São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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Farkas compara suas Brasílias

CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha

O fotógrafo húngaro, radicado no Brasil, Thomas Farkas, 74, voltou a Brasília no ano passado para realizar uma série de imagens enfocando especialmente os brasilienses. Era trabalho para um calendário, que foi publicado no final de 1998.
Essas fotografias serão expostas, a partir de hoje, na Associação Brasileira de Designers Gráficos (ADG), ao lado de imagens que lhe garantiram, nos anos 60, lugar cativo no acervo fotográfico do MoMA de Nova York: as cenas da construção de Brasília.
"No primeiro dia de Brasília, o povo subiu nos edifícios da Câmara e do Senado. Muita alegria. Nunca mais." Assim Farkas comenta uma imagem do livro "Thomas Farkas, Fotógrafo", publicado pela DMB Melhoramentos em 1997.
As imagens da Brasília atual confirmam o depoimento. Farkas, como se disse, foi à procura do brasiliense, mas o que se vê são as colossais criações de Oscar Niemeyer emoldurando o ímpeto do observador, um "entusiasta da memória humana", como define sua índole e seu trabalho.
É que Farkas sempre se relacionou intimamente com o documental, deixando um pouco de lado outras possibilidades da arte fotográfica, como a arquitetura ou o retrato. "Estou mais ligado à condição humana", conta. "E Brasília é uma cidade fria somente para quem não a conhece."
Parece difícil desvincular Farkas de Brasília. Ele mesmo não se esforça para isso, mas, sorte nossa, essa intimidade nos oferece suporte para uma análise criteriosa do que foi a euforia sessentista no país, da qual o monumento-mor é a distante capital federal, evidência da alegria fátua com que os políticos tratam de acariciar nosso ânimo no decorrer da curta história do Brasil "em desenvolvimento", de "país do futuro".
"Lá não tem botecos, não tem esquinas, as cidades satélites são como qualquer uma do interior, o nível de vida é o mais alto do país", diz Farkas, como legítimo nostálgico do que não ocorreu.


Mostra: Thomas Farkas Vernissage: hoje, a partir das 20h; de seg. a sex., das 10h às 18h Onde: galeria ADG - sala Thomas Farkas (r. Cônego Eugênio Leite, 920, tel. 280-1322) Quanto: entrada franca


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