São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Paulistana apresenta 11 esculturas em bronze em exposição a partir de hoje na galeria André Millan

Flávia Ribeiro lapida formas redondas

Divulgação
"Lestia", da artista plástica Flávia Ribeiro; o nome da obra é inspirado nas idéias dos pitagóricos que acreditavam que os corpos celestes giravam em torno do fogo


DA REPORTAGEM LOCAL

"Tudo o que é redondo convida à carícia", escreveu o filósofo francês Gaston Bachelard. A partir dessa idéia, a artista plástica Flávia Ribeiro criou a mostra com 11 esculturas que é inaugurada hoje, na qual formas arredondadas dominam o espaço.
Essas esculturas inauguram, de forma dupla, uma nova fase na carreira da artista: pela primeira vez, não há obras nas paredes da galeria onde Ribeiro expõe, e o material utilizado é o cobre. "Já trabalhei com resina, papel, estanho, mas creio que a obra é sempre a mesma, apesar dos diferentes suportes. Isso me lembra da formulação de Borges, que dizia que o poeta passa a vida inteira escrevendo o mesmo poema", afirma a artista.
Essa continuidade em sua obra é representada pela maneira que se utiliza de formas orgânicas. "Meus modelos são sempre folhas, flores, frutas, galhos, e isso tem uma influência direta na obra", diz.
A partir desse modelos, Ribeiro alcança resultados que vão além da mera representação: suas obras criam uma espécie de mínimo múltiplo comum de seus temas, numa espécie de busca pela flor ideal, por exemplo. "Trabalho com a idéia de um olhar obsessivo, como se estivesse dissecando os objetos que uso como inspiração, revelando, assim, suas estruturas básicas."
Na nova série, essa pesquisa passa a retratar uma camada até mesmo inferior às aparências, como se utilizasse um microscópio para revelar agora estruturas moleculares das matérias. Essa visão se mostra consciente por parte da artista nos nomes que escolheu para algumas das obras apresentadas: "Linha Atômica", "Linha Atômica Variável" ou "Atômico" reforçam essa tese.
Nesse universo atômico, contrastes são a tônica: em "Lestia", escultura reproduzida acima, 79 esferas de distintos formatos estão unidas por uma fita de veludo laranja. "Enquanto o veludo reforça a idéia de sensualidade, o bronze escurecido é gélido", diz Ribeiro. Há ainda esculturas douradas e outras pretas, as primeiras produzindo reflexo e as demais introjetando luz.
As 11 esculturas, a maioria construída por pequenos agrupamentos, fazem com que trafegar pela galeria se transforme num ato de desbravamento de microcosmos ou, como afirma o crítico Paulo Sergio Duarte no catálogo da mostra, espaços de "repouso em movimento".
A partir do próximo dia 20, Ribeiro concede a primeira aula de uma série de 14, sempre às sextas-feiras, de um curso de desenho no Instituto Tomie Ohtake, organizado pelo curador Agnaldo Farias. Interessados podem obter mais informações pelo tel. 6844-2471. (FABIO CYPRIANO)


FLÁVIA RIBEIRO. Mostra com 11 esculturas da artista plástica paulistana. Onde: galeria André Millan (r. Rio Preto, 63, Jardins, tel. 3062-5722). Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h. Até 9/ 10. Quanto: entrada franca; obras de R$ 5.000 a R$ 45 mil



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