São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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"DA ANTROPOFAGIA A BRASÍLIA - 1920-1950"

Faap exibe trabalhos de arquitetura, pintura, fotografia, entre outros

Mostra constrói imagem da modernidade

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Que foi nosso modernismo? O vasto material reunido em "Da Antropofagia a Brasília -°1920-1950" constrói uma imagem consistente da cultura oficial da modernidade entre a Primeira República e a eleição democrática de Juscelino Kubitschek.
A exposição divide-se por décadas. A curadoria abarca artes plásticas, literatura, arquitetura, música, fotografia, cinema e presenças estrangeiras.
Cada sala coordena diversas mídias, embora as trilhas sonoras dos núcleos interfiram uma na outra.
O período abordado coincide com a adoção da vanguarda como estética oficial do Estado desde a Revolução de 1930.
Começa com o grupo ligado à Semana de 22, que, durante as décadas seguintes, dominará os principais postos da cultura pública nacional, culminando com a edificação da capital que nos governa hoje.
Vários clássicos das artes plásticas podem ser apreciados. Logo de início, vemos as musas da Belle Époque paulistana: aqui, Anita Malfatti com o "Estudo para a Boba" (1915-16), ali, Tarsila do Amaral com o "Abaporu" (1928), que foi arrematado em um leilão pelo argentino Eduardo Costantini, por US$ 1,3 milhão.

Portinari
Contudo, a década de 30 dá início às grandes empreitadas do modernismo hegemônico. Cândido Portinari representa a pluralidade das soluções pesquisadas durante a fértil aliança com a modernização do Brasil pelos anos seguintes.
O artista, natural da cidade de Brodósqui, retrata desde o "Capataz", que assemelha homem a coluna monumental, até as duas "Marias" (1936), que se postam em árida paisagem ocre contra um vento incessante.
A arquitetura mereceu destaque. Em torno à maquete do Ministério da Saúde e Educação (1937-1945), por Le Corbusier, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, vemos registros de outros edifícios e parques que adensavam a conceituação nacional do espaço projetado.
O encerramento da mostra consagra a aliança entre urbanismo e abstração.
Lado a lado, mostram-se projetos selecionados para o concurso público da edificação de Brasília (1956-1957) e a geometria construtiva das fotos de Geraldo de Barros (1949-1951).

Irracional
Entretanto, o irracional acompanha todo o percurso. Nossa modernidade é dialética: desde o "Andrógino", de Ismael Nery, até as fotocolagens (1949), de Guignard, o surrealismo garante a presença do inesperado ao lado do esclarecimento.
A permeabilidade da cultura nacional modernista aos experimentos da desrazão sintetiza-se com Vicente do Rego Monteiro.
Frente a frente estão o painel fantasioso "Eu Vi o Mundo e ele Começava no Recife" (1926-29) e a aquarela do Engenho Noruega, que serviu de ilustração para as sucessivas edições do livro "Casa-Grande e Senzala" (1933), de Gilberto Freyre.
A sexualidade desregrada e a invenção de formas de vida originais refletem-se na elaboração da brasilidade.
A mostra evidencia a coexistência de estilos diversos entre colaboradores. Reflete a capacidade de lidar com pontos de vista divergentes. Sobretudo, trata uma cultura moderna, que acompanhou o país para sua primeira experiência democrática.

Da Antropofagia a Brasília - 1920-1950



    
Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 3662-7198)
Quando: de terça a sexta, das 10h às 20h; sábado e domingo, das 13h às 18h; até 2/3
Quanto: entrada franca



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