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"DA ANTROPOFAGIA A BRASÍLIA - 1920-1950"
Faap exibe trabalhos de arquitetura, pintura, fotografia, entre outros
Mostra constrói imagem da modernidade
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Que foi nosso modernismo?
O vasto material reunido em
"Da Antropofagia a Brasília
-°1920-1950" constrói uma imagem consistente da cultura oficial
da modernidade entre a Primeira
República e a eleição democrática
de Juscelino Kubitschek.
A exposição divide-se por décadas. A curadoria abarca artes
plásticas, literatura, arquitetura,
música, fotografia, cinema e presenças estrangeiras.
Cada sala coordena diversas mídias, embora as trilhas sonoras
dos núcleos interfiram uma na
outra.
O período abordado coincide
com a adoção da vanguarda como
estética oficial do Estado desde a
Revolução de 1930.
Começa com o grupo ligado à
Semana de 22, que, durante as décadas seguintes, dominará os
principais postos da cultura pública nacional, culminando com a
edificação da capital que nos governa hoje.
Vários clássicos das artes plásticas podem ser apreciados. Logo
de início, vemos as musas da Belle
Époque paulistana: aqui, Anita
Malfatti com o "Estudo para a Boba" (1915-16), ali, Tarsila do Amaral com o "Abaporu" (1928), que
foi arrematado em um leilão pelo
argentino Eduardo Costantini,
por US$ 1,3 milhão.
Portinari
Contudo, a década de 30 dá início às grandes empreitadas do
modernismo hegemônico. Cândido Portinari representa a pluralidade das soluções pesquisadas
durante a fértil aliança com a modernização do Brasil pelos anos
seguintes.
O artista, natural da cidade de
Brodósqui, retrata desde o "Capataz", que assemelha homem a coluna monumental, até as duas
"Marias" (1936), que se postam
em árida paisagem ocre contra
um vento incessante.
A arquitetura mereceu destaque. Em torno à maquete do Ministério da Saúde e Educação
(1937-1945), por Le Corbusier,
Lúcio Costa e Oscar Niemeyer,
vemos registros de outros edifícios e parques que adensavam a
conceituação nacional do espaço
projetado.
O encerramento da mostra consagra a aliança entre urbanismo e
abstração.
Lado a lado, mostram-se projetos selecionados para o concurso
público da edificação de Brasília
(1956-1957) e a geometria construtiva das fotos de Geraldo de
Barros (1949-1951).
Irracional
Entretanto, o irracional acompanha todo o percurso. Nossa
modernidade é dialética: desde o
"Andrógino", de Ismael Nery, até
as fotocolagens (1949), de Guignard, o surrealismo garante a presença do inesperado ao lado do
esclarecimento.
A permeabilidade da cultura
nacional modernista aos experimentos da desrazão sintetiza-se
com Vicente do Rego Monteiro.
Frente a frente estão o painel
fantasioso "Eu Vi o Mundo e ele
Começava no Recife" (1926-29) e
a aquarela do Engenho Noruega,
que serviu de ilustração para as
sucessivas edições do livro "Casa-Grande e Senzala" (1933), de Gilberto Freyre.
A sexualidade desregrada e a invenção de formas de vida originais refletem-se na elaboração da
brasilidade.
A mostra evidencia a coexistência de estilos diversos entre colaboradores. Reflete a capacidade
de lidar com pontos de vista divergentes. Sobretudo, trata uma
cultura moderna, que acompanhou o país para sua primeira experiência democrática.
Da Antropofagia a Brasília - 1920-1950
Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap
(r. Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 3662-7198)
Quando: de terça a sexta, das 10h às
20h; sábado e domingo, das 13h às 18h;
até 2/3
Quanto: entrada franca
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