADG - sala Thomas Farkas
(r. Cônego Eugênio Leite, 920, tel. 280-1322)
Quanto: entrada franca
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