INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É uma experiência que quase todos nós, seres urbanos, experimentamos ao longo da vida, essa que propõe a diretora Ursula Meier em "Home": o súbito encolhimento dos espaços, a opressão por forças incontroláveis, talvez desconhecidas, e a decorrente perda de controle sobre o próprio destino.
É assim que acontece com a família de Marthe (Isabelle Huppert) e Michel (Olivier Gourmet). Uma família modesta, mas que desfruta de um soberbo quintal: um trecho de autoestrada abandonado. Ali o pequeno Julien brinca de skate, Judith torra ao sol, Marion curte seus medos -ou seja, os filhos do casal se divertem.
Isso até que um dia as máquinas e seus operários apareçam, e a paisagem aberta, com jeito de tela de Van Gogh, seja maculada por um implacável "guard rail". O horizonte fecha-se, o que é apenas um prefácio do que virá a seguir: a estrada em funcionamento. Com isso, o que era uma ameaça simbolizada pelo espaço opressivo transfere-se para a experiência cotidiana, prometendo à família uma existência em tudo e por tudo infernal.
O fã de cinema pode reclamar que "Home", por vezes, lembra certas duvidosas instalações de arte contemporânea em que somos convidados a pisar na terra, por exemplo, para ter a sensação de pisar... na terra. O outro nome da coisa é tautologia. Mas, se existe algo para compensar essa fraqueza, essa é, primeiro, um sentido pertinente da escansão, que permite ao espectador partilhar da crescente agonia da família.
E, segundo, uma adequada direção de atores, onde todo o brilho cabe, evidentemente, a Huppert. O papel é feito para que ela se mostre notável. Ela não faz outra coisa.